O PASSARINHO AZUL

Um homem possuía um passarinho
azul, todo azul, da cor do céu. Pusera-o na melhor gaiola que encontrara, e
dispensava-lhe todos os cuidados possíveis, não consentindo que outra pessoa dele
se ocupasse.
Aníbal, um de seus filhos, era um
menino muito travesso e buliçoso.
Uma vez em que o pai saíra,
despendurou a gaiola, e indo para o fundo do quintal, começou a brincar com o
pássaro, até que abriu a porta.
O passarinho escapuliu-se e
imediatamente transformou-se numa grande ave, maior que uma águia, agarrando
com o bico o pobre Aníbal e voando com ele pelos ares em fora.
Depois de algumas horas, desceram a
um rico palácio, onde tomou a forma humana.
Aníbal e o pássaro viviam aí
satisfeitos, sem nada lhes faltar.
Tendo um dia de se ausentar, o
pássaro azul prendeu o menino num aposento escuro.
Logo depois que saiu, Aníbal
principiou a fazer todos os esforços para sair da prisão, e furando a parede
conseguiu fazer um buraco por onde pôde passar.
Então percorreu a seu gosto todo o
palácio, que ainda não apreciara devidamente, havendo alguns quartos que jamais
visitara.
Encontrou em todos eles grandes
cofres cheios de dinheiro e pedras preciosas.
Ao entrar no último, ficou
admiradíssimo, porque o viu inteiramente desguarnecida, tendo apenas uma
varinha encostada a um canto da casa.
Como havia resolvido fugir do
palácio certo de que o pássaro azul o castigaria ao regressar, o rapaz encheu
os bolsos de dinheiro, e levou consigo a varinha para lhe servir de bengala.
Por muitos dias Aníbal caminho sem
destino.
Já estava arrependido de haver
abandonado o palácio do pássaro azul, onde tinha tudo quanto queria.
Uma tarde jornadeava por um atalho,
quando viu um camaleão. Quis bater-lhe indo a vara bater na pedra.
Ao mesmo tempo apareceu em sua
frente uma mulher formosíssima que lhe disse:
— "Escrava da vara de condão,
estou às tuas ordens. Que queres?"
Aníbal ficou atrapalhado, mas
recuperando a presença de espírito, disse:
— "Quero ver-me neste mesmo
instante na capital do reino".
Imediatamente achou-se ali.
Encontrou um negro velho, conhecido
por "Pai Quinzomba" e pediu-lhe que lhe cedesse a sua roupa suja e
esmulambada, em troca dos seus belos e ricos vestuários.
O negro aceitou e ele disfarçou-se.
Mas a formosa Mauritana, a mais
moça das três princesas reais, viu-o mudar de trajes, e foi dizer ao pai que
queria casar-se com o negro mais imundo. que passasse em frente do palácio.
O rei, que não contrariava jamais
as filhas, foi obrigada a ceder, e quando Aníbal, transformado a "Pai
Quizomba"" passou, mandou chamá-lo.
Efetuou-se o casamento.
* * *
Pouco depois o soberano adoeceu
gravemente e estava à morte, quando veio ao palácio uma feiticeira.
A velha declarou que sua majestade
só ficaria bom se comesse dois passarinhos vermelhos.
Os dois genros do monarca, que
queriam agradá-lo, saíram logo à caça.
— "Pai Quizomba", mudando
de roupa e aparecendo na sua verdadeira figura de Aníbal, chamou em seu auxílio
a escrava da varinha de condão.
Mandou dizer que queria ficar com
os dois pássaros cor de sangue, no mato, por onde deviam passar seus cunhados.
Assim sucedeu, e efetivamente,
minutos após os dois genros do soberano enfermo por ali passaram.
Vendo nas mãos de um caçador as
aves que buscavam propuseram comprá-las, e Aníbal concordou, mas com a condição
de se deixarem eles marcar nas costas com um ferro, como se fazia antigamente
com os cativos.
Os moços aceitaram e regressaram
com os passarinhos.
O rei, comendo, ficou bom.
Realizaram-se, então, imponentes
festejos, para comemorar tão faustoso acontecimento.
O rei deu um grande banquete.
Na ocasião de irem todos para a
mesa Aníbal despiu a roupa do "Pai Quizomba", lavou cara e as mãos e
apareceu vestido de veludo. ouro e pedras preciosas.
Declarou, porém, ao rei que se não
sentava na mesa com os seus escravos, e para provar que os dois cunhados o
eram, mostrou a marca.
Os rapazes e suas mulheres,
envergonhados, atiraram-se da janela abaixo, morrendo.
Então Aníbal mandou buscar sua
família, viveu longos anos, vindo mais tarde a reinar por morte do rei, seu sogro.
---
Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...