8/22/2023

As pérolas roubadas (Conto), de Alfredo Appel


 

AS PÉROLAS ROUBADAS

Era uma vez um fidalgo que tinha um lacaio e um cocheiro; o lacaio chamava-se Pança, e o cocheiro, Costas.

Um belo dia, eles roubaram ao patrão umas pérolas, que estavam guardadas num cofre.

Quando o fidalgo viu que as pérolas imo estavam no cofre, chamou os dois homens e disse-lhes:

— Confessai a verdade se me roubastes? Eles disseram:

— Não, senhor! nunca; nem sabemos de nada.

O fidalgo disse:

— Vede bem o que dizeis, pois vou já chamar a adivinha, e ai de vós se ela disser que fostes vós.

O fidalgo mandou chamar a velha, e quando ela chegou, ele disse-lhe:

Bom dia, tiazinha! faz favor de me deitar cartas, pois roubaram-me umas pérolas de muito valor.

A velha respondeu:

— Está muito bem, patrão, já lá vou; mas antes de tudo, mande-me aquecer água para um banho, pois venho muito suja do caminho e quero lavar-me.

Prepararam o banho, e a velha começou a fustigar-se com a vassoura e a dizer.

— Agora a pança e as costas hão de apanhar. Mas o lacaio e o cocheiro estavam à janela a escutar o que ela dizia. Diz o cocheiro.

— Oh, amigo, ela já sabe tudo. O que vai ser de nós?

Mal a velha saiu do banho, eles começaram a pedir-lhe:

— Ó, tiazinha! por amor de Deus, não diga nada ao patrão.

Pergunta a velha:

— Mas que é feito das pérolas? Ainda estão intactas?

Eles disseram:

— Estão, sim, tiazinha.

A velha disse:

— Pois enrolai cada uma das pérolas em miolo de pão e dai-o de comer ao ganso.

Dito e feito. A velha foi ter com o fidalgo, que lhe perguntou:

— Então, tiazinha, já sabe?

 A velha disse:

— Sei, meu caro.

O fidalgo perguntou-lhe:

— Mas quem tem a culpa?

Diz a velha:

— E o ganso que anda no pátio; a sua casa tem as janelas abertas, e assim o ganso entrou c comeu as pérolas.

O fidalgo mandou apanhar e matar o ganso. Mataram o ganso, e encontraram-lhe as pérolas na moela. O fidalgo agradeceu à velha e jantou com ela; mas mandou trazer para o jantar uma gralha assada, para ver se a velha adivinhava o que era. Sentaram-se à mesa. Quando trouxeram a gralha assada, a velha, olhando para os lados, disse a respeito de si própria:

— As gralhas voam alto, e às vezes entram em palácios.

 O fidalgo disse:

— Que esperta que ela é; sabe tudo. Depois do jantar, o fidalgo mandou vir a carruagem para levar a velha para casa, e disse a um criado que pusesse ovos na carruagem sem ela saber. O criado assim fez. Como a carruagem parecia um cabaz, diz a velha ao sentar-se:

— Lá vai a galinha para o choco. O fidalgo admirou-se da velha saber tudo, deu-lhe dinheiro, e mandou-a para casa.


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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2006.

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