8/13/2023

O nada absoluto (Poema), de Iba Mendes

 


O NADA ABSOLUTO

Sentado sobre aquele tronco de árvore envelhecido, ele volta à mente ao ventre do passado, buscando nele os despojos de sua existência intranquila. Por que, meu Deus, se preocupara tanto com tantas coisas inúteis e desnecessárias? Por que desperdiçara seu precioso tempo em querer desvendar o impenetrável? Por que se deixara perturbar noites inteiras com as opiniões alheias, com o sopro do vento, com a brisa da noite ou com o voo da borboleta? Por que, enfim, consumira parte de sua vida em busca de um prêmio que nunca existira?

Erguendo-se, ele mira agora o topo do além, buscando na lonjura do tempo o posfácio de um livro que nunca leu. Pensa na vida que poderia ter sido e que não foi. Rumina coisas que estavam tão ao seu alcance, mas que se evaporaram na linha tênue dos anos. Tão pouco tempo pra tão longa culpa! Que preço pagou por tantas rugas? Qual o soldo de tão grande sacrifício?

Agora ele segue, deixando para trás uma trilha de lágrimas. Em sua mente, pretérito e futuro mesclam-se como uma nuvem que a neblina da manhã logo desfará. O presente é para ele uma sombra fronteiriça do que se foi o do que há de vir. Sim, não obstante tudo, alguma coisa há de vir, mesmo que seja o nada absoluto.


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São Paulo, agosto de 2023. 

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