Política
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)
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Sentado diante do seu
"bureau-ministre" coberto de telegramas e cartas, que lhe chegam, a
todo momento, de toda parte do país, o grande chefe nacional dá audiência aos
amigos. A situação do partido é, em toda a República, a mais lisonjeira, e é
com a alegria no rosto e o orgulho no coração que ele recebe, um a um, como
portadores de boas-novas, o enxame dos políticos correligionários.
As eleições para renovação da
Câmara e recomposição do Senado haviam atemorizado um pouco o terrível
politiqueiro indígena, pondo em perigo a sua poderosa máquina eleitoral. De tal
modo havia ele, porém, se conduzido, sacrificando amigos e contemporizando com
certos adversários, que emergia, agora, vitorioso, forte, insolente, como um
homem que não transigiu um palmo e a todos esmagou pelo caminho.
Feliz e forte, ouve ele,
embalando-se na cadeira de mola, as informações que lhe são carregadas pelo
formigueiro que lhe mantém o prestigio formidável, quando entra no escritório,
com familiaridade, um amigo particular. É um antigo senador afastado das lides
partidárias, um velho companheiro que preferiu gozar em sossego os proventos da
sua advocacia administrativa, um homem tornado independente e conhecedor do
mundo, e que goza, por isso, de considerações especiais.
— Tu, por aqui? — exclama o chefe
poderoso, arrancando o charuto caro e enorme da grande boca servida de dentes
rígidos, sólidos, brutais, de antigo estraçalhador de carnes humanas.
O outro senta-se, abrindo um
parênteses de intimidade na seriação de baixezas, de humilhações, de frases
covardes, ouvidas pelo velho político naquele dia de audiências; e, a certa
altura, entra no assunto que motivara a visita.
— O que me traz aqui — explica —
é a situação do Belarmino; ele precisa entrar para a Câmara, e é indispensável
que você o auxilie.
O grande chefe, habituado às
incidências, aos sofismas, às expressões dúbias, balança a cadeira, lança para
o teto uma nuvem de fumaça do seu charuto de sessenta mil réis a dúzia, e
observa:
— Creio que não há nada contra
ele...
E após um ligeiro silêncio:
— A votação não foi boa?
— Foi. Quinhentos e oitenta votos
sobre o seu competidor.
— As mesas não funcionaram com
regularidade?
— Perfeitamente.
— Houve protesto dos fiscais?
— Não.
— Eles não assinaram os boletins?
— Assinaram.
O chefe põe os olhos nos olhos do
antigo companheiro, como a perguntar onde estava, então, a razão do seu temor,
do seu susto, do receio de que o seu protegido seja sacrificado, e este
esclarece:
— Há, porém, uma coisa.
O outro inquire com os olhos.
— Ele é casado com uma mulher
feia como um bicho!
A essa informação a fisionomia do
velho chefe, que se mostrara, até então, satisfeita, risonha, jovial, muda de
expressão. Três rugas fortes, pronunciadas, profundas, cortam-lhe a testa
perpendicularmente, unindo a cabeleira às sobrancelhas de cerda. E, após um
instante, compreensivo:
— Homem, isso, agora, foi o
diabo!
E, aborrecido, como quem tem a
certeza de que perdeu um deputado:
— Enfim, vamos ver...
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