1/19/2019

Feijoada (Emilianas)



Feijoada


Emílio de Menezes, de saudosa memória, era um gastrônomo, embora não fosse um glutão.

Ele gostava de pratos finos e de bons vinhos, mas os guisados nacionais, substanciais, não lhe eram indiferentes, apesar da sua saúde não lhe permitir saboreá-los com frequência.

Um dia um pretensioso e tolo, que frequentava a roda do Emílio, encontrou-o de imprevisto em um restaurante do largo do Rocio, a almoçar uma grossa feijoada, com topadas de presunto e linguiça.

O sujeito parou e disse:

— Emílio, deveras você é um intelectual! um poeta! a comer feijoada!

Emílio voltou-se para ele e disse com naturalidade.

— Então você pensa que Deus fez as coisas boas só para os cretinos?...


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Revista Careta, 28 de dezembro de 1918
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)

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