1/24/2020

Poetas Populares: Antônio Correa Bastos


ANTÔNIO CORREA BASTOS

Antônio Corrêa, nasceu em Mogeiro, do Estado da Paraíba, em 1887. Era maquinista e carpinteiro. Apesar de não ter sido cantador de profissão e ter poucos conhecimentos das letras, era excelente repentista.

Publico, a seguir, seguida uma peleja que ele teve com o cantador João Benedito. Este natural dos brejos da Paraíba, apesar de ser quase analfabeto, era muito bom repentista.

Antônio Correa — Senhor João Benedito
Que veio ver neste lugar?
Foi iludido por alguém,
Que foi por pouco pensar?
Está desgostoso da vida
E quer mesmo se acabar?

João Benedito — Vim porque tive notícia
Que eras bom cantador;
E que aqui na capital
Estavas sem competidor;
Quero ter disso a certeza,
E te mostrar meu valor.

Antônio Correa — O senhor só fala assim
É porque vive enganado;
Se contra mim se destina,
Diga em que está confiado?
Que eu lastimo a sua sorte
E o seu triste resultado.

João Benedito — Senhor Antônio Corrêa,
Deixe desse seu orgulho;
Pabulagem é uma coisa
Que se atira no basculho;
Você procura embrulhar-me
Mas é quem vai no embrulho.

João Benedito — Benedito, eu fiz um forte
Guarnecendo esta cidade,
Onde há perigos enormes
Com grande rigoridade,
Aqui prendo cantadores,
Sem escolher qualidade.

João Benedito — Antônio, eu nunca encontrei
Forte que eu não destruísse,
Nem peso que eu não erguesse
Perigo que eu não investisse,
Nem cantador de seu jeito
Que uma hora me resistisse.

Antônio Correa — O forte ninguém derriba,
Que eu fiz muito seguro;
Em largura tem cem braças.
Só a parede do muro;
Fiz assim por segurança.
Prevenindo o meu futuro.

João Benedito
— Essa tua fortaleza
É bastante eu me encostar.
Botarei ela por terra,
E depois que eu derribar,
Faço as minhas transações
E em paz hei de voltar.

Antônio Correa — A estrada do sertão
Que atravessa o Sanhauá.
Cantador que se atrever
Passar p’ra o lado de cá,
Cai nas unhas de um gigante.
Que o liquida mesmo lá.

João Benedito — Eu derribando o forte
Se o gigante me enfrentar
Com tenção de dar-me fim,
Com um murro hei de o matar;
Caso você esteja em casa.
Trate de se arretirar.

Antônio Correa — Se você escapar desse perigo,
E vier atacar de frente a ruim,
De uma forma ou de outra leva fim,
Porque tem de encontrar outro castigo;
Um cárcere escuro muito antigo,
Ficará lhe servindo de prisão;
Logo aí perde a sua pretensão
E começa na vida o seu sofrer,
E, se acaso tardares a morrer,
És lançado nas chamas de um vulcão.

João Benedito — Tenha lá os perigos que tiver
Mão me assombra, p’ra mim tudo é asneira
Tudo eu vencerei na brincadeira,
Você traga o reforço que trouxer,
Tenho jeito p’ra tudo que quiser;
O seu plano para mim será errado;
Se vier atacar-me com soldado,
Inutiliza-se a sua munição;
Com dinamite derribo-lhe a prisão
E no vulcão eu o deixo sepultado.

Antônio Correa — Se escapares te prendo em alçapão
Que da face da terra vai ao centro;
Infeliz do cantor que cair dentro
Nunca mais ele sai dessa prisão!
Ninguém dele terá mais compaixão,
A desgraça lhe dá logo um aviso
De que será total seu prejuízo;
Se despeça dos filhos e mulher,
E a algum camarada que tiver,
Diga adeus até dia de juízo.


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Fonte:
Francisco Chagas Batista: “Cantadores e Poetas Populares” (1929)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2020)

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