6/17/2019

O Milagre (Conto), de Pedro Ivo



O Milagre
CAPÍTULO 1
Corre a manhã de um domingo de novembro, frio, triste e chuvoso.
Na única rua da aldeia, formada por meia dúzia de casas térreas, separadas umas das outras pelos muros de vedação de algumas hortas, onde raros pés de couve, queimados pelas geadas, se erguem de entre as ervas parasitas, não transita viva alma.
As únicas criaturas, que vagueiam fora de telhas, são um porco e um frango: o primeiro, na sua marcha tortuosa e indecisa, vai roçando com o focinho quanto encontra no chão, soltando o monótono grunhido que, em língua suína, deve exprimir: "Serve-me", "Não me serve", e o segundo, caminhando em passo presumido, vai vasculhando no lixo o pão de cada dia.
Não se ouve outro ruído, que não seja o das gotas da chuva, que caem das beiras dos telhados. 
Aberta, apenas se vê uma porta.
Entremos.
Eis-nos na tenda do Sr. José... da Tenda.
Não sei se os leitores se têm, como eu, recolhido algumas vezes numa tenda de aldeia, à espera que a chuva passe.
Se têm, conhecem decerto o desconsolo que causa a vista daquele solo composto da lama acarretada pelos tamancos de quatro gerações, o aspecto do balcão negro e ensebado, suando imundície por todos os poros da madeira, com o bordo polido pelo roçar dos fregueses, fartos de escutar pela vigésima vez a história de dois cruzados novos e três moedas de doze falsos, e pregados ao mesmo balcão, como prova da pureza de alma do tendeiro e da perversidade dos homens que não são tendeiros.
E a forma patibular das balanças, cujo fiel, no dizer dos fregueses, prova contra a consciência Ido tendeiro?
E a grade de ripas, fixas ao cabo do balcão, por detrás da qual se veem dois ou três destes copinhos, vulgarmente chamados meios netos, e outros tantos cálices da capacidade dum dedal, flanqueados por duas botijas de genebra e uma garrafa branca, onde se lê: "Licor de canela"?
E o tendeiro?...
E os fregueses?...
Falemos destes e daquele.
Principiemos pelo dono da casa; mas sem gastarmos muito tempo.
Façamos uma espécie de passaporte.
Alto, magro, olhos pequenos, mas vivos, barbas em forma de presilhas, lábios finos, nariz adunco, e, a animar todas estas feições, um raio do que quer que seja, a que talvez se deva chamar alma, que lhe dá um ar de refinado velhaco.
Tem na cabeça um boné tão lustroso de sebo, que parece feito de algum bocado de madeira, arrancada ao já descrito balcão.
O resto do corpo esconde-o ele debaixo de farto capote de dois cabeções, cujo forro, num ou noutro sítio, começa a mostrar-se indiscreto.
Com o queixo fincado no peito e os braços cruzados debaixo do capote, passeia vagaroso de um para outro lado da loja, separados dos fregueses pelo balcão.
Destes estavam, àquela hora, na tenda, apenas quatro.
Três eram, inquestionavelmente, pedreiros, a avaliar pelo sentido da conversa.
O quarto, que também já pela quarta vez fizera encher o cálice de genebra, pertencia com certeza à classe ultimamente vulgar dos contratadores de gado, raça atlética, cujo brio consiste em beber uma canada de vinho verde dum trago ou em quebrar os dentes de um cristão com um murro; fanfarrões de feira, que põem o passo travado ido seu garrano de jornada acima das virtudes domésticas da mulher; que preferem às carícias dos filhos as cruas ferezas dos seus cães de fila; que os amigos da taberna alcunham de francos e alegres, e que as mulheres, em casa, consideram déspotas e rabugentos.
Estava ele erguendo o cálice, para o levar aos lábios, quando o que parecia mais velho dos três pedreiros disse, voltando-se para o dono da casa:
— Então com que, Sr. José, o Manuel da Maria Rita parece que está a acabar?
Parece que sim — respondeu o tendeiro. — Pelo menos o Senhor Cura já hoje o foi ungir.
Pois olhe que era bom rapaz tornou o pedreiro.
— Lá isso era! — entoaram os outros em coro.
— E bom oficial da nossa arte!
— Lá isso era! — repetiu o coro.
— E homem capaz — continuou o velho.
O coro ia proferir pela terceira vez o seu: "Lá isso era!" quando o contratador, que estivera calado até então, bradou, rubro de cólera e dando um murro sobre o balcão:
— Lá isso é que não era!... É um tratante... um caloteiro! Teve dinheiro para se tratar a galinha e para mandar vir o endireita do Porto, em vez de ir para o hospital, e não teve dinheiro para me pagar seis meses do aluguel!... Mas deixa estar! — prosseguiu ele. — Eu vou lá, e ou me paga ou leva-os o Diabo a ele e à mulher!
E arremeteu pela porta fora, brandindo o pau argolado.
Os três companheiros do doente curvaram a cabeça, aterrados provavelmente pela ideia do que um dia lhes viria a acontecer, se, por causa de uma prancha podre, tivessem a infelicidade de cair de um terceiro andar, sem terem a compensação de morrerem imediatamente.
O tendeiro foi o único que falou, rosnando por entre dentes:
— Judeu!...
E tinha razão o Sr. José... da Tenda. Aquilo não fazia ele.
Agora fazia!... Olha quem!... Ele, que, ainda oito dias antes, tinha tomado contado cordão de ouro da mulher do enfermo, só para não ter o desgosto de lhe não continuar a vender... fiado!

CAPÍTULO 2
À hora em que se passava a cena que acabamos de descrever, outra muito diversa tinha lugar numa casinha um pouco distante — a casa do infeliz pedreiro.
O leitor, naturalmente, não tem sofrido privações, nem imagina, decerto, sequer o martírio de quem ama e vê descer, lentamente, para o túmulo, quem até então lhe fora protetor e ganha-pão.
O leitor, que, quando Deus lhe chama de novo a si um ser estremecido, sente um santo e orgulhoso alívio em dizer: "Ao menos não lhe faltou nada!" acaso conceberá os dolorosos transes porque passa a desgraçada mártir que, para ocorrer às despesas de uma longa doença, vai vendendo, uns atrás de outros e a vil preço, o cordão de ouro economizado nas férias que o honrado marido entregava intactas aos sábados, as arrecadas devidas ao produto da roca, dessa ímproba tarefa dos serões, o bragal que a santa da mãe lhe deu quando casou, o anel que o padrinho de casamento, que o fora também de batismo, lhe meteu no dedo no dia de noivado!?
Compreenderá, porventura, o que ela deve sofrer, quando, lançando os olhos em roda para fazer o inventário do que ainda pode vender, encontra, além da roupa que traz, o catre onde agoniza o marido, e o Cristo que agoniza na cruz dentro do santuário, que, transmitido como herança de pai a filho, chegou ao seu poder!?...
Basta!... O leitor nunca pensou nisto, mas compreende-o agora.
A morte antecipara-se e a notícia, contra o costume das aldeias, ainda não tinha chegado à loja do tendeiro.
De costas na modesta enxerga, com as mãos cruzadas sobre o peito, jazia o cadáver, a quem a mãe, santo e venerando tipo de velha, acabava de cerrar os olhos, depois de lhe amarrar os queixos com um lenço.
No rosto rígido do infeliz lia-se que a alma se ausentara, mais atribulada pela incerteza da sorte dos que deixava na terra do que pelo receio do que a aguardava além da campa.
Do outro lado do leito, com as mãos convulsivamente enlaçadas, os lábios trêmulos entreabertos, o olhar enxuto mas desesperado, a esposa não retirava os olhos do rosto do cadáver, e balbuciava de vez em quando e como quem duvida:
— O meu Manuel!
Sentada num cepo, em que se rachava a lenha, estava uma vizinha ainda jovem, sustentando nos braços uma menina de três anos, ao passo que com o pé embalava uma canastra, berço improvisado, onde dormia uma criancinha ainda de peito.
A pobre jovem, contemplando o rosto risonho da criança que dormia a seus pés, apertava ainda mais carinhosamente ao seio a outra filhinha da vizinha, e sentia-se gelar de medo, só com lembrar-se ide que podia ser ela a viúva, de que podia ser órfão o seu próprio filho, travesso rapaz de dez anos, que, com a indiferença própria da idade, se indenizava do silêncio forçado, recortando estampas e, colocando-as depois nos vidros da única janela do aposento.
A mãe acabou finalmente a sua piedosa tarefa.
Que tarefa!... a toilette dum morto!
Que de angústias, que de recordações de dias felizes e tristes, de raios de sol e de tormentas!
Com que escrupuloso cuidado se examina, peça por peça, o modesto linho do defunto! Não serve esta camisa por estar velha, aquela por ter uma nódoa do ferro, est'outra porque ele em vida não gostava dela, e este escrúpulo, esta santa vaidade repete-se a cada uma das diferentes peças do vestuário, e tudo isto entrecortado por frases saídas da alma, por suspiros filhos da mais pungente dor!
— Meu rico filho!... — murmura a mãe. — Meu Manuel!... Quem diria que havias de ir antes de mim!... Essas meias não, Maria... São muito velhas... Deixa ver as que fizeste o Verão passado...
— Meu querido homem!... Não foi para isto que eu tas fiz!... Tome lá, minha mãe... É a última despesa que se faz com ele, que nos amparava a nós!...
E as lágrimas irrompem, e o peito estala, e o cabelo encanece, e vivem-se anos em minutos, e os braços cingem-se em frenético abraço ao corpo inanimado, e a dor redobra, e os lábios ardentes de febre colam-se aos lábios sem vida de quem era metade da nossa alma!
Lança a velha por fim a ponta do lençol sobre o rosto do finado.
A criancinha no berço acorda, soltando um queixume. É o sofrimento do amanhecer da vida a contrastar com a derradeira dor do ocaso da existência!
A pobre viúva ergue a fronte; lembra-se, pela primeira vez, que é mãe; corre ao berço, ergue o filho, devora-o com beijos e acaba por oferecer-lhe o peito.
A criança, porém, não cessa de chorar, e a desgraçada, depois de lutar alguns instantes contra uma ideia horrível, empalidece e contempla o filho com olhos onde a demência transluz.
Pobre mulher!
A esposa tinha morto a mãe; a dor da viuvez secara-lhe no seio a sagrada fonte da vida; o leite transformara-se em pranto!
Não proferiu a triste uma palavra; a vizinha, porém, com o infalível tacto das mães, tudo adivinha, e, tirando-lhe dos braços com amorosa violência a criancinha, dá-lhe o peito, que ela já começava a pensar que estaria fazendo falta ao próprio filho, que ficara em casa, e diz apenas, com voz em que se revela a verdadeira fé:
— Maria, Deus é pai de misericórdia!
A pobre mãe cravou na amiga olhos em que a gratidão se ia de envolta com a inveja e, escondendo o rosto entre as mãos, balbuciou:
— Seja feita a sua vontade!
Ouvia-se apenas, naquele instante, no quarto, o som da água benta, que o cura trouxera numa garrafa, a cair no copo, onde a velha a estava despejando, depois de lhe haver metido um ramo de alecrim.
E, como que a tornar mais carregado aquele quadro de dor, só se via indiferente e descuidado, o rapazito, que continuava a pregar estampas na janela.

CAPÍTULO 3
Dez minutos teriam decorrido num silêncio apenas cortado pelo sussurro das orações da velha, a quem as agonias de uma vida de sessenta anos já haviam ensinado a só procurar auxílio em Deus, quando a pedra, que calçava a porta, veio saltar ao meio do quarto, e esta se abriu deixando aparecer o vulto espadaúdo e o rosto afogueado do contratador de gado.
A viúva nem sequer se moveu; a mãe do finado, porém, alçou a cabeça e ao reconhecer o implacável senhorio revelou, pelo tremor dos lábios, o medo que a dominava.
Só a vizinha, menos diretamente ameaçada pelo perigo, cobrindo o peito e aconchegando o lenço ao rosto da criança, perguntou com voz mal segura:
— Vossemecê que quer, Sr. Joaquim?...
— Quero que me paguem! — bradou o energúmeno. — Deixemo-nos de choradeiras!... Quem deve paga e eu só peço o que me devem. Esse senhor, que aí está a fingir que dorme, que responda, pois eu com mulheres não me entendo!
A velha ergueu-se, como obedecendo a oculta mola, e, levantando a ponta do lençol, mostrou com o dedo a face gelada do cadáver.
— Deus decerto o está ouvindo a ele no Céu; mas ele... já nos não ouve a nós! — disse ela.
E, tornando a cobrir a cabeça do morto, sentou-se.
Que se passou nesse momento na alma do Sr. Joaquim?!... Assaltou-a o remorso?... Amoleceu-a a compaixão?...
Sentimos dizer que nenhum desses sentimentos a agitou.
E, note-se, não foi porque ele fosse mau e cruel.
Valha-nos Deus!... Não foi, porque o não era.
Recite o leitor uma poesia de Soares de Passos a qualquer que não tenha recebido instrução; conte uma ação do anônimo Y a um avarento; diga a um homem sanguíneo e vingativo que o Cristo manda oferecer a face esquerda a quem lhe esbofetear a direita... e nenhum destes o compreenderá.
A sensibilidade requer educação, como tudo o mais, e foi por isso que, quando a velha se calou e o Sr. Joaquim não pôde duvidar da morte do devedor, o seu primeiro movimento foi analisar a mesquinha mobília, derradeiro resto daquele naufrágio de uma vida inteira de trabalho, que veio despedaçar-se, impelida pelas vagas da desventura, nos cachopos fatais em que irremediavelmente vai a pique a barca do pobre, e que se chamam no mundo — miséria, doença e morte! — e no Céu — provações!
O olhar do Sr. Joaquim foi um verdadeiro balanço dos haveres do pobre pedreiro, e foi preciso um esforço sobrenatural para não exclamar: "Estou roubado!"
E o caso é que, no íntimo da consciência, se considerava roubado.
Depois de breve silêncio, o Sr. Joaquim, que não podia esquecer a que viera, disse:
— Bem!... Está morto... acabou-se!... Não se lhe dá volta; é rezar-lhe por alma... Agora o que importa é saber como hei de receber... E nada de choradeiras!... — continuou ele, atalhando um gesto suplicante da mãe do pedreiro.
A viúva ergueu então pela primeira vez a fronte, e, pondo nele os olhos angustiados, murmurou:
— Ó Sr. Joaquim... Eu como lhe hei de pagar?!... Vossemecê bem vê o que aqui há... Aquela caixa de ferramenta que ali vê, essa mesma!... já nos não pertence... Emprestou-me sobre ela uma moeda o tio Zé Pedro...
— Pois daqui não sai nada e que leve o Diabo o Zé Pedro!... O aluguel é a primeira coisa que se paga, e você, tia Maria, — depois de amanhã despeje-me a casa! — retorquiu o terrível credor.
— Ó Sr. Joaquim... pelas suas alminhas!... Pelas cinco chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo! — balbuciou a pobre vizinha, com os olhos rasos de água, imaginando que a sua intervenção seria bem aceite.
Bem depressa, porém, perdeu a ilusão, ouvindo o Sr. Joaquim gritar como um possesso:
— Quais chagas, nem meias chagas!... Nem que Jesus Cristo cá viesse pedir por eles!
Ainda bem não tinha proferido a blasfêmia, quando o roxo — da cólera se lhe mudou no rosto em lividez do medo; os olhos dilataram-se-lhe; erriçaram-se-lhe os cabelos, e, caindo primeiro de joelhos e em seguida de rosto no chão, bradou com assombro de todos:
— Perdão, Senhor, perdão!
Assim esteve alguns minutos, ao cabo dos quais, erguendo-se e apontando para o leito, onde jazia o cadáver, exclamou quase desvairado:
— Estava ali... não viram?... Estava ali... Estava, que eu bem o vi!...
E, voltando-se para a viúva, prosseguiu com uns suplicante:
— Perdoe, Sr a Maria!... Pague-me quando quiser... ou não me pague nunca... É o mesmo!... Sabe que mais?... Em precisando de lenha, ou de um bocado de fumeiro, ou de quaisquer seis vinténs para uma necessidade, mande lá a casa... Tome lá para os seus arranjos... — continuou ele, metendo na mão da viúva algum dinheiro. — É para si; não o gaste em missas... Quem tem o Senhor a pedir por si não precisa de missas!
E saiu como louco, deixando os espectadores desta cena indecisos sobre a verdadeira causa de semelhante proceder.
Dias depois, indo o Sr. Joaquim falar com o padre, confessou-lhe que, mal desafiara Cristo a vir interceder pela família do pedreiro, lhe aparecera a imagem do invocado sobre o peito do defunto.
O cura, conhecendo quanto este incidente, a que ele de si para si chamava visão do remorso, o podia auxiliar na difícil tarefa de reconduzir ao aprisco algumas ovelhas tresmalhadas, impôs-lhe, como penitência, publicar o ocorrido, sem ocultar circunstância alguma.
E assim se soube este milagre, que nós, mais vaidosos do que o cura e mais fiéis da aldeia, vamos explicar.
Lembram-se do rapazito da vizinha, que se distraía à janela recortando estampas e colocando-as nos vidros?
Como verdadeira criança, cansado do longo silêncio e já aborrecido do brinquedo, começou a esfaquear as estampas com uma pequena navalha.
Já apenas lhe restava uma — um exemplar grosseiramente colorido da cabeça do Redentor, representado, como no-lo pinta a tradição, quando Pilatos o mostrou ao povo, dizendo: Ecce Homo!
O pequeno, vendo quase a acabar o divertimento, e inspirado pelo espírito de destruição, colou a estampa no vidro, e, em seguida, começou a golpear a imagem sistematicamente, isto é, seguiu com a ponta da navalha todas as linhas dos contornos; depois, requintando, arrancou-lhe o branco dos olhos, fendeu-lhe a boca, despegou-lhe o nariz das faces, e, prosseguindo ou por fabricar com mão inconsciente o que todos conhecemos sob o nome de sombrinhas.
Ao terminar esta horrível mutilação, proferia o Sr. Joaquim a sua cruel blasfêmia; mas o sol, que até ali se conservara encoberto, raiou de repente e só o tempo bastante para operar o milagre, e, coando por entre os golpes e claros que o pequeno praticara na estampa, veio refletir sobre o peito do cadáver a resignada e austera cabeça do Redentor, fulminando o insolente que ousara reptar a Divindade.
Ainda hoje, em duas léguas ao redor da aldeia, chama o povo a isto — o milagre!
E o leitor como lhe chama?
Eu, desprezando — neste caso — a sua opinião, seja ela qual for, dir-lhe-ei que, atendendo a que Deus pode tomar a forma que mais lhe aprouver para se manifestar, também lhe chamo — MILAGRE!

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