Genoveva, a velhinha tia Genoveva,
já tinha quase cem anos, um século de idade, um infinito de misérias e
padecimentos!
Uma noite achava-se ela sozinha no
seu quarto.
Estava a pensar na sua vida
passada, em todas as suas desgraças. Tinha perdido primeiro seus pais; depois
seus irmãos; seus parentes; seu marido; por último, seus filhos. Gerações e
gerações passaram; crianças nasceram, morreram. Só ela ainda vivia.
No coração sentia tão profundo desgosto, que chegou a amaldiçoar o próprio
Deus.
Engolfada assim nesses tristes
pensamentos, pareceu-lhe ouvir tocar à missa das almas.
Admirada por ver que a noite
correra tão velozmente, foi para a igreja.
Aí chegando, viu toda a matriz iluminada,
não com as velas de cera dos altares, mas por uma claridade opaca, amortecida.
O templo estava repletíssimo de fiéis,
sem ha ver um único lugar vazio.
Tia Genoveva quis sentar-se no seu
banco, mas viu-o ocupado e reconheceu nessa gente todos os seus parentes, desde
longo tempo mortos.
Uma de suas irmãs falecidas
chegou-se perto dela e disse-lhe:
— "Olha para os lados do
altar-mor, que verás teus filhos".
A desgraçada mãe viu-os em verdade:
um estava dependurada numa forca; o outro jazia no chão, assassinado.
— "Vês?! Aí tens o que lhes
teria acontecido, se Deus os não chamasse para si, quando estavam ainda na
idade da inocência".
A centenária caiu de joelhos,
rendendo graças ao Senhor.
---
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...