
As barras de ouro

— Tire daí um tição e leve-o.
O rapaz tirou o tição e botou
a correr; ia para acender a sua borralheira, mas o tição apagou-se, e deitou-o
para a banda. Tornou outra vez lá a pedir outro tição; disseram-lhe com a mesma
catadura:
— Tire daí um tição e leve-o.
Aconteceu o mesmo, apagou-se;
teve coragem de tornar outra vez a ir pedir aos carvoeiros, e eles sempre lhe
deram um tição, que se apagou como os outros dois. Nisto ia amanhecendo, os
irmãos acordaram, e o rapaz contou-lhe tudo, e quando os irmãos olharam para os
tições apagados, viram três grossas barras de ouro. Pularam de contentes, e
disseram:
— Deixa estar, que esta noite
um de nós há de ir lá pedir mais tições.
Assim fizeram, e o irmão do
meio trouxe de lá três tições que eram, como já se sabe, três barras de ouro. À
terceira noite foi lá o irmão mais velho, e também pediu os tições, e quando
foi dia viram que eram das mesmas barras de ouro. Ficaram muito ricos e foram
viver para a cidade; disse o mais velho:
— Havemos de mandar fazer um palácio
para morarmos juntos.
Fez-se o palácio, que era
muito rico, e depois de pronto meteram-se dentro. Passou um dia pela porta um
mendigo e pediu-lhes esmola; mandaram-no entrar e deram-lhe de comer. Vai o
velho assim que acaba de comer benzeu-se e começou a dar graças a Deus, e de
repente todo o palácio se desfez como num sonho, e os três irmãos e todos os
que estavam com eles à mesa acharam-se no meio da rua, como se naquele lugar
nunca tivesse sido senão um monte de entulho.
(Arredores do Porto)
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Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)
Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2019)
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