3/17/2025

Os bons irmãos ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel



OS BONS IRMÃOS

Matilde era uma pobre viúva que tinha três filhos — Abel, Ajácio e Ramiro, e o seu trabalho apenas chegava para mantê-los e acudir às próprias necessidades.

Os três irmãos amavam extremamente sua mãe, e como a viam muitas vezes aflita por não saber como havia de ganhar o seu sustento, tomaram uma resolução extraordinária.

A justiça anunciara que quem entregasse ou denunciassem o autor de certo roubo, seria gratificado com grande soma de dinheiro.

Abel, Ajácio e Ramiro combinaram entre si que um deles passaria por ladrão, e que os outros dois o conduziriam à prisão.

Deitaram sortes, e tocou a Ramiro fingir de ladrão.

Chegando ao Tribunal, o juiz interrogou-o, e ele respondeu, confessando-se autor do roubo.

Levaram-o para a cadeia e pagaram a Ajácio e Abel a recompensa prometida.

No dia seguinte, aflitos com a desgraça do irmão, os outros dois foram visitá-lo e consolá-lo.

O magistrado, indo casualmente à prisão, surpreendeu-os abraçados, chorando amargamente.

Deu ordem a um secreta que acompanhasse Abel e Ajácio, sem que o pressentissem.

O agente da polícia, desempenhando-se da sua comissão, contou que vira os dois rapazes entrar numa casinha de miserável aparência.

Aí, escutando à porta, ouvi-os narrar à sua velha mãe o que tinha feito.

A velhinha, lastimando-se, mandou-lhes que restituíssem o dinheiro, dizendo antes preferir morrer de fome, que ver o filho encarcerado.

O juiz, em vista daquilo, mandou chamar Ramiro, interrogando-o novamente.

O bom moço, sustentou ser o autor do furto, mas o magistrado interrompeu-o:

— "Basta! generoso mancebo! Sei o que tu e teus irmãos fizeste por causa de vossa velha".

Então abraçou-o, deu-lhe uma boa soma de dinheiro, e empregou os três bons irmãos, que viveram satisfeitos o resto de seus dias.


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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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