1/23/2019

Temas Poéticos: MÃE - VII

Minha mãe

GUERRA JUNQUEIRO

Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e manso o impávido lebréu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
E a Lua branca, além, por entre as oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu!...
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava e por todos pedia.
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas…
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem Lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!...
………………………………………………
A minha mãe faltou-me era eu pequenino,
Mas da sua piedade o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira
Como junto dum leão um sorriso divino,
Como sobre uma forca um ramo de oliveira.


***

Mamã

ANTÔNIO NOBRE
Ilha da Madeira, 1898.

    Toda a Paz, todo o Amor, toda a Bondade,
    Toda a Ternura que de ti me vêm,
    Amparam-me esta triste mocidade
    Como nos tempos em que tinha Mãe.

    Quanto eu te devo! Ódios, impiedade,
    Indignações e raivas contra alguém,
    Loucuras de rapaz, tédios, vaidade,
    Tudo isso perdi – e ainda bem!

    Salvaste-me! Trouxeste-me a Esperança!
    Nunca ma tires não, linda criança,
    (Linda e tão boa não o farás, talvez!)

    Pois que perder-te, meu amor, agora,
    Ai que desgraça horrível! isso fora
    Perder a minha Mãe, segunda vez.

***

Palavras de minha mãe

OLEGÁRIO MARIANO

Quando, num dia calmo, eu vim ao mundo,
Minha Mãe-santa e nobre Flor de Lis,
Disse, olhando os meus olhos bem no fundo:
– Meu filho! Hás de ser bom e ser feliz!

No decorrer do tempo, na bravia
Onda humana que ruge e se encapela,
Cada cousa de mal que acontecia,
Eu me lembrava das palavras dela,
E era um gozo infinito o que eu sofria.

Hoje, homem feito, a alma de crenças morta,
Colhendo males pelo bem que fiz,
Inda ouço a mesma voz que me conforta,
Sei a sorte que tenho... mas, que importa?
Quero iludir-me para ser feliz.

***

Conselho materno

GALDINO DE CAMPOS
1927

Minha mãe, tão pobrezinha,
coitadinha!
não tem nada para me dar;
cada hora dá-me um beijo,
e depois fica a chorar.

Minha mãe deu-me um tesouro
— não é de ouro,
que ele é pobre e nada tem
mas um conselho materno
é um tesouro também.

— “Escuta, filha querida,
minha vida!" —
cada dia ela me diz.
— Ouve a lição que te ensino,
que não serás infeliz:

Da mulher toda a riqueza
é a pureza!
Ó filha, confia em Deus!
Sê casta e boa, que os anjos
Vão te coroar nos céus.

Tua mãe, tão pobrezinha,
coitadinha!
não tem nada para te dar;
dá-te a lição da virtude,
que te repete a chorar!

***

A minha mãe

ARISTEU SEIXAS
Anuário do Jornal do Brasil, 1928.

Quando em ti penso, mãe, quando
No puro afeto com que a ti me ligas,
Sinto minh'alma cheia do infinito,
Porque é infinito o amor com que me abrigas.

Venço com ele — talismã bendito —
Todas as dores, todas as fadigas;
E à sua sombra confortado habito,
Vendo-te amiga entre as visões amigas.

Brilhas de amor nos sonhos de teu filho,
Onde apareceu pródiga em carinho.
Como em teus sonhos com saudade brilho.

Vive comigo, velas o meu ninho,
E palmilhas os ermos que palmilho,
Iluminando as curvas do caminho.



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