No dia 27 de maio, às 11 horas
da noite, faleceu o nosso ilustre irmão, Dr. Joaquim Saldanha Marinho, grau 33,
membro efetivo do Supremo Conselho, Grão-Mestre e Grande Comendador Honorário
do Grande Oriente e Supremo Conselho do Brasil.
Nasceu na cidade do Recife em
4 de maio de 1816, e foram seus progenitores o capitão Pantaleão Ferreira dos
Santos e D. Augusta Joaquina Saldanha.
Em 1836 formou-se em ciências
jurídicas e sociais, cujo grau de bacharel ali lhe foi conferido.
Exerceu os cargos de Promotor
Público do Icó e Fortaleza, no Ceará, sendo depois professor de Geometria nesta
última cidade.
Foi também inspetor da tesouraria
de fazenda do Ceará.
Administrou as províncias de
Minas Gerais e São Paulo, no regime passado, e reais e relevantes foram os
serviços que prestou em tão difíceis cargos.
No foro era a sua opinião
respeitada e acatada e foi advogado do Conselho de Estado do Império.
Na imprensa foi também um
valente batalhador e ainda estão bem presentes as campanhas que sustentou
redigindo por largos anos o Diário do Rio
e mais tarde a série de artigos sob o título A Igreja e o Estado que traziam a assinatura de Ganganelli.
Como político esteve filiado
ao Partido Liberal e nessa qualidade teve assento em diversas legislaturas e
fez parte de listas tríplices para Senador.
Uma vez escolhido Senador e
anulada pelo Senado a respectiva eleição, Saldanha Marinho compreendeu que a monarquia
era um obstáculo ao progresso deste grande país e, divorciando-se do seu
partido, declarou-se republicano, publicando nessa época o seu celebre livro A Monarquia ou a Política do Rei.
Relator do importante
manifesto republicano de 3 de dezembro de 1870, foi então sagrado chefe do
partido que se formava, e de cuja direção só o afastaram mais tarde os seus
graves incômodos de saúde.
Proclamada a República em 15
de novembro de 1889, teve Saldanha Marinho a grande alegria de ver realizados
os seus desejos e por essa ocasião ainda lhe foi dada uma prova de confiança,
qual a de organizador do projeto da Constituição que tinha de ser submetida à Assembleia
Constituinte da República.
O Distrito Federal, onde ele
mais largamente havia prestado o concurso da sua inteligência para a grande
obra que se realizou, conferiu-lhe o honroso encargo de seu representante na Assembleia
Constituinte como senador, mandato este renovado na eleição de 1º de março de
1894.
Como maçom, Saldanha Marinho
fez o quanto era humanamente possível para reerguer a Instituição que desde
1831 arrastava uma vida quase efêmera e inglória.
Após os acontecimentos
políticos de 1831, diversos corpos superiores maçônicos se arrogavam a supremacia
e a legalidade e entre eles o Grande Oriente do Brasil, ao Valle do Lavradio,
do qual fazia parte Saldanha Marinho.
Sucessivas reformas da
Constituição Maçônica foram intentadas sem que se conseguisse uma reforma
liberal, dando a Instituição maior campo de ação.
Em 1863, quarenta e cinco
maçons do Grande Oriente do Brasil, entre os quais Saldanha Marinho,
separaram-se e foram constituir um outro corpo que funcionou sob a denominação Grande Oriente do Brasil ao Vale dos Beneditinos.
Esses dois corpos não podiam
viver em harmonia embora trabalhando para o mesmo fim.
A ideia democrática prevaleceu
e prosseguiu no seio do Grande Oriente dos Beneditinos, e a sua primeira
conquista foi a eleição do Grão-Mestre e seu adjunto por todos os maçons ativos.
Era o sufrágio geral posto em prática.
Saldanha Marinho, desde 1863,
havia recebido a honrosa incumbência de exercer o cargo de Grão-Mestre, e tal
impulso deu ao corpo que dirigia, que a Maçonaria começou a sentir-se de novo
respeitada e com forças para agir em auxílio do seu inteligente e dedicado
chefe.
Para isso o seu principal
empenho foi fazer a unificação da família maçônica brasileira e esse fato realizado
em 20 de maio de 1872 tornou-se uma burla pela luta íntima devida à eleição
para o cargo de Grão-Mestre.
O Grande Oriente Unido do Brasil,
o novo corpo resultante da fusão dos dois Grandes Orientes, voltou a trabalhar
no Vale dos Beneditinos, continuando, entretanto, o antigo Grande Oriente ao Vale
do Lavradio, embora um tanto enfraquecido pela adesão de diversas oficinas ao
novo corpo.
Aí começa o período mais
glorioso da Brasil depois de 1831, e todas as honras da vitória conseguida
cabem inegavelmente a Saldanha Marinho, que soube bem cercar-se de verdadeiros
auxiliares nessa pugna valente.
Começou nessa época a
denominada questão religiosa e Saldanha Marinho, sob o pseudônimo Ganganelli, bateu-se valorosamente na
imprensa, em nome da Maçonaria, pelas grandes reformas sociais por que anelava
esta grande e generosa Nação.
É esse certamente o período
mais glorioso de sua longa vida pública e maçônica.
Foi nesse período que vimos
levantarem-se numerosíssimas oficinas, em que se congregavam aqueles que em
torno do chefe, faziam a resistência ao clericalismo insolente e ao fanatismo
pernicioso.
Foi ele, pois, quem deu nova
vida a Instituição, já desalentada.
Em 1882, ainda veio Saldanha
Marinho demonstrar o seu grande amor à Maçonaria, empregando todos os meios
para a sua unificação, efetuando-se a fusão dos dois Grandes Orientes, o que
decretado e aceito pelos dois corpos em 21 de dezembro de 1882, foi realizado
em janeiro seguinte.
Só então foi-lhe dado resignar
o malhete do grão-mestrado. Só então foi-lhe concedido o repouso da longa luta
que dirigia.
A Maçonaria tudo devendo aquele
que a dirigiu durante dezenove anos, confessa-se reconhecida e grata e disso dá
as mais sinceras provas quando o eminente cidadão baixa à tumba, chorado e
pranteado por sua família e pela Nação inteira.
O Estandarte da Ordem
envolve-se em crepe e nos choramos o chefe e amigo.
Vale!
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Boletim "Grande Oriente do Brasil", maio de 1895.
Boletim "Grande Oriente do Brasil", maio de 1895.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
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