A garça, os peixes e o caranguejo
Certa garça, que morava à
beira de uma lagoa, tornou-se muito velha, e como já não tinha força para
apanhar os peixes, meditou e procurou uma
maneira de se arranjar para comê-los. Um
dia disse aos peixes:
— Tendes notícia da enorme
desgraça que vos vai chegar? Aos homens
tenho ouvido dizer que vão esvaziar a lagoa para apanhar os peixes, fritá-los e
comê-los. Eu sei que perto da montanha há outra lagoa. Com muito prazer levar-vos-ia
lá, mas sou tão velha que dificilmente o poderia fazer.
Os peixes então pediram por favor à
garça que os não deixasse.
— Que seja assim — disse a ave. — Sacrificar-me-ei
por vós, mas como eu não vos posso levar a todos numa vez só, o farei um por
um.
Ficaram muito contentes os
peixes, e para eles só foi questão de passar o primeiro.
— Leva-me a mim! Leva-me a mim!
— gritavam eles.
E a garça começou a viagem.
Apanhou um peixe com o bico, Ievou-o para o campo vizinho e comeu-o. Desta
maneira morreram muitos outros peixes...
Mas naquele próprio lugar
morava um velho caranguejo. Conheceu a intenção da garça e lhe disse:
— Queres libertar-me da
panela dos homens, minha meiga garcinha?
A garça apanhou o caranguejo e
o levou. Quis deixá-lo ao chegar ao campo, mas o caranguejo, ao ver as descarnadas
espinhas dos peixes que o precederam, apertou entre as suas pinças o pescoço da
garça e estrangulou-a. Depois voltou para a lagoa e referiu o acontecimento aos
outros povoadores.
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Pelo Mundo, março de 1927.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pelo Mundo, março de 1927.
Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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