8/31/2023

Deus (Conto), pelo Cônego Schmid

DEUS

Um menino muito piedoso vivia junto de um idólatra, a quem muitas vezes dizia:

— Não há senão um só Deus poderoso, que criou o céu e a terra; é ele que faz brilhar o sol e cair a chuva; conhece todas as nossas ações e todos os nossos pensamentos, e presta ouvidos às nossas súplicas. Só ele tem o poder de nos punir e de nos recompensar, de nos salvar a de nos perder. Os ídolos que vós adorais são feitos de barro, não têm a faculdade de ver e de ouvir, e por esse motivo não podem fazer nem bem nem mal algum.

 O idólatra, porém, se conservava surdo a essas verdades.

Um dia ele saiu para o campo. O menino aproveitou-se desta ausência para quebrar todos os seus ídolos, excetuando o maior, em cujas mãos depôs um grosso e nodoso cajado.

Quando voltou o pagão, ardendo em cólera, bradou enfurecido:

— Quem foi o autor de uma ação tão infame?

— Como! lhe disse o menino, não acreditais que o vosso ídolo maior tenha quebrado por suas mãos os outros, que são muito menores do que ele?

— Não, lhe replicou o pagão encolerizado, não o creio, porque nunca vi ele fazer um único movimento. Foste tu, invejoso, que quebraste os meus deuses, e com este cajado vou punir a tua perversidade.

— Acalmai-vos, atalhou o moço com doçura; se não concedeis ao vosso ídolo o poder de fazer aquilo que eu, sendo uma simples criança, acabo de fazer, como poderá ele ser tão poderoso que tem há criado o céu e a terra?

O pagão emudeceu a estas palavras; refletiu um instante, e por último quebrou o ídolo que lhe restava, e, prostrando-se per terra, adorou pela primeira vez ao verdadeiro Deus.

Feliz aquele que, era Deus
Tendo fé sincera e pura,
Pode crer que nesta vida
Ele é pai da criatura.


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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

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