10/20/2019

Máscaras


"Uma hora mais tarde, ela nem ousava passar diante das pessoas, certa de que iriam rir e murmurar. E era sinceramente que odiava agora Julien por não compreender isso, por não ter desses pudores, por não saber respeitar essas delicadezas instintivas. Sentia que entre ela e ele um véu se interpunha, formando um obstáculo, e percebeu pela primeira vez que duas pessoas jamais se penetram até a alma, até o fundo dos pensamentos; podem caminhar lado a lado, às vezes de mãos dadas, mas nunca se identificam plenamente; o fundo moral de cada um fica eternamente inatingível, por toda a vida."

GUY DE MAUPASSANT: "UMA VIDA"

***


Os vínculos humanos serão sempre limitados,  de modo que  ninguém se revela completamente ao outro.  O elo que une duas pessoas fica assim condicionado ao "momento extremo", em que  fatalmente prevalecerá o imperativo do ego.  É o instante em que a confiança absoluta devotada a alguém se transforma em decepção absoluta. Ter consciência de que as pessoas podem "trocar de pele" conforme suas conveniências, talvez seja a única maneira de se precaver contra as desilusões advindas das relações humanas.  Não se trata propriamente de esperar sempre o pior das pessoas, mas de se manter resguardado para quando as máscaras porventura vierem a cair.  É por isso que a falsidade nunca me causa espanto.    No mais fundo do âmago humano haverá sempre uma face desconhecida, um mistério que às vezes pode aparecer para surpreender ou para decepcionar. A consciência dessa realidade torna os relacionamentos, se não mais seguros, pelo menos mais sinceros.  Não temos, pois, nenhum controle sobre a consciência do outro. Ainda que se imponha a força, o "fundo moral" dela permanecerá sempre inatingível. É isso que nos tornam diferentes do avestruz...


É isso!

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