A morte de Luís Delfino
Jornal
“O Pharol”,
quarta-feira, 2 de fevereiro de 1910:
Mais um
grande vulto da literatura nacional acaba de desaparecer: morreu Luís Delfino,
o grande, o extraordinário poeta da Solemnia verbal, Imortalidade
e do Livro de Helena.
Nunca, em Língua
Portuguesa, poeta algum produziu mais do que o morto de anteontem.
Luiz Delfino
dos Santos nasceu a 25 de agosto de 1834, na cidade de Desterro, a atual
Florianópolis, Capital de Santa Catarina, doutorou-se em Medicina pela Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro em 1857. Quando se proclamou a República foi
eleito Senador pelo seu Estado natal.
A política,
porém, não foi de molde prender o alevantado espírito do poeta. Não se demorou
muito a voltar para a sua arte.
Luís Delfino
fazia versos desde Oito anos. No colégio, de calças curtas, versejava. Ao
entrar para a Academia era um poeta extraordinário.
A sua vida
teve nuvens para as nossas letras. Aos vinte e cinco anos, casado e com filhos,
viu que as rimas não lhe davam o pão à família. Deixou a lira e foi clinicar.
Foi um dos primeiros médicos do seu tempo e, nessa vida de ver doentes, passou
trinta. Fez fortuna e, durante trinta anos, não escreveu um verso.
Rico, os
filhos já criados, sem mais preocupações de futuro, recolheu-se à casa e
abraçou-se de novo à lira
É a época
mais extraordinária, a mais espantosa, a mais exuberante do seu grande talento.
Foram sonetos sem conta, poesias de que ele próprio não sabia o número,
poemetos e poemas, que ninguém pôde saber ao certo. Nesse tempo, Luís Delfino
de produziu mais de três mil sonetos.
Colaborou em
grande número de jornais e revistas do Rio e do interior, entre estes no Correio
de Minas e nesta folha, que se orgulha de ter abrigado em suas colunas
produções de alguns de nossos mais ilustres homens de letras.
Luís Delfino
era reputado por muitos como o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Era,
não só o mais fecundo, como o mais velho dos poetas contemporâneos.
O ilustre
poeta era viúvo e deixa cinco filhos, dos quais três senhoras. Era pai do Dr.
Tomás Delfino, ex-senador pelo Distrito Federal, e de nosso prezado colaborador
Aldo Delfino.
Dando
pêsames à família do grande morto, tornamo-los extensivos às letras nacionais,
cobertas do luto com o passamento do extraordinário poeta.
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