
Os
desiludidos
Soube
pelo homem do carvão que as tropas da Rotunda marchavam Avenida abaixo, com
destino ao Quartel General, que resolvera entregar-se. Como estava, quase em
desalinho, o chapéu às três pancadas, abalou sem dizer para onde ia, e dentro
em pouco estava no Rocio, à frente das tropas da Rotunda, que se dirigiam para
o Quartel General.

Dali
marchou, correndo como um gamo, para o largo do município, tomando posição à frente
de iodos, agitando no ar a pistola heroica, com que fizera fogo... de vistas no
Quartel General. Quando da varanda da Câmara foi submetida à aprovação do povo
a composição do Governo Provisório, a voz dele foi a primeira a
erguer-se numa aclamação, que todos repetiram, e daí por alguns segundos
estavam lhe nos braços, um de cada vez, todos os ministros, os amigos do povo,
como troava a sua garganta rouca. Dias passados o Diário do Governo publicava
a sua nomeação para um lugar modesto — coisa de cem mil réis por mês.
Como
tinha de andar por toda a parte dizendo mal da República, mal podendo sustentar
a mulher com o que lhe sobejava da amante, nunca ia à repartição, a não ser no
fim do mês, para os efeitos da contabilidade. E ao receber o dinheiro que não ganhara, herói que ninguém vira
nas horas incertas da luta, calculando os poucos centavos que lhe ficariam,
tiradas as despesas inevitáveis, dizia sempre, na desolada amargura de quem
sente que nunca a realidade se ajustará à sua ambição: — Positivamente, esta
não era a República que eu sonhara.
E
ia dali a um centro de conspiratas, a entender-se com outros patriotas da sua equivalência,
e que também tinham sonhado uma outra República — talvez uma República como a
queria Platão, talvez uma República como a quereria o José do Telhado.
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Pesquisa, transcrição e adaptação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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