7/05/2018

Temas Poéticos: MULHER - II


Mulher!

DARIO GALVÃO
"Ecos e Sombras" (1911)

Rainha, deusa, sol, gritão dementes,
Pajens, artistas, reis embriagados
Pelos cabelos teus aveludados,
Por tuas carnes sãs de amor frementes!

Mas é o império teu sobre os viventes
Maior que b desses numes evocados:
Não há polos na terra enregelados,
Se luz lhes dão tuas pupilas quentes!

E deusa, e sol, então porque chamar-te;
Se és mais do que ambos para o mundo e a arte;
Se mais do que a eles o mortal te quer?!

Quem de volúpia tem os lábios úmidos,
E ofegantes de amor os seios túmidos,
É mais que deusa, chama-se — Mulher!

★★★

À Mulher

MANUEL DE ARRIAGA
“Cantos Sagrados” (1899)

Senhor da Força, nós, o herói lendário,
Da Terra o domador, o sábio, o forte,
Dir-se-ia que juramos ante a morte
Guerra d'irmão a irmão!...
Mais feros do que os tigres, destruímo-nos
A ferro, a fogo, a pólvora, a metralha,
Deixando, pelos campos de batalha,
O sangue, a assolação!...

Mudou agora o Eterno ao mundo a rota
Que há séculos trazia... e novos astros
Despontam no horizonte, e em nossos mastros
Mais rútilos troféus!...
Em vez da guerra truculenta e ímpia,
Impõe-nos por princípio a Paz dos Povos,
Que impávidos demandam mundos novos,
Nova luz, novo Deus!...

Fechado para sempre o férreo ciclo
Da guerra universal, obscuro berço
Do velho mundo bárbaro, inda imerso
Nas lendas dos heróis:
Compete a Ti, Mulher, filha dileta
De Deus, coroar na Terra a grande obra,
Que em fúlgido progresso se desdobra,
À clara luz dos soes!...

Missão mais nobre à vida humana é dado:
Juntar e repartir de muitos modos,
Por cada um de nós, e em prol de todos,
Do bem a eterna luz,
Fazendo com que caiam na nossa alma,
Qual chuva em messe loira e movediça,
Numa missão d'amor e de Justiça,
Os sonhos de Jesus!...

Em vez da Força, amor rege hoje o mundo!
E amor, tomando as galas da Beleza,
As normas de Justiça, a mãe, a deusa
Das novas gerações:
Ao teu celeste influxo, posto à sombra
Da mãe de todos nós, a Humanidade,
A paz será na Terra, e na Verdade
Os nossos corações!...

Beleza e amor, unindo-se, fizeram
Do teu mimoso ser um relicário,
Onde a mão do divino estatuário
Os sonhos seus guardou!...
D'encantos mil, conjunto incomparável!
A Deus já mereceste tal conceito,
Que só do amor divino do teu peito,
A vida confiou!...

Teu lindo rosto, espelho da sua alma,
Transporta-me a ideais de tal apreço,
Que em frente dele extático estremeço,
E ponho-me a cismar:
Se entre as ondas de graça e de beleza,
Que lançam sobre mim seus olhos ternos,
Está ou não oculto a bendizer-nos
De Deus o próprio olhar!...

Tem jus as níveas formas do teu corpo
Ao flácido veludo, à fina seda,
Primor da indústria humana que arremeda
As pétalas da flor!
Rainha! traja mantos d'ouro e púrpura,
A doce pérola, o fúlgido brilhante,
E tudo quanto esplêndido levante
Na Terra o teu amor!

Amor se simboliza num menino,
Dos céus gentil e alado mensageiro,
Trazendo atrás de si, como um cordeiro,
Pacífico leão!
O mágico poder que a fera doma,
A força de que se arma esse inocente
És tu mulher, e a fera obediente
O nosso coração!

Cônscia de Ti, das leis da vida, impera!
E aos pés verás as almas subjugadas!
Tem mais poder que o fio das espadas,
Um riso e olhar dos teus!
Que o teu propício amor, dos céus oriundo,
Nos doure a vida, a ampare, a dulcifique,
Nos faça com que a alma humana fique
Mais próxima de Deus!

★★★

Retrato das mulheres em todas as idades

FRANCISCO JOAQUIM BINGRE

Mulher, de quinze a vinte é fresca rosa;
De vinte, a vinte e cinco é de exp'rimenta.
De vinte cinco a trinta, a graça aumenta:
Ditoso nesta idade quem a goza!

De trinta a trinta e cinco é mal gostosa
Porém, pode passar, com sal, pimenta,
Mas já dos trinta e cinco aos quarenta
Vai-se tornando assaz fastidiosa.

De quarenta e cinco ela é bachareleira,
Fala fanhoso e é já de pouco gabo.
De cinquenta cerrados é santeira!

Aos sessenta este seu retrato acabo:
Menina, moça, velha benzedeira,
Bruxa gogosa, então, leve-a o diabo!

★★★

A Mulher

FAGUNDES VARELA

A mulher sem amor é como o inverno,
Como a luz das antélias no deserto,
Como espinheiro de isoladas fragas,
Como das ondas o caminho incerto.

A mulher sem amor é mancenilha
Das ermas plagas sobre o chão crescida,
Basta-lhe à sombra repousar um’hora
Que seu veneno nos corrompe a vida.

De eivado seio no profundo abismo
Paixões repousam num sudário eterno...
Não há canto nem flor, não há perfumes,
A mulher sem amor é como o inverno.
Su’alma é um alaúde desmontado
Onde embalde o cantor procura um hino;
Flor sem aromas, sensitiva morta,
Batel nas ondas a vagar sem tino.

Mas, se um raio do sol tremendo deixa
Do céu nublado a condensada treva,
A mulher amorosa é mais que um anjo,
É um sopro de Deus que tudo eleva!

Como o árabe ardente e sequioso
Que a tenda deixa pela noite escura
E vai no seio de orvalhado lírio
Lamber a medo a divinal frescura,

O poeta a venera no silêncio,
Bebe o pranto celeste que ela chora,
Ouve-lhe os cantos, lhe perfuma a vida...
 A mulher amorosa é como a aurora.

★★★

A Mulher
(Ao Conselheiro Franklin Dória)

MÚCIO TEIXEIRA
“Poesias e Poemas” (1888)

Quando a Mulher é bela, pode a rosa
Ser comparada à formosura dela;
Nem há na terra coisa mais preciosa
Do que a Mulher, quando a Mulher é bela!

Quando a Mulher é casta, ao vê-la, a gente
Os pensamentos maus pra longe afasta...
E as almas vão, num êxtase eloquente,
Cair-lhe aos pés, quando a Mulher é casta!

Quando a Mulher é boa, irmã ou filha,
Esposa ou Mãe; o pássaro — que voa,
A flor — que aromatiza, a luz — que brilha,
Tudo é melhor, quando a Mulher é boa!

E tu, que vês na esposa virtuosa
Tão peregrinos dons, Bardo! por ela
Vibra constante a cítara gloriosa”
A boa e casta, inteligente e bela!


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