A velha das galinhas
— O que é que a mãe faz aí ao
postigo por essa noite adiante?
— Deixem-se lá, filhas, que é
do postigo que as hei de casar.
Passado tempo foi a velha ao palácio
falar à rainha:
— Venho aqui saber se vossa majestade
quer mandar ensinar algumas das suas galinhas a falar?
— Há de ter sua graça! disse a
rainha. Quero, quero.
E mandou-lhe entregar uma dúzia
de galinhas. A velha foi para casa, e uns poucos de dias viveram à tripa larga,
ela e mais as filhas, comendo galinha cosida e assada, frita e fritangada.
Quando se acabaram, tornou a velha ao palácio, e disse à rainha:
— Ai minha rica rainha, tenho
uma paixão de estalar; as galinhas já estavam falando tão claro, que hoje
tencionava vir entregá-las. Quando as estava ajuntando, elas que começam numa
cantarolada:
Có-co-ro-có, cá-ca-ra-cá
A nossa Rainha com o Cabra está.
— Eu ainda as quis calar, mas
as galinhas disseram-me que do seu poleiro bem viram o conde Cabra entrar para
o palácio; eu desesperada fechei-as, e venho saber o que quer vossa majestade
que se faça.
A rainha ficou muito
desesperada, e deu-lhe ordem que fosse logo para casa, e que as matasse, sem
ficar nenhuma, e que não queria mais galinhas que falassem. E deu-lhe muito
dinheiro, para que a mulher não dissesse a ninguém o que tinha acontecido, e
que quando tivesse alguma necessidade viesse a palácio, que a ajudaria. Foi
assim que a velha conseguiu arranjar meio de casar as suas filhas, a quem a
rainha deu muitos bons dotes.
(Algarve)
---
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...