
Levi, o piedoso rabino, homem mais
puro, o homem mais virtuoso, o mais justo, mais santo e sábio de toda a Judéia,
doutrinava, num sábado, à porta do templo.
Enquanto ele ensinava a prática do
bem e da virtude em casa, os seus dois filhos — rapazes fortes e vigorosos —
atacados de um mal desconhecido, morriam repentinamente.
A mãe carregou os dois cadáveres
deitou-os sobre a cama e cobriu-os com um lençol.
A tarde, Levi regressou a casa.
— "Mulher onde estão os nossos
dois filhos que quero abençoá-los?"
— "Saíram a passeio, e não
devem tardar".
Sara apresentou-lhe uma taça.
O rabino rendeu graças a Deus pelo
fim do dia, bebeu, e tornou a indagar.
— "Mulher, onde estão os
nossos dois filhos que quero abençoá-los?"
Sara de novo respondeu:
— "Saíram a passeio, e não
devem tardar". A mulher pôs a comida na mesa, e depois que o esposo comeu,
falou:
— "Mestre, desejo pedir-te um
conselho. Há dias confiaram-me umas jóias em depósito, que hoje reclamam. Devo
restituí-las?"
— "Como é que tu. Sara, minha
esposa fazes semelhante pergunta. Como querias estar autorizada a não restituir
os bens que pertencem a outrem?"
— "Não é isso, mestre, quis
apenas prevenir-te, antes de restituir o depósito".
* * *
Passado algum tempo ela chamou-o ao
quarto, e erguendo o sudário mostrou-lhe os filhos mortos.
— "Meus pobres filhos!... meus
pobres filhos!..." exclamou Levi, soluçando.
Desviando os olhos cheios d’água,
Sara, tomando a mão, disse:
— "Não me ensinaste mestre que
era preciso restituir, sem murmurar, o depósito que nos foi confiado? Deus
no-lo deu, Deus no-los tirou: bendito seja o nome de Deus!"
— "Bendito seja o nome de
Deus!" — repetiu o rabino.
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Pesquisa, transcrição e adequação ortográfica: Iba Mendes (2025)
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