Em uma aldeia solitária, entre
montanhas, vivia num casebre arruinado e tosco uma família pobre.
O homem lidava no campo, a mulher
acompanhava-o na faina, deixando em casa a amamentar o filhinho, uma cabra
cinzenta, que era o seu descanso e toda a sua fortuna.
O menino crescia, gordo, nédio, bem
tratado.
A cabrinha, a boa cabrinha, que
dava pelo nome de Mimi, acariciava-o, tinha para ele todos os desvelos.
Passou a primavera, passou o verão,
passou o outono, chegou, enfim, o inverno. Os campos não davam sustento. Veio o
tempo da cruel necessidade!
Os pobres trabalhadores voltaram
para debaixo das telhas do seu casebre, por onde entrava o frio, gemendo uns
soluços que lhes feriam dolorosamente o coração.
O inverno era longo e aspérrimo, e
faltava-lhes tudo!
Veio um dia, então, em que nada
encontraram para comer. O filhinho, pouco mamava já. A mãe sentia-se febril. O
pai, desesperado, não tinha recursos para acudir à esposa, e pensava na sua
triste sorte, quando viu a cabrinha adormecida a um canto.
Teve uma idéia: vendê-la! Levá-la a
uma feira, trocá-la-ia pelo sustento de alguns dias.
Amarrou, pôs, uma corda ao pescoço
de Mimi, que o olhava melancòlicamente, como se lhe perguntasse:
— "Que vais fazer da ama de
teu filho?!"
Arrastou-a à força dali; subiu a
desceu montanhas; chegou por fim, à vila, onde a vendeu a um rico lavrador.
Voltou.
A mulher melhorara, e andava louca
à procura do esposo e do animal.
Contou-lhe o marido tudo que
fizera.
Ouvindo-o, a infeliz, angustiada,
olhava compassiva para o filhinho adormecido.
Ia se aproximando a hora em que ele
costumava ter a ceia. Por isso moveu-se, chorou baixinho, à espera da sua Mimi.
Acudiu a mãe mas o pequeno, então,
chorou mais e mais! Nada havia que o consolasse. Nada! O pai, aflito, cheio de
remorso, arrepelava-se. A mãe, em vão, tentava sossegá-lo! Os pequeno
enlouquecia, pelo excesso de choro. O vento soluçava, entrando pelas fendas das
paredes rústicas.
Subitamente, ouviram ao longe um
balido queixoso.
Momentos depois raspavam, batiam
aflitamente à porta, que o aldeão correu a abrir de par em par.
Arfando de cansaço, a boa Mimi
entrou, correndo para o menino a quem entregou a teta cheia de leite!
Coitadinha! Afrontara todos os
perigos, fugira do redil do novo dono para a cabana, onde a chamava a voz dos
seus amores!
No outro dia, logo de manhã cedo,
foi o aldeão à vila entregar o que recebera na véspera pela cabrinha cinzenta.
O lavrador escutou-lhe a história.
Viu-lhe brilhar nos olhos o arrependimento, e, comovido, estendeu-lhe a mão,
pedindo-lhe para ser padrinho da criança, a quem enviou, com a bênção, uma bolsa
de dinheiro.
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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