6/06/2020

Mestre Camilo (Resenha)



Mestre Camilo
Camilo Castelo Brinco, um dos majores, se não o maior escritor da língua portuguesa moderna, vivia num povoado luso de nome São Miguel de Leide, onde produzia abundantemente.
Escreveu mais de uma centena de obras. Ao fim da vida perdeu a visão e isso o teria levado no suicídio. Era um verdadeiro dicionário vivo, tal o seu conhecimento da língua e o seu conhecimento vocabular. Segundo seus biógrafos, nenhum outro escritor dominou com tanta perfeição o nosso idioma. E conhecia não só o português elevado, clássico, puro; também sabia a língua do populacho, desencavando termos de uma e outra com a mesma familiaridade e os usando com inteira propriedade.
Espírito polêmico, temperamento agressivo, estava sempre envolvido em alguma questão. Quando escrevia, vinham-lhe à memória os opositores. Fazia, então, uma espécie de parêntesis, uma digressão, abandonando o enredo do seu escrito para atacar com virulência o adversário. Depois do desabafo, retomava a narração e prosseguia normalmente.
Num dos seus mais conhecidos livros, ele próprio lamenta o esquisito costume: "Sinceramente não sei corrigir-me do vício das divagações. Há quem defenda e demonstre que o "romance filosófico..." E por ai vai numa verdadeira catilinária de várias páginas contra o "romance filosófico". Mas — de repente — ei-lo que volca ao assunto...
Já Hélio Bruma, conhecido escritor de estórias infantis, tinha hábito semelhante. Como recebia muitas cartas de pequenos leitores, volta e meia e sem mais aquela, colocava dos seus correspondentes no meio da estória.
Mas, assim como o intruso mirim aparecia, também desaparecia, isto é, sem explicação...
Por isso é que se diz que nos grandes tudo se tolera!
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ENÉAS ATHANÁZIO
Correio do Norte, 7 de julho de 1973.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2020).

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