5/06/2018

Bulhão Pato - Aspectos biográficos



Bulhão Pato - Aspectos biográficos
Texto publicado originalmente na revista "Lusitânia", em edição de 1929. Transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2018)
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Era um bom, um justo e um santo, além de um espírito cultíssimo e de uma imaginação fecunda.

Foi o último a desaparecer de uma brilhante plêiade de românticos, a que pertenceram João Lemos, Mendes Leal, Soares de Passos, Gomes de Amorim e muitos outros que tanto se salientaram nessa escola que dominou por longos anos em todos os centros cultos da Europa e da América.

Bulhão Pato foi também revolucionário combatente, servindo de armas na mão contra as prepotências e tiranias do seu tempo, nos movimentos políticos de 1847.
É do conhecimento de todos a grande manifestação de simpatia ao ilustre escritor, quando ele e Teófilo Braga se apresentaram no Parlamento Português, como representantes da imprensa, para protestar, por ocasião da ditadura franquista, contra a célebre lei repressiva que tolhia inquisitorialmente a liberdade de escrever. Nesse momento, uma enorme multidão aclamou os dois venerandos cidadãos e o Parlamento recebeu-os com o respeito a que têm direito os homens eminentes, que se impõem a todos, pelas virtudes e pelo saber.
Foi esta a sua última glorificação em vida. Depois, minado pela doença, enfraquecido pela idade, torturado pela miséria, o resto da sua vida foi um caminhar lento e arrastado para o túmulo.
Raimundo de Bulhão Pato, nasceu a 3 de março de 1829, sendo oriundo de uma estirpe ilustre.
Aos 17 anos, já compunha lindos versos, reveladores das suas grandes faculdades de escritor. Formou e educou o seu espírito na convivência de homens como Herculano, Garrett e Rebelo da Silva.

Foi notável também corno orador de assembleias e academias, sendo o seu maior trabalho literário A Paquita, que teve de Alexandre Herculano palavras consagradoras.
Independente da sua obra original, Bulhão Pato foi também um admirável tradutor das obras de Hugo, Shakespeare, Renan, Lamartine, Saint-Pierre e Balzac.
Era um artista e um pensador, que se manifestou com igual brilho, como prosador, contista poeta e orador combativo e erudito.
Bulhão Pato aliava ao seu talento de escol, um belo caráter e uma alma bem formada; e foi apoiado nessas forças que ele suportou, com dignidade, os últimos dias da sua penosa existência.
Revista "Lusitânia", outubro de 1929.

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