3/19/2025

O passarinho azul ("Histórias da Baratinha"), por Figueiredo Pimentel



O PASSARINHO AZUL

Um homem possuía um passarinho azul, todo azul, da cor do céu. Pusera-o na melhor gaiola que encontrara, e dispensava-lhe todos os cuidados possíveis, não consentindo que outra pessoa dele se ocupasse.

Aníbal, um de seus filhos, era um menino muito travesso e buliçoso.

Uma vez em que o pai saíra, despendurou a gaiola, e indo para o fundo do quintal, começou a brincar com o pássaro, até que abriu a porta.

O passarinho escapuliu-se e imediatamente transformou-se numa grande ave, maior que uma águia, agarrando com o bico o pobre Aníbal e voando com ele pelos ares em fora.

Depois de algumas horas, desceram a um rico palácio, onde tomou a forma humana.

Aníbal e o pássaro viviam aí satisfeitos, sem nada lhes faltar.

Tendo um dia de se ausentar, o pássaro azul prendeu o menino num aposento escuro.

Logo depois que saiu, Aníbal principiou a fazer todos os esforços para sair da prisão, e furando a parede conseguiu fazer um buraco por onde pôde passar.

Então percorreu a seu gosto todo o palácio, que ainda não apreciara devidamente, havendo alguns quartos que jamais visitara.

Encontrou em todos eles grandes cofres cheios de dinheiro e pedras preciosas.

Ao entrar no último, ficou admiradíssimo, porque o viu inteiramente desguarnecida, tendo apenas uma varinha encostada a um canto da casa.

Como havia resolvido fugir do palácio certo de que o pássaro azul o castigaria ao regressar, o rapaz encheu os bolsos de dinheiro, e levou consigo a varinha para lhe servir de bengala.

Por muitos dias Aníbal caminho sem destino.

Já estava arrependido de haver abandonado o palácio do pássaro azul, onde tinha tudo quanto queria.

Uma tarde jornadeava por um atalho, quando viu um camaleão. Quis bater-lhe indo a vara bater na pedra.

Ao mesmo tempo apareceu em sua frente uma mulher formosíssima que lhe disse:

— "Escrava da vara de condão, estou às tuas ordens. Que queres?"

Aníbal ficou atrapalhado, mas recuperando a presença de espírito, disse:

— "Quero ver-me neste mesmo instante na capital do reino".

Imediatamente achou-se ali.

Encontrou um negro velho, conhecido por "Pai Quinzomba" e pediu-lhe que lhe cedesse a sua roupa suja e esmulambada, em troca dos seus belos e ricos vestuários.

O negro aceitou e ele disfarçou-se.

Mas a formosa Mauritana, a mais moça das três princesas reais, viu-o mudar de trajes, e foi dizer ao pai que queria casar-se com o negro mais imundo. que passasse em frente do palácio.

O rei, que não contrariava jamais as filhas, foi obrigada a ceder, e quando Aníbal, transformado a "Pai Quizomba"" passou, mandou chamá-lo.

Efetuou-se o casamento.

* * *

Pouco depois o soberano adoeceu gravemente e estava à morte, quando veio ao palácio uma feiticeira.

A velha declarou que sua majestade só ficaria bom se comesse dois passarinhos vermelhos.

Os dois genros do monarca, que queriam agradá-lo, saíram logo à caça.

— "Pai Quizomba", mudando de roupa e aparecendo na sua verdadeira figura de Aníbal, chamou em seu auxílio a escrava da varinha de condão.

Mandou dizer que queria ficar com os dois pássaros cor de sangue, no mato, por onde deviam passar seus cunhados.

Assim sucedeu, e efetivamente, minutos após os dois genros do soberano enfermo por ali passaram.

Vendo nas mãos de um caçador as aves que buscavam propuseram comprá-las, e Aníbal concordou, mas com a condição de se deixarem eles marcar nas costas com um ferro, como se fazia antigamente com os cativos.

Os moços aceitaram e regressaram com os passarinhos.

O rei, comendo, ficou bom.

Realizaram-se, então, imponentes festejos, para comemorar tão faustoso acontecimento.

O rei deu um grande banquete.

Na ocasião de irem todos para a mesa Aníbal despiu a roupa do "Pai Quizomba", lavou cara e as mãos e apareceu vestido de veludo. ouro e pedras preciosas.

Declarou, porém, ao rei que se não sentava na mesa com os seus escravos, e para provar que os dois cunhados o eram, mostrou a marca.

Os rapazes e suas mulheres, envergonhados, atiraram-se da janela abaixo, morrendo.

Então Aníbal mandou buscar sua família, viveu longos anos, vindo mais tarde a reinar por morte do rei, seu sogro.


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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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