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8/31/2023

As maçãs (Conto), de Cônego Schmid


AS MAÇÃS

Uma manhã o pequeno Gregório viu da sua janela uma quantidade de belas e rubicundas maçãs espalhadas sobre a relva no vergel do vizinho.

O menino desceu apressadamente as escadas, e, se arrastando com a barriga pelo chão, entrou por um buraco do muro para o vergel alheio, e encheu de maçãs as algibeiras da calça e do paletó.

De repente, porém, o vizinho apareceu na porta do jardim com um cacete na mão. Gregório correu com toda a rapidez que lhe podiam prestar as suas pernas, e quis sair como tinha entrado, arrastando-se pelo chão.

Entretanto o pequeno larápio ficou preso na estreita abertura do muro, porque tinha as algibeiras completamente recheadas. Viu-se, pois, na triste necessidade de restituir as maçãs que roubara e sofrer  castigo que tinha merecido.

— Lembra-te, lhe dizia o vizinho:

Que a fortuna adquirida injustamente
Pode ser castigada incontinente.


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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

As flores (Conto), por Cônego Schmid


AS FLORES

Em um belo dia de primavera, a pequena Margarida foi passear sozinha nos prados próximos à aldeia, e se divertia em colher flores para formar um ramalhete. Ela viu, junto de uma sebe de espinhos, uma grande quantidade de lindas violetas. Transportada de alegria, começou a colhê-las sem precauções.

— Minha filha, lhe disse ura velho aldeão que por ali passava, afasta-te desta sebe, que é o lugar onde as serpentes se escondem.

A menina ficou cheia de terror e parou por alguns momentos; porém a cobiça de possuir as lindas flores venceu ao receio.

— Só quero, disse ela, colher aquela violeta que aparece entre as ervas: tem uma cor azul tão formosa que eu a desejo para o meu ramalhete.

No instante em que ia colhê-la, uma víbora enroscou-se no seu braço, mordeu-a e inoculou lhe o seu veneno fatal. A pobrezinha, a linda Margarida, morreu no fim de algumas horas

Feliz aquele e que possui o dom
De saber moderar os seus desejos
Quantas vezes um fatal veneno
Se oculta no estridor dos beijos.



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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

A fonte (Conto), do Cônego Schmid


A FONTE

O pequeno Guilherme caminhava pelo meio dos campos, em um dia de estio em que fazia calor extraordinário. Suas faces estavam rubras, e o pobre menino morria de sede. De repente chegou perto de uma fonte cuja água cristalina saía de um rochedo à sombra de um belo carvalho. Guilherme precipitou-se para esta água fria como o gelo, e, bebendo dela, caio por terra quase desfalecido. Assim chegou doente à casa de seus pais, entregue a uma febre muito perigosa.

— Ah! dizia suspirando no seu leito, quem dissera, ao ver aquela água tão límpida, que ela continha um veneno tão mau?

Seu pai o ouviu e lhe disse:

— Não é a fonte, cuja água é tão pura, a causa dos teus males; é tua imprudência, meu filho.

Quantas vezes o prazer mais puro
Se muda em mágoa acerba e dolorosa,
Se a imprudência nos impele os passos
Por uma senda alheia e tortuosa!

 

O eco (Conto), pelo Cônego Schmid


O ECO

O pequeno Jorge não tinha a menor ideia do que fosse um eco. Um dia ele lembrou-se de gritar no meio do prado: — Oh! oh! — e ouviu repelirem no bosque — vizinho as mesmas palavras: Oh! oh! — O menino, admirado, continuou a gritar: — Quem és tu? — A mesma voz misteriosa respondeu logo: — Quem és tu?

Jorge ainda continuou:

— És um rapaz muito tolo. — Rapaz tolo! repetiu a voz do fundo do bosque. Jorge ficou desesperado, redobrou as injurias que enviava ao bosque. O eco sempre as repelia fielmente.

Procurou inutilmente o mínimo que ele supunha lhe responder, para se vingar, porém não encontrou pessoa alguma. Jorge, vendo baldados os seus passos, correu para casa e foi se queixar a sua mãe de que um mau rapaz se tinha escondido no bosque para injuriá-lo.

— Vê, meu filho, lhe disse ela, tu te acusas e te trais a ti mesmo. Sabe que apenas ouviste tuas palavras; assim como tens visto teu semblante muitas vezes no regato, da mesma sorte acabas de ouvir a tua voz na floresta. Se houvesses gritado uma palavra delicada, ouvirias outra igual. Tudo é assim neste mundo. A conduta dos outros a nosso respeito é geralmente o eco da nossa. Se tratarmos com benevolência aos nossos iguais, eles nos tratarão da mesma maneira; se, porém, usarmos de grosseria, não poderemos nem teremos o direito de esperar melhor tratamento.

O eco repete sempre
Nossos gritos na floresta.
Seja sempre a nossa voz
Casta, pura e modesta.


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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

O arco-íris (Conto), pelo Cônego Schmid


O ARCO-ÍRIS

Depois de uma tempestade que acabava de purificar o ar e de fecundar os campos, surgiu de repente no horizonte um formoso arco-íris. O pequeno Henrique estava na janela, e, apenas avistou o belo fenômeno, gritou arrebatado de alegria:

— Oh! nunca meus olhos virão cores tão lindas e magníficas. É ali era baixo, perto do velho salgueiro e à margem do regato, que elas cabem das nuvens sobre a terra. Bem vejo que pingam em gotas de cada uma das folhas do arvoredo. Vou depressa encher com essas belas cores todas as conchas da minha caixinha de desenho.

O menino correu com todas as suas forças para a árvore; mas, ai! viu-se isolado na chuva e não descobriu o menor vestígio das cores. Tristemente voltou molhado para casa, e foi se queixar a seu pai da desgraça que lhe tinha acontecido.

— Meu filho, lhe disse este, não há conchas neste inundo que possam recolher as belas cores que viste: são gotas de chuva que brilham alguns instantes ao clarão do sol; essas tintas tão esplendidas não são reais, nem podem durar além de um momento Acontece a mesma coisa, meu querido amiguinho, com todas as pompas deste mundo: parecem alguma coisa, porém na realidade não são mais do que uma luz fascinadora e vã como a do arco-íris.

Não te deixes enlevar na vida
Por um falso e deslumbrante brilho;
Não mudes em pesar os gozos;
Segue sempre da virtude o trilho!

 

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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

A chuva (Conto), pelo Cônego Schmid


A chuva

Um mercador voltava um dia da feira; na garupa do seu cavalo tinha ele a sua mala cheia de dinheiro. A chuva caia com violência, e o bom homem estava molhado até à medula dos ossos; maldizia por isso o mau tempo, e queixava-se de Deus por lhe dar uma viagem tão aborrecida.

Passando daí a instantes por uma floresta muito espessa, viu à margem do caminho um salteador; sentiu um susto tão grande, que supôs ser chegada a sua ultima hora de vida.

O salteador levou a coronha da espingarda à altura do rosto e fez-lhe pontaria; porém a escorva, estando molhada pela chuva, falhou fogo, e o mercador, chegando as esporas ao animal, escapou felizmente de ser morto.

Depois que se viu livre do perigo, disse consigo mesmo: — Que mal fiz eu em não suportar com paciência a chuva como um benefício de Deus! Se o tempo fosse bom, a esta hora eu estaria morto e os meus filhos esperariam em vão pela minha volta. A chuva que eu maldizia foi que salvou-me a vida e a fortuna.

O  que às vezes nos parece mal
Oculta um bem celeste e divinal.


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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

O bom tempo (Conto), pelo Cônego Schmid,

 



O BOM TEMPO

— Oh! quem dera que o sol pudesse brilhar continuamente! exclamou Frederica um dia em que a chuva caia do céu em torrentes.

Deus a satisfez.

Durante meses inteiros nem sequer uma nuvenzinha se via no horizonte. Uma seca prolongada causou os maiores danos possíveis. Ate as flores do jardim

— de Frederica não tardarão a emurchecer, e o linho que lhe prometia tantas distrações não cresceu mais do que o tamanho de um dedo.

— Vês agora, minha filha, lhe disse sua mãe, que a chuva é tão necessária como também o bom tempo. Não seria totalmente bom para nós outros mortais termos somente dias felizes e tranquilos. Para alcançarmos a virtude é mister que nos purifiquemos no cadinho da tristeza e da amargura.

Deus nos lega a chuva e o vento,
O sol, a luz e as flores,
Assim como o riso e o canto,
A saudade e os amargores.


 

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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

O irmão e a irmã (Conto), pelo Cônego Schmid

O IRMÃO E A IRMÃ

Diogo e Ana se achavam sozinhos em casa. O primeiro disse à irmã:

— Vem comigo, Ana, vamos procurar alguma comida e nos regalar com ela.

— Se puderes me levar a um lugar em que ninguém nos veja, não duvidarei em te acompanhar, respondeu Ana.

— Muito bem! disse Diogo, iremos ao quartinho onde está o leite, e aí poderemos comer o doce de creme.

— Não, respondeu a irmã: ali está um homem rachando madeira na rua, que infalivelmente nos havia de ver.

— Nesse caso, disse Diogo, acompanha-me até à cozinha; tiraremos o mel do armário e faremos um manjar. Ana replicou ainda:

— Tu bem sabes que a vizinha trabalha assentada junto da janela, e nos veria com a maior facilidade.

— Vamos então comer maças no subterrâneo, replicou o pequeno glutão; ali é tão escuro que ninguém poderia nos descobrir.

— Oh! meu irmão, disse Ana, supões realmente que ninguém poderia nos ver? Não conheces um olho que penetra através dos muros até mesmo na obscuridade? Diogo, ferido dessa observação, corou e disse à irmã:

— Tens razão, Deus está presente em todas as partes, e nunca lhe poderíamos escapar. Eu já não quero fazer mais o que te propunha ainda agora. Ana alegrou-se de ver que o irmão acolhia no coração as suas palavras, e lhe fez presente de uma bela estampa, onde se via, entre outras cousas, o olho de Deus cercado de raios, e embaixo estas palavras:

Possa o teu olho divino
Me infundir santo temor,
Me afastando do pecado,
O meu Deus! meu puro amor!

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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

O bom pai (Conto), pelo Cônego Schmid


 O BOM PAI

Negócios importantes retinham um bom pai de família na cidade; sua esposa e seus filhinhos viviam longe dele em uma casinha de campo. Um dia ele enviou aos meninos uma grande caixa cheia de lindos brinquedos, acompanhados de uma carta, que assim dizia: “Meus queridos filhinhos. sede sempre bons e piedosos, que eu vos prometo virdes para a minha companhia. Alegrai-vos, porque ainda conservo muitos brinquedos preciosos na casa que preparei para vós”.

— Quanto é bom o nosso papai! diziam os meninos. Quanta alegria dá ele aos nossos corações! Nós também o amamos muito, e, embora não o possamos ver e pouco nos lembremos do seu rosto, faremos tudo que ele nos diz na sua carta, para lhe darmos assim uma viva satisfação. Oh! que prazer teremos de ver ainda uma vez o nosso papai!

— Queridos filhinhos, lhes disse sua mãe, o bom Deus faz com os homens o mesmo que vosso excelente pai faz convosco. Nós não o vemos, é verdade, porém recebemos dele mil benefícios preciosos. Por esse motivo conhecemos o seu amor: o sol, a lua, a estrelas, as flores, os fruto se todas a produções da terra são dele. A Escritura Santa é uma carta pela qual nos manifesta a sua vontade e promete receber-nos um dia no céu; é ali que nos esperam ainda dons mais magníficos e prazeres mais puros do que aqueles que gozamos na terra. Amemos o criador com toda a efusão do nosso coração, meus filhos, façamos sempre a sua vontade, e nutramos a doce esperança de sermos para sempre admitidos no céu, onde o veremos de perto, e onde nossa alegria será inexplicável.

Se quisermos neste mundo
Obter a felicidade,
 Entreguemos nosso amor
 Ao puro Deus de bondade.

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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.

Deus (Conto), pelo Cônego Schmid

DEUS

Um menino muito piedoso vivia junto de um idólatra, a quem muitas vezes dizia:

— Não há senão um só Deus poderoso, que criou o céu e a terra; é ele que faz brilhar o sol e cair a chuva; conhece todas as nossas ações e todos os nossos pensamentos, e presta ouvidos às nossas súplicas. Só ele tem o poder de nos punir e de nos recompensar, de nos salvar a de nos perder. Os ídolos que vós adorais são feitos de barro, não têm a faculdade de ver e de ouvir, e por esse motivo não podem fazer nem bem nem mal algum.

 O idólatra, porém, se conservava surdo a essas verdades.

Um dia ele saiu para o campo. O menino aproveitou-se desta ausência para quebrar todos os seus ídolos, excetuando o maior, em cujas mãos depôs um grosso e nodoso cajado.

Quando voltou o pagão, ardendo em cólera, bradou enfurecido:

— Quem foi o autor de uma ação tão infame?

— Como! lhe disse o menino, não acreditais que o vosso ídolo maior tenha quebrado por suas mãos os outros, que são muito menores do que ele?

— Não, lhe replicou o pagão encolerizado, não o creio, porque nunca vi ele fazer um único movimento. Foste tu, invejoso, que quebraste os meus deuses, e com este cajado vou punir a tua perversidade.

— Acalmai-vos, atalhou o moço com doçura; se não concedeis ao vosso ídolo o poder de fazer aquilo que eu, sendo uma simples criança, acabo de fazer, como poderá ele ser tão poderoso que tem há criado o céu e a terra?

O pagão emudeceu a estas palavras; refletiu um instante, e por último quebrou o ídolo que lhe restava, e, prostrando-se per terra, adorou pela primeira vez ao verdadeiro Deus.

Feliz aquele que, era Deus
Tendo fé sincera e pura,
Pode crer que nesta vida
Ele é pai da criatura.


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Tradução de Nuno Álvares.
Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2023.