Panúrgio foi um homem célebre pelo
seu espírito e prontidão das respostas que dava a propósito de qualquer
assunto, e ainda pelas inúmeras partidas que pregou a várias pessoas.
Uma vez teve que fazer uma longa
viagem por mar, e embarcou num navio.
Entre os viajantes, havia um
vendedor de carneiros, que conduzia a bordo um grande rebanho.
Esse homem julgava-se muito
engraçado, e gostava de fazer todo mundo rir com as suas pilhérias
desenxabidas.
Não sabendo quem era Panúrgio, e
vendo-o com ar humilde, calado, e mais que pobremente vestido, achou que devia
tomá-lo à sua conta.
Desde o primeiro dia de viagem, não
cessou de zombar dele, tasquinando-o, debicando-o à propósito de tudo.
Era em todos os lugares e a todas
às horas: na mesa do almoço, no jantar, na conversa, sempre e sempre.
O navio estava em alto mar, longe,
muito longe das costas. Céu e mar.
Na tolda, os passageiros
conversavam tranquilamente, e o gaiato aproveitou para mais uma vez procurar
recair o ridículo em Panúrgio.
Este de repente, perguntou-lhe se
queria vender-lhe um carneiro.
O dono do rebanho prosseguia sempre
com as pilhérias, mas Panúrgio insistia em querer comprar um dos animais.
O homem, finalmente, aceitou, e o
outro deu-lhe o dinheiro tratado.
Escolheu um dos carneiros mais
bonitos e mais gordos, e interrogou:
— "Posso levar este?"
Pode sim, bom homem. Mas para que
quer você o animal?" falou o mercador.
Panúrgio, sem responder, voltou-se
para os companheiros de viagem, e disse-lhes:
— "Os senhores são testemunhas
como comprei este carneiro. É meu. Posso fazer dele o que quiser — dar, vender,
comer... Quero ver se ele sabe nadar..."
E dizendo estas palavras,
ràpidamente, sem que ninguém pudesse contê-lo, atirou o bichinho ao mar.
Os carneiros, vendo o seu
companheiro saltar pela borda, como são instintivamente imitadores, atiraram-se
também n’água, um a um.
Não houve possibilidade de
agarrá-los, e o próprio mercador, querendo prender um, segurando-o pelas
pernas, caiu no mar.
É por isso que, desde esse tempo,
em todo o mundo, costuma-se chamar "carneiros de Panúrgio" àqueles
que sempre seguem cegamente o exemplo dos outros.
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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