12/11/2018

Epitáfio de uma sogra (Paródia do soneto"Alma Minha", de Camões)


A PARÓDIA

Epitáfio de uma sogra
(Paródia do soneto"Alma Minha", de Camões)

Sogra minha cruel que te partiste
Tão tarde desta vida descontente
Repousa lá no inferno eternamente
E viva eu cá na terra nunca triste.

Se lá no escuro Averno, onde caíste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquela raiva ardente
Que já nos olhos meus tão fera viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma coisa a paz que me ficou
Da alegria sem nome, de perder-te,

Roga ao Demo que os anos te alongou
Que tão tarde de cá me leve a ver-te
Quão tarde de meus olhos te levou!

"BIGODINHO"
Revista "Dom Quixote", 1919.


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O ORIGINAL

Alma minha

Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.

LUÍS DE CAMÕES

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