Mestre Camilo
Camilo Castelo Brinco, um dos majores, se não
o maior escritor da língua portuguesa moderna, vivia num povoado luso de nome
São Miguel de Leide, onde produzia abundantemente.
Escreveu mais de uma centena de obras. Ao fim
da vida perdeu a visão e isso o teria levado no suicídio. Era um verdadeiro
dicionário vivo, tal o seu conhecimento da língua e o seu conhecimento
vocabular. Segundo seus biógrafos, nenhum outro escritor dominou com tanta perfeição
o nosso idioma. E conhecia não só o português elevado, clássico, puro; também
sabia a língua do populacho, desencavando termos de uma e outra com a mesma
familiaridade e os usando com inteira propriedade.
Espírito polêmico, temperamento agressivo,
estava sempre envolvido em alguma questão. Quando escrevia, vinham-lhe à
memória os opositores. Fazia, então, uma espécie de parêntesis, uma digressão,
abandonando o enredo do seu escrito para atacar com virulência o adversário. Depois
do desabafo, retomava a narração e prosseguia normalmente.
Num dos seus mais conhecidos livros, ele
próprio lamenta o esquisito costume: "Sinceramente não sei corrigir-me do
vício das divagações. Há quem defenda e demonstre que o "romance
filosófico..." E por ai vai numa verdadeira catilinária de várias páginas
contra o "romance filosófico". Mas — de repente — ei-lo que volca ao
assunto...
Já Hélio Bruma, conhecido escritor de estórias
infantis, tinha hábito semelhante. Como recebia muitas cartas de pequenos
leitores, volta e meia e sem mais aquela, colocava dos seus correspondentes no
meio da estória.
Mas, assim como o intruso mirim aparecia, também
desaparecia, isto é, sem explicação...
Por isso é que se diz que nos grandes tudo se
tolera!
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ENÉAS ATHANÁZIO
Correio do Norte, 7 de julho de 1973.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2020).
ENÉAS ATHANÁZIO
Correio do Norte, 7 de julho de 1973.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2020).
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