O MESTRE-ESCOLA

Frantz, o pequenino estudante
alsaciano, ia tarde para a escola pública. Já passava da hora, e ele corria a
bom correr.
A manhã era formosa e serena. O sol
brilhava majestosamente no céu claro, de um azul límpido, sem nuvens.
Passarinhos trilavam na mata.
A princípio o estudantezinho
lembrara-se de gazear mais um vez. Como seria bom ir armar laços na floresta!
Mas já havia tantos dias que não comparecia ao colégio!
Resolveu ir.
Chegou à casa da escola.
A hora de principiarem as classes,
os meninos costumavam fazer algazarra, e Frantz esperava aproveitar-se dessa
circunstância para entrar, sem ser pressentido, e tomar lugar no banco.
Nesse dia, porém, reinava na sala o
mais profundo silêncio. Os alunos, vestidos com suas roupas domingueiras,
sentavam-se graves e calados. O velho professor vestia a sua sobrecasaca de
pano preto, abotoada de alto a baixo.
Além disso — e foi o que mais surpreendeu
o jovem estudante — na escola estavam reunidos os homens mais circunspectos do
lugar: o antigo delegado de polícia, o antigo presidente da Câmara, e todas as
velhas autoridades. Todos pareciam emocionados, tristes.
Frantz ia de admiração em admiração.
Então, no meio de grande silêncio o
bondoso mestre-escola subiu para a sua cadeira, sobre o estrado, em frente à
mesa:
— "Meus filhos: é a última vez
que eu vos dou aula. Veio ordem de Berlim, proibindo que se ensine francês nas
escolas da Alsácia e da Lorena.
O novo professor deve chegar
amanhã... Eu não me quis sujeitar... Hoje é minha última lição".
Sentou-se.
Depois começou a explicar,
perguntando a todos os alunos.
O pequeno Frantz estava pálido.
Queria chorar. Era aquela a derradeira aula de francês, e ele mal soletrava,
quase não sabia escrever!
Os livros, que até pouco antes lhe
pareciam pesados e fastidiosos, considerou-os como antigos camaradas. O
professor, que sempre achava exigente, rabugento, impertinente, tornou-se de
súbito para ele um velho amigo.
Lastimou o tempo perdido, mas já
era tarde! É sempre assim, todos os dias, a gente quando é criança, diz:
Ora! tenho tempo!... aprenderei
amanhã! Ninguém sabe o que lhe pode suceder!...
O mestre prosseguia sempre. Como
voava o tempo!
Bateram duas horas.
Então o professor levantou-se.
Tentou falar... Tinha a voz molhada de lágrimas... Estava prestes a romper em soluços...
— Meus filhos... meus amigos... E a
minha última lição..."
Saiu do seu lugar, e chegando à
pedra em que se faziam os exercícios de aritmética, escreveu a giz, em grandes
letras tremidas:
— "Vive la France!..."
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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