A PARÓDIA
Epitáfio de uma sogra
(Paródia do soneto"Alma Minha", de Camões)
Sogra minha cruel que
te partiste
Tão tarde desta vida
descontente
Repousa lá no inferno
eternamente
E viva eu cá na terra
nunca triste.
Se lá no escuro
Averno, onde caíste,
Memória desta vida se
consente,
Não te esqueças daquela
raiva ardente
Que já nos olhos meus
tão fera viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma coisa a paz
que me ficou
Da alegria sem nome,
de perder-te,
Roga ao Demo que os
anos te alongou
Que tão tarde de cá
me leve a ver-te
Quão tarde de meus
olhos te levou!
"BIGODINHO"
Revista "Dom Quixote", 1919.
Revista "Dom Quixote", 1919.
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O ORIGINAL
Alma minha
Alma minha gentil,
que te partiste
tão cedo desta vida
descontente,
repousa lá no Céu
eternamente,
e viva eu cá na terra
sempre triste.
Se lá no assento
etéreo, onde subiste,
memória desta vida se
consente,
não te esqueças
daquele amor ardente
que já nos olhos meus
tão puro viste.
E se vires que pode
merecer-te
alguma cousa a dor
que me ficou
da mágoa, sem
remédio, de perder-te,
roga a Deus, que teus
anos encurtou,
que tão cedo de cá me
leve a ver-te,
quão cedo de meus
olhos te levou.
LUÍS DE CAMÕES
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