3/18/2025

O Feiticeiro ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel


O FEITICEIRO

Há muitos séculos passados, um moço chama do Zeferino Morand foi estudar em Paris, a mandado do pai.

Morreu o velho, e correu o boato de que fora motivo a tristeza causada pelo mau procedimento do moço.

Como quer que seja, não tendo este a esperar grande herança, tratou apenas de mandar buscar os papéis do defunto.

Ao lê-los, para queimar os inúteis encontrou uma carta de um homem que passava por feiticeiro.

Esse homem, por nome Guilherme, dizia ao velho Morand que lhe mandassem Zeferino, para se encarregar da sua fortuna e felicidade.

O rapaz, em vista daquilo, resolveu procurar o nigromante.

Mestre Guilherme, sabendo de quem se tratava, recebeu-o amavelmente.

O aspecto do velho mágico era venerável: tinha comprida barba branca e alvos cabelos ocultavam-se em partes debaixo de um barrete cor de violeta.

O feiticeiro convidou-o a entrar no seu laboratório, onde Zeferino se impressionou fortemente com o que via.

Perguntando-lhe o que queria, o jovem Morand respondeu que desejava ser rico.

— "Como fui muito amigo de teu pai", disse mestre Guilherme, vou satisfazer a sua vontade. Aqui está um cofre cheio de ouro. Todas as vezes que se esvaziar, volta aqui, que o encherei".

Zeferino começou a gastar sem conta, e frequentemente visitava Guilherme.

Notando que aquelas repetidas visitas iam aborrecendo o velho, e que ele, de um momento para outro, poderia recusar a dar-lhe mais dinheiro, resolveu apoderar-se pela força, dos ricos tesouros do mágico.

Rodeando-se de companheiros de vícios e capangas, entrou uma noite em casa do feiticeiro, ameaçou-o com um punhal, amarrando-o de pés e mãos, exigindo que ele lhe entregasse os seus tesouros.

Mestre Guilherme recusou-se, e não houve ameaças que o fizessem ceder.

Então Zeferino Morand e seus capangas não podendo descobrir o esconderijo carregavam o velho, e encerraram-no em uma prisão, prèviamente construída.

Era uma grande torre, toda ela revestida por dentro de lâminas de ferro polido. Sete janelas estreitas deixavam penetrar alguma luz.

Guilherme, sempre calmo, não se incomodou, e dormiu profundamente.

Ao despertar — horror! viu que a torre só tinha seis janelas; a sala em que estava era menor; e o teto baixara.

Morand apareceu, e novamente exigiu a entrega dos tesouros.

O velho recusou.

Seis dias se passaram, assim.

E cada um destes, a torre construída por um engenhoso maquinismo ia baixando, ia diminuindo.

Zeferino Morand vinha todos os dias exigir a fortuna do feiticeiro, que recusava eternamente com a mesma obstinação.

Afinal, no último dia, sentiu-se a torre ir estreitando, lentamente... lentamente... cada vez mais... até que apertaria de todo.

Mestre Guilherme, metendo as costas e os pés de encontro às duas extremidades da prisão, esticou-se, para impedi-la de continuar a estreitar-se; porém ela, por uma força irresistível, continuou sempre a contrair-se e vergou-lhe os joelhos sobre o peito. Os ossos começaram a estalar-lhe.

O moço apareceu.

— "Piedade! Piedade-" gritou o nigromante com voz abafada.

O outro porém, inflexível, limitou-se a dizer: "Os tesouros! dá-me as tuas riquezas!" Então, mestre Guilherme levou à boca um assobio de ouro.

Espalhou-se diante dos olhos de Zeferino Morand uma espécie de neblina espessa, que fez desaparecer a prisão.

O rapaz sentiu-se transportado ao laboratório do feiticeiro, como na primeira vez que ali fora enquanto mestre Guilherme, com um sorriso irônico, lhe dizia:

— Então, Zeferino, como vais de saúde? Queres mais dinheiro? Eh!... eh!... eh!..."


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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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