3/17/2025

A forca ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel


A FORCA

Honrado e probo, o barão Bertoli via entretanto, com imenso pesar, que seu filho Georgino não era um modelo de virtudes.

Sabendo que seu pai era rico, o jovem fidalgo andava em companhias de moças da sua sociedade, empregando mal o seu tempo, contraindo dívidas que Bertoli pagava.

Morrendo, o barão deixou-lhe uma boa fortuna e um grande envelope contendo conselhos e instruções.

Dizia a Georgino que se emendasse, e fizesse o possível para não despender loucamente a herança. Terminava comunicando-lhe que no sótão abandonado do palácio ele fizera construir uma forca. Destinava-se para o filho enforcar-se, se um dia se visse pobre, sem amigos nem proteção.

Vendo-se único possuidor da fortuna, não tendo a quem dar satisfação dos seus atos, mais que nunca meteu-se Georgino em pândegas de toda a sorte.

Amigos e companheiros sem conta viviam com ele, dia e noite, desfrutando-o.

Mas bem cedo a sua riqueza esgotou-se, e ele viu-se pobre, paupérrimo.

Abandonaram-no os amigos, toda a gente fugiu dele.

Tendo que entregar o palácio, já de há muito hipotecado aos credores, Georgino só então se lembrou da carta do barão.

Passou o laço ao pescoço e despenhou-se.

A forca, porém, moveu-se; despregou-se uma tábua do teto e rolaram pelo chão notas e moedas. O barão havia sido previdente e moço compreendeu a lição.

Tornou-se morigerado, e viveu com honradez e prudência.


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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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