

O FIM DE TODAS AS FLORES
Rosa
era seu nome.
Morava
numa casinha de uma estreita rua do subúrbio de uma pequena cidade. Ali vivia sozinha
com a mãe, viúva de um vendedor de flores, com o qual se casara num belo dia de
primavera e com quem tivera esta única filha.
“Se
chamará Rosa, porque entre as rosas foi gerada”, disse o pai quando ela nasceu.
A
moça, embora de uma simplicidade agreste, chamava a atenção por suas formas
perfeitas, pela extrema delicadeza com que tratava a todos e, principalmente,
por seu peculiar gosto no cultivo de flores. Sua casa era como um pequeno
jardim, onde acácias, anêmonas, cravos, azaleias, lírios, begônias, violetas,
orquídeas, margaridas e rosas, pareciam concorrer com sua própria beleza.
"Ah,
quantas flores!" diziam as moças.
"Ah,
que bela flor!" ecoavam os rapazes.
No
centro desta mesma cidade viviam dois belos e felizes rapazes, ambos ricos,
ambos de igual idade e ambos estudantes de botânica. Eram amigos desde a
infância, morando na mesma praça, onde cresceram juntos e onde conheceram Rosa,
que ali vendia suas flores.
"Ah,
que flor mais bela!" galanteou um.
"Ah,
que flor mais linda!" emendou o outro.
Trocaram
olhares, palavras e sorrisos. Ainda acharam tempo para falar sobre plantas e
flores.
A
amizade entre os dois moços era aquela que resiste aos anos e da qual se pode
dizer que apenas a morte tem o poder de separar. Um era como se fosse a
extensão do outro, tal era a natureza do vínculo afetivo que os unia. Se fossem
irmãos, diriam que provieram da divisão de um mesmo óvulo fecundado.
Com
o correr das estações, a camaradagem entre os três criou raiz, cresceu e
floresceu como as próprias flores. Da amizade frutificou também o amor, e deste
rebentou os espinhos, que fez sangrar os corações dos dois mancebos, os quais
disputavam agora a mesma flor, a mais bela flor, Rosa, a vendedora de flores. A
mútua afeição, outrora tão cultivada entre eles, perdeu o viço, a cor e o
brilho. Murchou enfim. De amigos floridos, inimigos desfolhados.
Ela
então se viu ferida entre abrolhos. Cultivava o amor de um, mas não queria
magoar o coração do outro. Confusa, deixou-se irrigar de tristeza. Com o
decorrer dos dias desistiu das flores e foi vender perfumes. A casa, que dantes
exalava os finíssimos aromas das flores, agora cheirava a Natura.
"Que
fim levaram todas as flores?" perguntava a mãe.
"Que
se passava com a linda Flor?" indagavam os vizinhos, os amigos, perguntavam
todos.
Triste,
recolhia-se ela ao seu quarto sem flores, onde lágrimas caíam-lhe dos olhos
como pétalas que se precipitam no chão na melancolia de um chuvoso outono.
Num
dia desses de lágrimas, quando acabara de acordar de um sono intranquilo,
recebeu a súbita visita de um dos rapazes, aquele por quem nutria maior afeição
e com o qual queria ligar-se para toda a vida. Este lhe declarou amor eterno e
lhe deu de presente um colar de rico diamante. Ela recusou com um gesto. Ele se
retirou com o coração ferido.
O
tempo passava depressa e não desabrochava nela a alegria de viver.
Numa
noite, quando se preparava para se recolher à sua alcova triste e sem flores, ela
recebeu a visita do outro rapaz. Este também lhe declarou amor eterno e lhe
trouxe de presente uma flor, uma exuberante rosa vermelha.
“Uma
rosa para uma Rosa”, disse ele pegando-lhe nas mãos.
Neste
instante os olhos dela brilharam como a aurora de um majestoso verão, as suas
mãos tremeram, o seu coração disparou, seus lábios tocaram os lábios dele.
Então se amaram loucamente, e se uniram num cerimonial de flores, e plantaram
flores, e colheram flores e, por fim, foram cobertos por flores.
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