Há muitos séculos passados, um moço
chama do Zeferino Morand foi estudar em Paris, a mandado do pai.
Morreu o velho, e correu o boato de
que fora motivo a tristeza causada pelo mau procedimento do moço.
Como quer que seja, não tendo este
a esperar grande herança, tratou apenas de mandar buscar os papéis do defunto.
Ao lê-los, para queimar os inúteis
encontrou uma carta de um homem que passava por feiticeiro.
Esse homem, por nome Guilherme,
dizia ao velho Morand que lhe mandassem Zeferino, para se encarregar da sua
fortuna e felicidade.
O rapaz, em vista daquilo, resolveu
procurar o nigromante.
Mestre Guilherme, sabendo de quem
se tratava, recebeu-o amavelmente.
O aspecto do velho mágico era
venerável: tinha comprida barba branca e alvos cabelos ocultavam-se em partes
debaixo de um barrete cor de violeta.
O feiticeiro convidou-o a entrar no
seu laboratório, onde Zeferino se impressionou fortemente com o que via.
Perguntando-lhe o que queria, o
jovem Morand respondeu que desejava ser rico.
— "Como fui muito amigo de teu
pai", disse mestre Guilherme, vou satisfazer a sua vontade. Aqui está um
cofre cheio de ouro. Todas as vezes que se esvaziar, volta aqui, que o
encherei".
Zeferino começou a gastar sem
conta, e frequentemente visitava Guilherme.
Notando que aquelas repetidas
visitas iam aborrecendo o velho, e que ele, de um momento para outro, poderia
recusar a dar-lhe mais dinheiro, resolveu apoderar-se pela força, dos ricos
tesouros do mágico.
Rodeando-se de companheiros de
vícios e capangas, entrou uma noite em casa do feiticeiro, ameaçou-o com um
punhal, amarrando-o de pés e mãos, exigindo que ele lhe entregasse os seus
tesouros.
Mestre Guilherme recusou-se, e não
houve ameaças que o fizessem ceder.
Então Zeferino Morand e seus
capangas não podendo descobrir o esconderijo carregavam o velho, e
encerraram-no em uma prisão, prèviamente construída.
Era uma grande torre, toda ela
revestida por dentro de lâminas de ferro polido. Sete janelas estreitas
deixavam penetrar alguma luz.
Guilherme, sempre calmo, não se
incomodou, e dormiu profundamente.
Ao despertar — horror! viu que a
torre só tinha seis janelas; a sala em que estava era menor; e o teto baixara.
Morand apareceu, e novamente exigiu
a entrega dos tesouros.
O velho recusou.
Seis dias se passaram, assim.
E cada um destes, a torre
construída por um engenhoso maquinismo ia baixando, ia diminuindo.
Zeferino Morand vinha todos os dias
exigir a fortuna do feiticeiro, que recusava eternamente com a mesma
obstinação.
Afinal, no último dia, sentiu-se a
torre ir estreitando, lentamente... lentamente... cada vez mais... até que
apertaria de todo.
Mestre Guilherme, metendo as costas
e os pés de encontro às duas extremidades da prisão, esticou-se, para impedi-la
de continuar a estreitar-se; porém ela, por uma força irresistível, continuou
sempre a contrair-se e vergou-lhe os joelhos sobre o peito. Os ossos começaram
a estalar-lhe.
O moço apareceu.
— "Piedade! Piedade-"
gritou o nigromante com voz abafada.
O outro porém, inflexível,
limitou-se a dizer: "Os tesouros! dá-me as tuas riquezas!" Então,
mestre Guilherme levou à boca um assobio de ouro.
Espalhou-se diante dos olhos de
Zeferino Morand uma espécie de neblina espessa, que fez desaparecer a prisão.
O rapaz sentiu-se transportado ao
laboratório do feiticeiro, como na primeira vez que ali fora enquanto mestre
Guilherme, com um sorriso irônico, lhe dizia:
— Então, Zeferino, como vais de
saúde? Queres mais dinheiro? Eh!... eh!... eh!..."
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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