3/17/2025

O mestre-escola ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel



O MESTRE-ESCOLA

Frantz, o pequenino estudante alsaciano, ia tarde para a escola pública. Já passava da hora, e ele corria a bom correr.

A manhã era formosa e serena. O sol brilhava majestosamente no céu claro, de um azul límpido, sem nuvens. Passarinhos trilavam na mata.

A princípio o estudantezinho lembrara-se de gazear mais um vez. Como seria bom ir armar laços na floresta! Mas já havia tantos dias que não comparecia ao colégio!

Resolveu ir.

Chegou à casa da escola.

A hora de principiarem as classes, os meninos costumavam fazer algazarra, e Frantz esperava aproveitar-se dessa circunstância para entrar, sem ser pressentido, e tomar lugar no banco.

Nesse dia, porém, reinava na sala o mais profundo silêncio. Os alunos, vestidos com suas roupas domingueiras, sentavam-se graves e calados. O velho professor vestia a sua sobrecasaca de pano preto, abotoada de alto a baixo.

Além disso — e foi o que mais surpreendeu o jovem estudante — na escola estavam reunidos os homens mais circunspectos do lugar: o antigo delegado de polícia, o antigo presidente da Câmara, e todas as velhas autoridades. Todos pareciam emocionados, tristes.

Frantz ia de admiração em admiração.

Então, no meio de grande silêncio o bondoso mestre-escola subiu para a sua cadeira, sobre o estrado, em frente à mesa:

— "Meus filhos: é a última vez que eu vos dou aula. Veio ordem de Berlim, proibindo que se ensine francês nas escolas da Alsácia e da Lorena.

O novo professor deve chegar amanhã... Eu não me quis sujeitar... Hoje é minha última lição". Sentou-se.

Depois começou a explicar, perguntando a todos os alunos.

O pequeno Frantz estava pálido. Queria chorar. Era aquela a derradeira aula de francês, e ele mal soletrava, quase não sabia escrever!

Os livros, que até pouco antes lhe pareciam pesados e fastidiosos, considerou-os como antigos camaradas. O professor, que sempre achava exigente, rabugento, impertinente, tornou-se de súbito para ele um velho amigo.

Lastimou o tempo perdido, mas já era tarde! É sempre assim, todos os dias, a gente quando é criança, diz:

Ora! tenho tempo!... aprenderei amanhã! Ninguém sabe o que lhe pode suceder!...

O mestre prosseguia sempre. Como voava o tempo!

Bateram duas horas.

Então o professor levantou-se. Tentou falar... Tinha a voz molhada de lágrimas... Estava prestes a romper em soluços...

— Meus filhos... meus amigos... E a minha última lição..."

Saiu do seu lugar, e chegando à pedra em que se faziam os exercícios de aritmética, escreveu a giz, em grandes letras tremidas:

— "Vive la France!..."


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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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