3/14/2025

Pele de Asno (Charles Perrault), por Monteiro Lobato



PELE DE ASNO

Era uma vez um rei tão bom, tão amado pelo povo e tão respeitado pelos seus vizinhos que se tornou o mais feliz de todos os monarcas. Teve ainda a felicidade de casar-se com uma princesa tão bela quanto virtuosa, a qual lhe deu uma filha só, mas tão encantadora que os pais viviam num perfeito enlevo.

No palácio reinava a abundância e o bom gosto; os ministros eram dos mais prudentes e hábeis; os cortesãos, dedicadíssimos; os criados, dos mais fiéis. As enormes cavalariças abrigavam os mais belos cavalos do mundo e mostravam os melhores arreios, embora toda a gente estranhasse que o animal de maior importância ali fosse um asno de compridíssimas orelhas. Não era, entretanto, por simples capricho que o rei lhe dera um posto de tal distinção. Esse asno bem merecia tais honras, porque era na realidade um asno maravilhoso; basta dizer que, diàriamente, sua baia amanhecia recoberta de moedas de ouro, que o rei mandava recolher.

Mas como não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe, aconteceu que certo dia a rainha caiu de cama com uma doença misteriosa que nenhum médico atinava curar. A tristeza no palácio foi imensa. O rei, desesperado, fez promessas em todos os templos do reino, nas quais ofereceu sua própria vida em troca da cura da amada esposa. Mas tudo em vão. Afinal, sentindo aproximar-se a sua derradeira hora, a rainha chamou o esposo e disse-lhe entre lágrimas:

— Meu amigo, permiti-me que faça antes de morrer uma recomendação: e é que se de novo casardes...

Aqui o rei a interrompeu, apertando-lhe as mãos e banhando-as de lágrimas, como a dizer que nunca semelhante ideia lhe poderia passar pela cabeça. “Não, não, minha cara esposa; antes recomendai-me que vos siga no túmulo!"

— O reino, continuou a rainha com serena firmeza, pede sucessores para o trono e eu não vos dei senão uma filha; tereis, portanto, de casar-vos de novo —  e eu vos peço que só vos caseis se encontrardes uma princesa mais bela e mais bem dotada do que eu. Se me jurardes isto, morrerei contente.

É de crer que a rainha possuísse grande amor-próprio, e que se obrigou o esposo a este juramento foi por não admitir que houvesse outra princesa capaz de excedê-la em dotes. Mas o rei jurou e ela instantes depois exalava o último suspiro.

A dor do esposo foi imensa; por muitos dias outra coisa não fez senão chorar e lamentar-se. Por fim foi-se acalmando, porque as grandes dores não duram muito, e um dia recebeu uma representação dos seus ministros pedindo-lhe que se casasse de novo. Isto o fez derramar novas lágrimas de dor reavivada e a resposta foi que jurara casar-se de novo ùnicamente no caso de aparecer uma princesa mais bela e mais bem dotada do que a falecida, o que era impossível. Os ministros alegaram que isso de beleza era tolice, e que para bem do reino só se fazia necessário uma rainha virtuosa e bastante fecunda, que lhe desse numerosos filhos e assim sossegasse o povo quanto à sucessão da coroa. Alegaram também que a princesa real possuía todas as qualidades para tornar-se uma grande rainha, mas que, como fosse mulher, logo casaria com um príncipe de fora e seria levada para outras terras. Os descendentes dessa linhagem, vendo que ali no reino não havia herdeiro para o trono, poderiam provocar guerras de sucessão grandemente desastrosas para todos.

O rei tudo ouviu; ponderou aquelas sábias considerações e prometeu que tomaria nova esposa. E realmente procurou entre as princesas em ponto de casamento uma que lhe conviesse. Todos os dias os ministros traziam-lhe retratos de princesas dos reinos vizinhos — mas o rei sacudia a cabeça. Nenhuma se aproximava da querida defunta. O tempo corria e à medida que o tempo corria a jovem princesa tornava-se mais e mais bela, começando já a exceder sua própria mãe. O rei pôs tento naquilo e como já andasse com o juízo meio abalado, entrou a sentir pela filha um amor violento, que nada tinha de amor paterno. Por fim, não podendo ocultar seus sentimentos, declarou que só com ela se casaria.

A jovem princesa, que era virtuosíssima, quase desmaiou quando ouviu semelhante declaração. Lançou-se aos pés do pai e o conjurou com toda a eloquência a não cometer esse horrível crime.

O rei foi consultar um druida para pôr-se em paz com a consciência, e esse druida, que era um grande ambicioso e só desejava tornar-se um dos favoritos de Sua Majestade, convenceu-o de que não havia mal nenhum naquele casamento e que além de vantajoso para todos constituía até uma obra pia. O rei abraçou-o e voltou para o palácio mais decidido do que nunca e a princesa recebeu ordem de preparar-se para o casamento.

A moça, desesperada, só teve uma ideia — correr a consultar a Fada Lilás, sua madrinha. Para isso partiu naquela mesma noite, num carrinho puxado por um carneiro que conhecia todas as estradas. A fada queria muito à princesa e logo que a viu chegar foi dizendo que já sabia de tudo.

— Sim, minha filha, seria um grande erro desposar teu pai. Mas há um jeito de conciliar as coisas sem contrariá-lo de frente. Basta que concordes no casamento, mas que exijas como condição um vestido cor do tempo. Nem com todas as suas riquezas e todo o seu poder conseguirá ele tal vestido.

A princesa agradeceu à sua madrinha e voltou para o palácio, onde declarou ao rei que sim, que se casaria com ele, mas com a condição de ser presenteada com um vestido cor do tempo. O rei ficou encantado com a resposta e reunindo imediatamente os mais hábeis alfaiates do reino, ordenou-lhes que apresentassem aquele vestido; em caso contrário iriam todos para a forca.

Não foi preciso tanto. Dois dias depois os alfaiates voltavam com o vestido encomendado — uma beleza de vestido, leve como as manhãs e azul como o céu. A princesa desapontou e correu de novo em procura de sua madrinha. Que fazer? "Peça agora um vestido cor da lua", aconselhou a fada — e a moça pediu ao rei um vestido cor da lua, o qual foi encomendado incontinenti.

No dia seguinte o novo vestido estava pronto e igualzinho à cor da lua. A princesa desesperou e estava a lamentar-se quando a fada lhe aparece e disse: "Ou muito me engano, ou se pedires um vestido cor do sol o rei ficará atrapalhado, porque é impossível conseguir-se um vestido cor do sol — e, quando nada, ganharás tempo."

A princesa assim fez — pediu ao rei um vestido cor do sol, o qual foi sem demora encomendado. E para que os alfaiates pudessem fornecê-lo, o rei lhes deu todos os diamantes e rubis de sua própria coroa para que fossem empregados como enfeites. Quando os alfaiates trouxeram esse vestido, todos do palácio tiveram de fechar os olhos — tal era o esplendor do vestido. Nunca aparecera na corte maravilha mais bem trabalhada.

A princesa sentiu-se confusa e, pretextando que o vestido lhe tinha feito mal aos olhos, retirou-se para o seu quarto, onde a esperava a boa fada madrinha.

— Minha filha, coragem! disse ela. O rei teima em seus projetos e os nossos estratagemas estão falhando. Creio, entretanto, que se lhe pedires a pele do asno que produz todo o ouro que sustenta a grandeza desta corte, ele vacilará. Vai. Vai pedir-lhe a pele do asno.

A moça, muito contente e esperançosa, correu a pedir ao pai a pele do asno. O rei admirou-se daquele capricho, mas sem demora deu ordem para o sacrifício do asno, cuja pele foi apresentada à princesa.

A moça correu para o quarto a descabelar-se, no maior dos desesperos, mas sua madrinha não teve dificuldade em acalmá-la.

— Que tens, minha filha? Fica sabendo que foi ótimo isso. Envolve-te nessa pele e sai pelo mundo. Quem tudo sacrifica pela virtude é sempre recompensado pelos deuses. Vai. Eu farei que o que te pertence te acompanhe. E aqui está esta minha vara de condão. Sempre que bateres com ela no chão, verás aparecer as coisas todas que te fazem serventia.

A princesa abraçou a madrinha, pedindo-lhe que a não abandonasse nunca. Depois envolveu-se na pele de asno, sujou a cara com a fuligem da chaminé e saiu do palácio sem ser percebida.

O desaparecimento da princesa causou grande sensação. O rei, que já havia ordenado uma festa magnífica para o dia do casamento, caiu no maior desespero. Mandou que saíssem em procura da filha mais de mil mosqueteiros. Mas tudo foi inútil. A varinha de condão tinha a propriedade de tornar a princesa invisível a todos os seus perseguidores.

Logo que deixou o palácio a princesa foi andando, andando, andando até muito longe, em procura duma casa onde empregar-se. Todos lhe davam esmolas, mas ninguém a queria receber. Aquela cara suja e aquele vestuário de pele de asno repugnava a toda a gente. Por fim chegou aos arredores duma cidade onde havia uma chácara. Justamente andavam ali à procura de uma criada que fizesse os serviços mais grosseiros, como lavar o cocho dos porcos, guardar os gansos e outras coisas assim. Vendo aquela vagabunda tão sujinha a dona da chácara propôs-se a empregá-la — o que a princesa aceitou, pois estava cansadíssima.

A mísera donzela teve de ficar a um canto da cozinha, sofrendo que toda a criadagem caçoasse de sua pessoa do modo mais estúpido — e tudo por causa da tal pele que lhe servia de vestuário. Por fim acostumou-se, e com tanto capricho deu conta da sua obrigação que a dona da chácara começou a vê-la com melhores olhos.

Um dia em que se sentara ao pé dum tanque teve a ideia de mirar-se ao espelho da água e assustou-se com o horrível aspecto da sua sujeira. Lavou-se então e foi clareando até ficar como era linda e branca como a lua. Logo depois teve de vestir novamente a horrenda pele de asno para voltar para casa.

No dia seguinte não havia trabalho por ser dia de festa e então a princesa, por meio dum toque da varinha, fez surgirem os seus pertences de toalete e divertiu-se em pentear-se e enfeitar-se com os seus mais belos atavios. Seu quartinho era tão pequeno que a cauda dos vestidos não podiam desdobrar-se. Com justa razão a princesa admirou a sua própria beleza e teve assim um dia feliz. Resolveu depois disso que todas horas de folga seriam empregadas em vestir seus lindos vestidos e enfeitar-se mas sempre às ocultas do mundo, dentro das quatro paredes daquele quartinho. Ficava às vezes tão maravilhosamente linda que até suspirava por não haver ali ninguém que a visse.

Num desses dias de folga em que Pele de Asno (era conhecida por esse nome) tinha vestido o seu vestido cor do sol, aconteceu deter-se ali o filho do rei, que saíra à caça. Era um formoso príncipe, ídolo do povo e queridíssimo de seus pais. A chacareira mostrou-lhe tudo, as aves que criava, as plantações que fazia, e como o príncipe fosse muito curioso, percorreu todas as dependências, tudo examinando. Ao passar por certo corredor encontrou uma porta fechada e teve a curiosidade de espiar pelo buraco da fechadura — e viu lá dentro uma visão de beleza que o deixou deslumbrado. Era Pele de Asno no seu vestido cor do sol.

Preocupadíssimo, o príncipe retirou-se dali e foi indagar quem morava naquele cômodo escuro. Responderam-lhe ser uma pastora imunda de nome Pele de Asno, assim chamada em virtude de uma pele de asno que lhe servia de vestido; disseram ainda que era uma criatura tão suja que ninguém tinha ânimo de aproximar-se dela ou com ela falar; apenas por caridade a haviam tomado para pastora de ovelhas e gansos.

O príncipe compreendeu logo a inutilidade de questionar aquela gente estúpida e voltou para a corte de coração transtornado. Não lhe saía da imaginação a maravilhosa divindade vislumbrada por uns instantes pelo buraco da fechadura. Chegou até a arrepender-se de não haver arrombado a porta. E tal foi a sua excitação que caiu com febre cerebral, ficando malíssimo. A rainha mostrou-se desesperada com o estado daquele seu filho único e prometeu mil recompensas a quem pudesse curá-lo.

Acudiram os melhores médicos do reino e depois de muito exame verificaram que o mal do príncipe provinha duma intensa preocupação moral. A rainha foi avisada disso e indo ter com o filho pediu-lhe que confessasse lealmente o que tinha no coração. Declarou que, fosse o que fosse, tudo ela faria por amor dele; que se era a coroa o que ele desejava, seu pai certo que a cederia sem o menor pesar; que se desejava como esposa alguma princesa, que a teria, ainda que para isso fosse necessário declarar uma guerra; mas que pelo amor de Deus tudo lhe confessasse, pois do contrário ela morreria também.

— Minha mãe, respondeu o príncipe com voz moribunda; não sou nenhum filho desnaturado que queira pôr na cabeça a coroa ainda em vida de seu pai. Ao contrário; meus votos são para que ele viva longos anos. Minha mãe bem sabe que não há filho mais obediente e meigo do que eu.

— Sim, meu filho, mas tua vida nos é por demais preciosa e queremos saber o que te preocupa, que tudo faremos para te salvar a vida —  e salvando tua vida salvaremos também as nossas.

— Pois bem, minha mãe; direi a verdade. O que quero é isto só — que Pele de Asno me faça um bolo para matar meu desejo.

A rainha ficou atônita de ouvir aquele estranho pedido, com menção duma criatura desconhecida e de nome tão feio.

— Quem é Pele de Asno, meu filho?

Um dos homens do palácio, que estivera já na chácara, respondeu:

— Senhora, Pele de Asno é uma pastora imunda, de pele encardida de sujeira, que guarda carneiros e gansos numa das chácaras de propriedade real.

— Não importa, disse a rainha. Meu filho numa das suas caçadas comeu talvez algum bolo preparado por essa criatura e agora está com essa fantasia de doente. Mandem que Pele de Asno lhe prepare sem demora um desses bolos.

Emissários partiram a galope para a chácara em procura de Pele de Asno, a fim de encomendar o bolo desejado.

É preciso que se diga no momento em que o príncipe espiou pelo buraco da fechadura, no dia da sua visita à chácara, a princesa havia percebido a manobra, e depois, chegando à janelinha, pode vê-lo quando já se afastava dali e muito admirou o garbo e a beleza varonil do príncipe. Dizem até que suspirou - e que depois disso suspirava sempre que se recordava daquele momento. Seja como for, quando Pele de Asno recebeu a encomenda do bolo ficou agitada de pressentimentos e correu pressurosa a fechar-se em seu quartinho a fim de pôr mãos à tarefa. Para isso lavou-se, penteou-se, vestiu o mais belo vestido e entrou a amassar a mais alva e pura farinha com a manteiga e os ovos mais frescos. Em certo momento, não se sabe se de propósito ou por acaso, deixou cair na massa um anel que trazia no dedo. Depois de pronto o bolo, ocultou-se de novo sob a horrível pele e abriu a porta para entregar a encomenda aos emissários, aos quais timidamente perguntou como estava passando o príncipe. Os orgulhosos emissários nem deram resposta; tomaram o bolo e partiram a galope para o palácio.

O príncipe recebeu o bolo com avidez e o comeu com tal vivacidade que os médicos presentes ficaram mal impressionados, não achando aquilo natural. Logo depois começou a tossir com desespero, como se alguma coisa o estivesse asfixiando. Era o anel. Tirou-o da boca e viu tratar-se de uma jóia de rara beleza, que só poderia servir num dedinho extremamente delicado.

O príncipe beijou-o mil vezes e colocou-o à sua cabeceira, para de novo mirá-lo e beijá-lo sempre que estivesse só. Atormentava-o agora o desejo de conhecer dona do anel, mas tinha receio de contar o que havia visto pelo buraco da fechadura certo de que todos motejariam dele. E torturado de muitos sentimentos contraditórios acabou piorando; sua febre subiu. Os médicos então disseram à rainha que a doença do príncipe era amor recolhido.

Imediatamente a rainha e o rei dirigiram-se para o quarto do querido doente.

― Meu filho! disseram eles. Sê bondoso para com teus pais e dize o nome daquela que te conquistou o coração, pois juramos aceitar a tua escolha, ainda que recaia na mais humilde serva.

O príncipe, enternecido com aquelas palavras, respondeu:

— Meu pai e minha mãe, eu não quero contrair uma aliança que vos desagrade, e para demonstrar o que digo declaro que esposarei a dona deste anel. Creio que a dona dum dedinho que nele caiba não pode ser nenhuma rústica indigna de nós.

O rei e a rainha tomaram o anel, examinaram-no atentamente e foram da mesma opinião, isto é, que a dona daquela jóia não podia ser uma qualquer. Em seguida o rei abraçou o filho e retirou-se, e mandou que se fizesse uma proclamação anunciando que a moça em cujo dedo coubesse o anel seria a esposa do herdeiro do trono. Houve então uma verdadeira romaria ao palácio, de moças casadouras. Vieram em primeiro lugar várias princesas; depois vieram as duquesas, as marquesas e as baronesas mas nenhuma conseguiu ajustar o anel a nenhum dos seus dedos. Depois vieram as mais lindas moças da cidade, não pertencentes à nobreza  — e nenhuma apresentou dedo em que se ajustasse o anel. O príncipe já estava melhor e fazia ele mesmo a prova.

Vieram finalmente inúmeras moças de baixa condição, criadas e camareiras, e com todas sucedeu o mesmo. O príncipe mandou que viessem também as cozinheiras e guardadoras de gado — e nada, nada.

— Só falta vir essa Pele de Asno que me preparou o bolo, advertiu o príncipe, e todos riram-se, dizendo que uma tal sujeira de criatura nem merecia pôr o pé no palácio.

— Quero que a tragam, declarou o príncipe; não há razão para que venham todas menos ela.

Os cortesãos obedeceram e foram buscá-la, mas rindo-se da excentricidade do príncipe.

Pele de Asno, que já amava o príncipe, sentiu o coração bater quando soube da barulheira que ia pela corte por causa do seu anel e, desconfiada de que também viriam buscá-la, preparou-se da melhor maneira e vestiu o seu mais lindo vestido. Depois recobriu-se com a pele de asno e ficou à espera. Nisto chegaram os mensageiros com o recado chamando-a — e esses mensageiros riram-se a morrer daquele horror de criatura. "Do palácio te chamam, ó sujeira! para casar com o filho do rei, ah! ah! ah!"

O príncipe desapontou quando Pele de Asno foi introduzida em seu quarto.

— É você mesma a criatura que mora naquele quartinho dos fundos da chácara dos gansos?

— Sim, senhor príncipe, respondeu ela.

— Mostre-me sua mão, disse o príncipe, apenas por desencargo de consciência e suspirando, desanimado.

que aconteceu então foi um assombro para todos. Ao receber a ordem de mostrar a mão, Pele de Asno espichou de dentro da horrível pele de asno uma delicada mãozinha rosada em cujo dedo médio o anel entrou como uma luva. Nisto a pele de asno caiu dos seus ombros e aos olhos de todos surgiu uma criatura de beleza arrebatadora. O príncipe lançou-se fora da cama e, ajoelhado aos seus pés, abraçou-a com ternura infinita; a seguir o rei e a rainha fizeram o mesmo, perguntando-lhe se queria receber o príncipe como esposo.

A princesa, cheia de confusão, ia abrindo a boca para responder, quando o teto se fendeu e a Fada Lilás surgiu num carro maravilhoso, tecido de pétalas de lilases, e contou aos presentes toda a história da princesa.

A alegria dos soberanos foi imensa ao saberem Pele de Asno era uma princesa de sangue real e que portanto digna de ser a esposa do herdeiro do trono — e mais uma vez a abraçaram e beijaram.

O casamento realizou-se pouco depois com grandes festas e o velho rei aproveitou a oportunidade para entregar o trono ao seu amado filho. O príncipe não queria, mas o rei o forçou a esse passo — e para comemorar tão grande acontecimento foram decretados três meses de festas contínuas que ficaram célebres nos anais daquele reino.

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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)

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