8/07/2018

Bernardo Guimarães – Aspectos Biográficos


Bernardo Guimarães – Aspectos Biográficos

Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (1825-1884) nasceu em Ouro Preto, estudou em seminário e, aos vinte e dois anos, estava na Faculdade de Direito de São Paulo. Ao chegar à Faculdade, já tinha criado o primeiro nó a ser destrinçado pelos biógrafos, pois corria a lenda de haver tomado parte na revolução de 1842, ao lado dos rebeldes liberais, embora o pai fosse conservador.

Como estudante, seus amigos mais próximos são Aureliano Lessa e Álvares de Azevedo. Vida de boêmio; às quartas-feiras, havia a ceia "escolástica", e discursos construídos com palavras inteligíveis, esquemas sintáticos sem congruência semântica. Uma estrofe de amostra:

E o filho dos ermos, do monte rolando, 
Puxou pela faca de grande extensão, 
Caiu como o cisne que toca trombeta 
De ventas no chão.


Colaborou com prosa e verso nas publicações da época e terminou o curso em 1852. Não foi bom aluno, o que ocorre, ainda hoje, com moços de talento, inadaptáveis aos programas quadriculados dos cursos acadêmicos.

Formado, foi juiz em Catalão de Goiás, por duas vezes, fez jornalismo e literatura no Rio. De volta a Catalão, ocorrem situações difíceis; consegue superá-las e retorna à capital. Depois, vai do Rio para Ouro Preto, agora para se casar com D. Teresa, leitora de seus versos. História romântica: Um dia, o cunhado, cirurgião, pediu a Teresa que ficasse vigiando sanguessugas postas numa bacia; ela, enquanto vigiava, abriu um livro de poemas — Cantos da Solidão — embalou-se na música dos versos, e esqueceu o serviço. Então, de brincadeira, o cunhado lhe disse que se continuasse assim distraída, acabaria casando com um labrego. E ela respondeu: — "Isso não, eu hei de casar com o autor deste livro." E assim foi.

Casamento cria obrigações e Bernardo Guimarães precisou de um emprego; o Governo da Província o nomeou Professor de Retórica e Poética no Liceu Mineiro. Ali mesmo em Ouro Preto.

Uma das filhas do casal foi Constança, falecida aos dezessete anos e que ficou na literatura como a musa de Alphonsus de Guimaraens, a que "se morreu fulgente e fria".

Da rebeldia do escritor contra as normas desumanas ou hipócritas da sociedade, dois episódios são sempre lembrados. Em Catalão, ao assumir o cargo de juiz, teve pena dos presos, maltratados, à espera de julgamento; para abreviar-lhes o sofrimento, suprimiu os prazos processuais, convocou onze réus de uma vez a uma sessão de júri, na qual todos foram absolvidos por unanimidade...

O que aconteceu depois, em falação, demissão, exprobração, e outros substantivos verbais de ação, não caberia neste resumo. Melhor passar ao segundo caso.

Aureliano Lessa chegara a Ouro Preto, vindo de Diamantina, cavalgando uma besta, que é nome de mula em Minas Gerais. Hospedou-se em casa de Bernardo, pois a amizade não ficara esquecida sob as arcadas da Faculdade. E foi então que, certo entardecer, um povaréu se juntou em frente à casa do poeta: a besta estava na sacada do sobrado, posta ali para "distrair-se de uma profunda melancolia".

Também se poderia referir certo apressado particular que, levando um requerimento ao juiz, o encontro de violão atravessado ao peito, dedilhando. O particular está apressado, já dissemos, e pede rapidez ao juiz. Rápido, ele despacha, em verso, cantando e acompanhando, ao som do pinho.

Temperamento alegre, com uma tendência irônica, que não era usada só na literatura, mas na vida também, há nos seus romances uma componente naturalista, esbatendo os exageros sentimentais do romantismo e opondo ao idealismo hipertrófico deste, um bom senso e uma sensualidade mais efetiva c realista.

Em Formação da Literatura Brasileira (Livraria Martins, São Paulo), Antônio Cândido define com precisão os romances de Bernardo Guimarães: O Ermitão de Muquém é contado em quatro pousos, por um companheiro de jornada; e quase todos os outros livros não deixam de apresentar essa tonalidade de conversa de rancho. Conversa de bacharel, bastante letrado para florear as descrições e suspender a curiosidade do ouvinte, mas bastante matuto para exprimir fielmente a inspiração do gênio dos lugares."

Para maiores informações a respeito da biografia do autor de A Escrava Isaura, consulte-se Basílio de Magalhães, em Bernardo Guimarães, edição do Anuário do Brasil, 1926, Rio.

M. Cavalcanti Proença

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Fonte:
O Seminarista, por: Bernardo Guimarães. Biografia por: M. Cavalcanti Proença. Editora Tecnoprint. Rio de Janeiro, s/d, págs. 1-3

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