Junto ao soberbo palácio do Marquês
de Santos Sousa, havia a humilde mansarda do operário Joaquim.
Nesta, a miséria, a enfermidade, as
lágrimas de sangue; naquele, os risos, os rapazes, os bailes e as patuscadas.
Numa noite em que o marquês dava
uma das suas festas habituais, o pobre Joaquim expirou nos braços da esposa
desesperada, em presença de três filhos, três pequenitos que não podiam
compreender a intensidade daquela desgraça.
O marquês tinha também uma filha,
que se chamava Lúcia, e era a criança mais adorável que imaginar se pode.
Soube Lúcia que em casa do morto
não havia sequer dinheiro para o enterro, e foi ter com o pai.
— "Papai o senhor me dá
cinqüenta cruzeiros?"
— "Para que queres tu
cinqüenta cruzeiros?"
— "Para fazer uma esmola.
Morreu o Joaquim, pobre pedreiro nosso vizinho, que há muito tempo se achava
doente e a viúva não tem com que fazer o enterro".
— "Minha filha, a viúva
pediu-te alguma coisa??"
— "Não, senhor".
— "Então deixa-a lá. Não te
habitues a dar esmolas sem que t'as peças. Há muito com que gastar dinheiro.
Olha, sabes quanto me custou a festa desta noite? Perto de dois mil cruzeiros..."
* * *
Vendo que o pai recusava atendê-la
retirou-se enquanto nos olhos bailavam duas lágrimas.
Foi ao seu quarto, pôs nos ombros
um manto de seda, tirou de um armário um pequeno cabaz desceu ao jardim,
apanhou as flores mais bonitas e viçosas, meteu-se no cabaz, e saiu para rua,
apregoando:
— "Quem compra estas flores?
Quem compra estas flores? Vendo-as para ajudar as despesas do enterro do pobre
Joaquim. Quem compra estas flores?"
Uma hora depois, a boa Lúcia
entrava em casa da viúva e entregava-lhe algumas pobres moedas de níquel.
Os três passageiros, furiosos
levantaram-se e olharam para cima, enquanto novas moedinhas fustigavam-lhes a
cara.
Giovani, colérico, vermelho, saía
dizendo-lhes:
— "Podem guardar o seu
dinheiro. Eu não aceito esmolas de quem insulta a minha pátria!"
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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