3/18/2025

Os carneirinhos de Panúrgio ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel


OS CARNEIRINHOS DE PANÚRGIO

Panúrgio foi um homem célebre pelo seu espírito e prontidão das respostas que dava a propósito de qualquer assunto, e ainda pelas inúmeras partidas que pregou a várias pessoas.

Uma vez teve que fazer uma longa viagem por mar, e embarcou num navio.

Entre os viajantes, havia um vendedor de carneiros, que conduzia a bordo um grande rebanho.

Esse homem julgava-se muito engraçado, e gostava de fazer todo mundo rir com as suas pilhérias desenxabidas.

Não sabendo quem era Panúrgio, e vendo-o com ar humilde, calado, e mais que pobremente vestido, achou que devia tomá-lo à sua conta.

Desde o primeiro dia de viagem, não cessou de zombar dele, tasquinando-o, debicando-o à propósito de tudo.

Era em todos os lugares e a todas às horas: na mesa do almoço, no jantar, na conversa, sempre e sempre.

O navio estava em alto mar, longe, muito longe das costas. Céu e mar.

Na tolda, os passageiros conversavam tranquilamente, e o gaiato aproveitou para mais uma vez procurar recair o ridículo em Panúrgio.

Este de repente, perguntou-lhe se queria vender-lhe um carneiro.

O dono do rebanho prosseguia sempre com as pilhérias, mas Panúrgio insistia em querer comprar um dos animais.

O homem, finalmente, aceitou, e o outro deu-lhe o dinheiro tratado.

Escolheu um dos carneiros mais bonitos e mais gordos, e interrogou:

— "Posso levar este?"

Pode sim, bom homem. Mas para que quer você o animal?" falou o mercador.

Panúrgio, sem responder, voltou-se para os companheiros de viagem, e disse-lhes:

— "Os senhores são testemunhas como comprei este carneiro. É meu. Posso fazer dele o que quiser — dar, vender, comer... Quero ver se ele sabe nadar..."

E dizendo estas palavras, ràpidamente, sem que ninguém pudesse contê-lo, atirou o bichinho ao mar.

Os carneiros, vendo o seu companheiro saltar pela borda, como são instintivamente imitadores, atiraram-se também n’água, um a um.

Não houve possibilidade de agarrá-los, e o próprio mercador, querendo prender um, segurando-o pelas pernas, caiu no mar.

É por isso que, desde esse tempo, em todo o mundo, costuma-se chamar "carneiros de Panúrgio" àqueles que sempre seguem cegamente o exemplo dos outros.


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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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