PEDRO MALASARTE
Pedro Malasarte ou Pedro das Malas
Artes, era assim chamado devido às inúmeras travessuras e más artes que vivia a
fazer para desespero da sua família.
Desde muito pequeno o Pedrinho foi
levado da breca, incorrigível.
Em casa, no colégio, na rua — onde
houvesse crianças — qualquer estripulia, qualquer má partida que aparecesse,
ninguém perguntava o autor, porque havia de ser necessariamente feita por ele.
As suas travessuras que passaram à
tradição e nos chegaram, dariam matéria para um grosso volume, se quiséssemos
contá-las.
Por isso narraremos apenas algumas.
Os pais de Pedro Malasarte, vendo
que não podiam mais contê-lo, e que ele estava em idade de trabalhar e ganhar
dinheiro, mandaram-no procurar ocupação.
O rapaz saiu de casa, e depois de
se dirigir a vários lugares, chegou a uma estrada deserta, longe de qualquer
povoado.
Achava-se com fome, e sentando-se à
margem do caminho, fez fogo para cozinhar a comida que levava.
Tirou do saco uma panela de ferro
que a mãe lhe havia dado, acendeu uma pequena fogueira e colocou dentro da vasilha
carne seca, abóbora, cebola, alho, sal, gordura e água. Esperou pacientemente
que o jantar estivesse preparado.
Quando a comida estava pronta e a
água borbulhando, viu aparecer ao longe, alguns homens que conduziam numerosa
récua de porcos. Imediatamente o imaginoso rapaz ideou mais uma partida.
Cavou depressa um buraco no chão,
enterrou os tições e as cinzas, e espalhando a terra, pôs o caldeirão em outro
lugar.
Os homens, que eram mercadores de
porcos, chegaram alguns minutos mais tarde.
Vendo aquele moço acocorado perto
da panela que fervia, perguntaram-lhe muito espantados o que é que estava
fazendo.
— Pois os senhores não estão vendo?
Estou cozinhando — respondeu.
— Sem fogo?! — inquiriram os
porqueiros.
— Certamente — tornou Pedro. — Esta
panela é encantada. Quando quero cozinhar basta pôr a comida que desejar e
água, e ela começa a ferver por si.
Os homens consultaram-se algum
tempo, lembrando que aquele objeto lhes seria de grande vantagem para as suas
longas viagens.
Propuseram comprá-la.
— Conforme. Estou pronto a vender a
minha panela mágica. A questão é o preço.
Depois de regatear muito tempo,
Pedro Malasarte aceitou os duzentos porcos que traziam, e os mercadores
despediram-se contentíssimos, julgando terem feito excelente negócio.
Quando Pedrinho se viu possuidor
daqueles animais, dirigiu-se para a fazenda situada a algumas léguas de
distância e ofereceu-os à venda.
O fazendeiro aceitou, e empregou-o
para guardá-los. Pedro acedeu, recebeu dois contos e ficou sendo guardador de
porcos, com casa, comida, roupa e ordenado.
A primeira coisa que o rapaz tratou
de saber foi dos hábitos do patrão.
Viu que era um fazendeiro riquíssimo,
mas muito ignorante e tolo, fácil de ser enganado, bem como a esposa.
Pedro Malasarte vivia no campo,
guardando porcos. Um dia apareceram-lhe tropeiros e perguntaram-lhe de quem era
aquele gado, e se o queria vender, e o preço.
O moço disse que os porcos eram
seus, e vendia-os, por três contos, porque já estavam gordos e crescidos, mas
declarou que só os venderia sem rabo.
Os compradores sujeitaram-se à
condição e levaram a porcada.
Então arrumou a trouxa, e voltou à
ceva, e enterrou todos os rabinhos. Saiu dali correndo, e foi chamar o patrão,
exclamando muito aflito que os porcos estavam se enterrando pela lama a dentro.
O fazendeiro voou e ficou espantado vendo que era verdade o que o empregado lhe
dissera. Como estavam um pouco distante da casa, mandou-o buscar dois alviões
para desenterrar o gado.
Pedro dirigiu-se à fazendeira e
disse-lhe que o patrão mandava buscar dois contos de réis. A mulher não
acreditou, mas ele gritou:
— Ó patrão! Não foram dois que
mandou buscar? — E fez sinal com os dedos.
— Foram, sim,— respondeu o
fazendeiro. — Traze-os depressa.
A mulher, em vista daquilo entregou
os dois contos de réis ao rapaz, que fugiu da fazenda. Levava consigo sete
contos.
Com essa quantia Pedro Malasarte
estabeleceu-se, e veio a ser negociante rico e considerado.
O fazendeiro vendo que o empregado
não aparecia, puxou o primeiro rabo, que saiu sem dificuldade, do mesmo modo
que os restantes. Viu-se roubado, mas nada pode fazer, porque Pedro havia
desaparecido.
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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.
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