5/04/2019

Temas Poéticos: MÃE - X


O CANTO DE MINHA MÃE

Mãe!
tu foste embora e me deixaste só.
e eu fiquei a errar, neste mundo, sozinho,
como um traste mesquinho,
inútil como o pó.

Fiquei como um farrapo à toa,
como um inseto daninho,
como um fósforo riscado
que se deixa abandonada
à margem do caminho.

Tu foste embora e me deixaste só.
Quem não tem mãe, não tem ninguém;
é como o pó.

Saudade da luz terna dos teus olhos
embaciadas pelos tormentos
que eu te causei sem querer.
Mãe, eu era pequeno quando te aborreci.

Não te peço perdão
pois toda mãe perdoa
sem que o filho o peça.
Quem foi mãe sempre é mãe;

mas um filho sem mãe é como um trapo inútil
é como um fruto caído,
corno um traste mesquinho,
como um fósforo riscado
que se deixa abandonado
à beira do caminho.

IVAÍ GUIMARÃES
Gazeta de Paraopeba, 9 de abril de 1939.
***

MÃE

Existirem mães,
Isso é um caso sério.
Afirmam que a mãe
Atrapalha tudo,
É fato, ela prende
Os erros da gente,
E era bem melhor
Não existir mãe.

Mas em todo caso
Quando a vida está
Mais dura, mais vida,
Ninguém como a mãe
Pra aguentar a gente
Escondendo a cara
Entre os joelhos dela.
— O que você tem?...
Ela bem sabe
Porém a pergunta
É pra disfarçar.
Você mente muito.
Ela faz que aceita,
E a desgraça vira
Mistério pra dois.
Não vê que uma amante
Nem outra mulher
Entende a verdade
Que a gente confessa
Por trás das mentiras!
Só mesmo uma mãe...
Só mesmo essa dona
Que apesar de ter
A cara raivosa
Do filho entre os seios,
Marcando-lhe a carne,
Sentindo-lhe os cheiros,
Permanece virgem,
E o filho também...
Oh, virgens, perdei-vos,
Pra terdes direito
A essa virgindade
Que só as mães têm!

MÁRIO DE ANDRADE

***

É BONITO SENTIR...

É bonito sentir e ouvir dizer
"vou ver a minha Mãe". A minha Mãe
fez tudo quanto eu sou para vencer
e ter da vida o bem que à vida vem.

Àquele que assim pensa deve ter
os direitos que deve ter alguém.
Sem Mãe, Jesus, nunca podia ser
o amparo do Mundo, a Luz do Bem.

Quando lhe morre um filho a sua dor
não é igual à dor de mais ninguém
porque nasceu do seu divino amor.

Nome de Mãe,— Grandeza de um país.
E quem não a perdeu, se ainda a tem,
é sempre uma pessoa feliz.

ANTÔNIO BOTTO

****

A VOZ DA MINHA MÃE

A voz de minha mãe era tranquila,
Suave, mansa, branda, como um ai.
— Muito ao contrário: A de meu pai
Era voz alta, enérgica, sonora.
— Tremia só de ouvi-la.

A voz de minha mãe era canora.
E além de branda como um ai,
Era simples, bondosa como um sim.
—Muito ao contrário: A de meu pai
Era voz de clarim
Ou de trovão.
Profunda, dominadora
E forte como um não.

Quando minha mãe falava,
Já eu sabia —
Algo de bom naturalmente havia
Que me esperava.
—Muito ao contrário do falar sisudo
Grave e rude
De meu pai: Sempre a lição
Da Experiência.

A vida deu-lhes razão:
Era meu pai —a força.
Era minha mãe — o coração.

CARLOS CHIACCHIO
Fon-Fon, 19 de novembro de 1938.

***

MÃE

Mãe! Minha mãe na doce caridade
Dos teus olho tranquilos radiosos
Ri-se Deus: e se Deus não rir, quem há de
Rir, ó Santa, por olhos tão piedosos?

Como as estrelas pela imensidade,
Desenrolam-se nela os dons formosos
Dessa alma: e, os vejo — mãe — com que saudade!
Com que sabor de beijos lacrimosos!

Pois que a vida me dando, mãe, me deste
Parte da tua, e o teu amor, que enlaça
Meu ser, como uma faixa azul-celeste!

Sei que darias, com um sorriso doce,
Para salvar teu filho da desgraça,
A própria vida se preciso fosse...

LEÔNCIO CORREIA
O Dia, 3 de setembro de 1950.


Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sugestão, críticas e outras coisas...