3/18/2025

O castigo da ambição ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel



O CASTIGO DA AMBIÇÃO

O Padre Isidro era de uma ambição desmedida. Homem talentoso, muitíssimo instruído, todo o seu desejo era subir, subir sempre, tornar-se rico poderoso e célebre.

Um dia soube da existência de um mágico que sabia de tudo, e de tudo era capaz.

Dirigiu-se a ele, que o recebeu excelentemente bem.

— "Que queres tu, meu filho?

— "Tudo! respondeu Isidro.

— "Tudo, como? Que entendes por isso?

"Tudo — quero dizer: quero ser o mais que puder, ter o que for possível".

— "Gosto disso", respondeu o mágico. "Aprecio a tua franqueza, e estimo os ambiciosos. Fizeste bem em vir comigo, pois muito posso fazer em teu benefício. Receio, todavia, que sejas ingrato".

— "Isso não!" falou o padre. "Ingrato não serei".

— "Então prometes que te lembrarás de mim?"

— "Prometo".

— "Bem então ouve... Espera primeiro".

O mágico tocou uma campainha de ouro, e apareceu um anãozinho negro, vestido de vermelho.

— "Zano", disse ao pretinho, "este senhor ceia comigo. Apronte duas perdizes para a ceia".

— "Visto que és ambiciosos, triunfarás desde já”.

Nesse intervalo, bateram à porta.

Era um mensageiro, que viera a todo a galope trazer uma carta a Isidro.

O bispo do lugar acaba de morrer e o padre fora escolhido para substituí-lo.

— "Que felicidade!" exclamou o mágico. "Estimo que recebas tão boa notícia em minha casa. E como estás feito bispo, aproveito o ensejo para pedir-te o lugar de teu secretário.

— "Desculpe-me", responde o novo bispo, "mas não posso servi-lo nessa pretensão. Reservo esse lugar para meu irmão. Se quiser, porém, vir comigo, prometo-lhe um bom lugar.

— O nigromante aceitou e puseram-se ambos a caminho.

— Chegados à sede do bispado, alguns dias depois, veio a notícia que o arcebispo falecera, e Isidro fora chamado para substituí-lo.

— "Já que vossa reverendíssima passa a arcebispo, desejaria, ser bispo"; lembrou o feiticeiro.

— "Bispo, não", disse Isidro, "porque meu tio que é cônego, já me fez esse pedido. Deixe estar que não me esquecerei do senhor".

O arcebispo, menos de um mês após, era nomeado cardeal.

— "Senhor cardeal", disse-lhe o mágico, "vossa eminência tem-se esquecido de mim, e eu vim pedir-lhe o lugar vago de arcebispo".

— "Ora, meu amigo, acabei de nomear um dos meus amigos e companheiros de seminário. Venha a Roma que aí me será fácil colocá-lo".

O cardeal Isidro subiu a papa. Chegara a maior posição do mundo inteiro.

E nigromante dirigiu-se a ele.

— "Ei-vos papa, ei-vos senhor do mundo! Venho agora lembrar-vos a vossa promessa. Desejo ser cardeal".

— "Cardeal! Você enlouqueceu? Quer ser cardeal? Sabe que mais? Dou-lhe um lugar de criado. Serve-lhe?"

— "Ah! Quando fostes me procurar, bem previ a vossa ingratidão! Os homens são assim; prometem muito, quando precisam de nós, mas desde que se vêm em altas posições, esquecem-se".

— "Se você continuar a falar deste modo, mando atirá-lo pela janela afora", disse o orgulhoso e soberbo papa.

— "Zano", falou o feiticeiro tranquilamente, "ponha apenas uma perdiz no espeto; este senhor não ceia comigo".

Tudo desapareceu: Roma, o Vaticano, o papa e os esplendores.

Isidro viu-se na casinha do feiticeiro, que lhe disse:

— "Então?! e seu fosse acreditar nos seus protestos de gratidão?"


---
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sugestão, críticas e outras coisas...