

O Otimista
Era um leitor
voraz de livros de autoajuda e acreditava que o pensamento positivo podia transformar
o mundo.
“O segredo de
uma vida feliz está na sua mente!” Este era seu mantra diário, o lema que
norteava todas as suas ações e que resumia toda a sua filosofia de vida. Para
ele, o pensamento positivo era como um ímã que atrai as coisas boas. Por isso
nunca se ouvia dele frases do tipo: “estou péssimo”, “a vida é complicada”,
“meu chefe é insuportável”, entre outras de iguais teores. Vigiava-se assim o
tempo todo para não cair na tentação da negatividade.
Toda essa sua
disposição de espírito manifestava-se nas situações mais corriqueiras da vida.
Ao levantar-se abria a janela e dava bom-dia às árvores, saudava os passarinhos
e agradecia aos céus pela luz do sol e pelo aroma das flores. Quando almoçava,
repetia três vezes: obrigado, obrigado, obrigado! Esforçava-se para não se
encher de ira ou qualquer outro sentimento que porventura viesse a desviar sua
mente dos bons pensamentos.
À época, tinha
ele vinte e cinco anos de idade, com boa saúde e uma situação financeira estável,
ganhando o suficiente para sustentar seu otimismo e sua coleção de
best-sellers.
Estava
solteiro, mas apenas provisoriamente, dizia. Várias foram as pretendentes, no
entanto, nenhuma delas fora capaz de satisfazer a seu exigente “teste de
positividade”. Não queria cair nas amarras de uma mulher pessimista, cujos
conceitos destoassem daqueles pelos quais tanto lutou e com os quais pretendia
chegar ao mais elevado “topo do sucesso”. Queria compartilhar seus ideais ao
lado de alguém “que fosse do tamanho dos seus sonhos”, uma companheira que pudesse
despertar ideias otimistas, que estivesse disposta a superar todos os desafios
e que se dispusesse a viver a vida em sua total plenitude.
Entretanto, já
dizia o poeta que, “quem nunca foi ferido zomba das cicatrizes”. O mundo
maravilhoso que construía através da leitura dos consagrados livros de
autoajuda principiou a desmoronar quando perdeu o emprego e caiu em depressão.
As fórmulas prontas, as dicas e os macetes que aprendera e com os quais
acreditava poder superar as procelas da vida pareciam não funcionar ou não
surtiam nenhum efeito. E, para agravar ainda mais a situação, fora acometido de
terríveis hemorroidas, que faziam minar todas as suas forças físicas e mentais.
Com o andar
dos tempos, já muito debilitado física e mentalmente, recorreu à Medicina, com
a qual superou os distúrbios psíquicos e se livrou das tão incômodas veias
dilatadas. Seguidamente vendeu toda a sua coleção de livros e se embrenhou de
vez no ceticismo. Por fim, casou-se com Ana Lúcia, que só queria ser feliz e
ter muitos filhos.
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