Um veado e um sapo queriam
casar com a mesma moça. Para decidirem a questão fizeram uma aposta.
— Temos aqui esta estrada
compridíssima. Vamos correr — propôs o veado. — Quem chegar primeiro, casa com
a moça.
O sapo concordou, e marcaram a
prova para o dia seguinte.
O veado saiu dali dando boas
risadas. Um pobre sapo ter a pretensão de apostar corrida com quem? justamente
com ele, que era o animal de maior velocidade que existe! Ah, ah, ah!...
Mas o sapo usou da esperteza.
Reuniu cem companheiros, aos quais contou o caso, combinando o seguinte: de
distância em distância, à beira da estrada, ficaria escondido um sapo, com
ordem de gritar Gulugubango, bango, lê,
sempre que o veado passasse por ele e cantasse Laculê, laculê, laculê. Enquanto isso, o sapo apostador ficaria, no
maior sossego, esperando o veado no fim da estrada.
Assim foi. Chegada a hora da
corrida, o veado disparou que nem uma bala. Cem metros adiante cantou o Laculê, certo de que o sapo, lá atrás,
nem ouviria. Mas com grande assombro ouviu a resposta adiante dele: Gulugubango, bango, lê.
— Será possível? — pensou
consigo o veado, e deu maior velocidade às canelas. Voou mais cem metros e
cantou: Laculê, laculê, laculê, e
ouviu adiante a resposta: Gulugubango,
bango, lê.
O veado começou a suar frio.
Deu ainda maior velocidade às pernas, avançando mais duzentos metros, rápido
como o relâmpago — e cantou o Laculê.
Mas ouviu pela terceira vez, adiante, o Gulugubango,
bango, lê.
E desse modo até o fim da
estrada, onde, mais morto que vivo, com as pernas a tremerem do grande esforço,
o veado cantou pela última vez, com voz de quem não aguenta mais: Lá... cu... lê... Mas ouviu de novo a
voz descansada do sapo, que respondia, adiante, sossegadamente:
Gulugubango, bango, lê. Fora vencido.
O veado jurou vingar-se. Na
noite do casamento foi ao quintal do sapo e encheu de água fervendo a lagoa
onde ele nadava. Altas horas o sapo teve saudades da lagoa e veio tomar seu
banho. Tchibum! — pulou dentro e
morreu escaldado. O veado, então, muito contente da vida, casou-se com a viúva.
***
— Ora, até que enfim aparece
um veado esperto! — gritou Emília.
— Esperto e perverso — disse
Narizinho. — Bem merecia ser comido pela onça. Pobre sapo!
— Isso não! — contrariou
Pedrinho. — Desde que o sapo logrou o veado, o veado ficou com direito de pagar
na mesma moeda.
— Mas pagou em moeda diferente
— disse a menina. — Se ele se limitasse a enganar o sapo, estava bem. Mas
matou-o. Isso foi crueldade.
— Mas também quem manda sapo
casar com moça? — observou Emília.
— Sá com sá, mó com mó, diz
o ditado.
— Que ditado é esse, Emília?
— Sapo com sapa, moço com
moça. Sapo que encasqueta casar-se com moça, só mesmo cozinhado em água
fervendo.
— E não se casou com ela o
veado?
— Bom, isso é diferente. Veado
é um animalzinho dos mais bonitos. Mas sapo... — e Emília deu uma cuspida de
nojo.
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Notas:
Extraído da obra: Histórias de Tia Nastácia.
Transcrição e atualização ortográfica: Iba Mendes (2018)
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