![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH_oz0t19-LTuWVxKqLOvPjVV9_Dugj7PzDo9ZTCXhapU4Rp2qEChWibayZVh3N61dn9tx3aQz4syHcjzCOJPcFudTr2zGu-Gg_U8hXF-SGMM5HLzLttWU3dy0cX4Q_6OO-8nRFJDILs0/s1600/rovedo-taja-trova.jpg)
Garcia
Márquez: poeta, repórter, romancista
“Viver para contar”
(Editora Record - 2003)
(Editora Record - 2003)
Vivir para contarla, part one. Assim poderia se chamar o
livro de memórias de Gabriel Garcia Márquez. Aliás, se você já o conhece das
diversas obras de ficção e reportagens que circulam por aí, prepare-se para
reler tudo de novo, tudo por causa deste livro autobiográfico. Nele Gabo – como
é chamado pelos íntimos – pretende desmemorializar seus primeiros passos como
escritor de reportagens e editoriais – e também a vivência, o entrelaçamento
social, os entraves políticos ou não, em que se viu enredado durante a
juventude, nos primórdios da vida literária. Primeiro como poeta, por
supuesto...
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSPjNtQbtco7hTR-glDOnW2DU423zRBLjLPK77QlycJg_g9XZz9BBWA5ck9xicKztyIycccy6wfYNa-Gg38wEYXIVgIWFEXn31eWx-cwHqbCTF1soNwtR0qEqcpW8NfB5RW2GTBuaB4qOr/s320/gabrirl+garcia+marquez.jpg)
Gabriel Garcia Márquez,
por não conseguir se mostrar igual aos demais autobiografadores, relata esta
parte de sua vida de modo tão confuso quanto suas ficções. “Viver para contar”
não é nem memória nem autobiografia, é uma reportagem sobre o passado. A
história começa não se sabe quando, dá voltas ao seu mundo em oitenta ou mais
dias, circula sobre rodas como um skatista, um calendário einsteiniano...
Nessa volta e meia o
leitor vai sendo absorvido, digerido, assumindo vozes de autor e personagem.
Sem carecer de demônios interiores basta a Gabo discorrer sobre as entidades
vivas – parentes, afins, vizinhos, aderentes – circulam nas casas, nas ruas,
nas igrejas, nos rios, nas cidades eternas, para realizar o tempo passado.
Aracataca é o campo arado, a seara e a colheita.
Durante toda a existência
Gabo foi perseguido por uma congênita timidez. Por isso sempre se saía bem no
jornalismo, em matérias informativas e editoriais feitas coletivamente, ao
abrigo do anonimato. Essa timidez incurável faz com que considere os seus
contos imperfeitos e traz dificuldade de narrar a própria vida existida – que
afinal é a dele mesmo.
O resultado é que algumas
passagens se mostram dúbias, indefinidas, no lusco-fusco, como nas estranhas
ficções do mago colombiano. Nessas relembranças o espaço tempo não obedece a
nenhum ritual senão o da imaginação e resulta que as memórias de Gabo seguem
num zigue-zague perpétuo, assim como vai esta croniqueta. Elucidem-na.
Capítulo a parte merece a
tradução. O espanhol tem sutilezas capazes de atropelar qualquer tradutor mais
distraído. Esta edição, definitivamente feita às pressas, na ânsia de dispor a
obra nas livrarias no ano do lançamento, minou a tradução com traças e
cascalhos, alguns quase invisíveis, outros quase insensíveis. Quem leu a edição
brasileira do inesquecível romance Cem anos de solidão na tradução
impecável de Eliane Zagury, há de concordar que Gabo merecia coisa melhor. O
paradoxo é que essas memórias são imprescindíveis para conhecê-lo. Comprar,
ler... E aguardar a parte II.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...