5/01/2025

Pedro Malasarte (Conto), de Figueiredo Pimentel


PEDRO MALASARTE

Pedro Malasarte ou Pedro das Malas Artes, era assim chamado devido às inúmeras travessuras e más artes que vivia a fazer para desespero da sua família.

Desde muito pequeno o Pedrinho foi levado da breca, incorrigível.

Em casa, no colégio, na rua — onde houvesse crianças — qualquer estripulia, qualquer má partida que aparecesse, ninguém perguntava o autor, porque havia de ser necessariamente feita por ele.

As suas travessuras que passaram à tradição e nos chegaram, dariam matéria para um grosso volume, se quiséssemos contá-las.

Por isso narraremos apenas algumas.

Os pais de Pedro Malasarte, vendo que não podiam mais contê-lo, e que ele estava em idade de trabalhar e ganhar dinheiro, mandaram-no procurar ocupação.

O rapaz saiu de casa, e depois de se dirigir a vários lugares, chegou a uma estrada deserta, longe de qualquer povoado.

Achava-se com fome, e sentando-se à margem do caminho, fez fogo para cozinhar a comida que levava.

Tirou do saco uma panela de ferro que a mãe lhe havia dado, acendeu uma pequena fogueira e colocou dentro da vasilha carne seca, abóbora, cebola, alho, sal, gordura e água. Esperou pacientemente que o jantar estivesse preparado.

Quando a comida estava pronta e a água borbulhando, viu aparecer ao longe, alguns homens que conduziam numerosa récua de porcos. Imediatamente o imaginoso rapaz ideou mais uma partida.

Cavou depressa um buraco no chão, enterrou os tições e as cinzas, e espalhando a terra, pôs o caldeirão em outro lugar.

Os homens, que eram mercadores de porcos, chegaram alguns minutos mais tarde.

Vendo aquele moço acocorado perto da panela que fervia, perguntaram-lhe muito espantados o que é que estava fazendo.

— Pois os senhores não estão vendo? Estou cozinhando — respondeu.

— Sem fogo?! — inquiriram os porqueiros.

— Certamente — tornou Pedro. — Esta panela é encantada. Quando quero cozinhar basta pôr a comida que desejar e água, e ela começa a ferver por si.

Os homens consultaram-se algum tempo, lembrando que aquele objeto lhes seria de grande vantagem para as suas longas viagens.

Propuseram comprá-la.

— Conforme. Estou pronto a vender a minha panela mágica. A questão é o preço.

Depois de regatear muito tempo, Pedro Malasarte aceitou os duzentos porcos que traziam, e os mercadores despediram-se contentíssimos, julgando terem feito excelente negócio.

Quando Pedrinho se viu possuidor daqueles animais, dirigiu-se para a fazenda situada a algumas léguas de distância e ofereceu-os à venda.

O fazendeiro aceitou, e empregou-o para guardá-los. Pedro acedeu, recebeu dois contos e ficou sendo guardador de porcos, com casa, comida, roupa e ordenado.

A primeira coisa que o rapaz tratou de saber foi dos hábitos do patrão.

Viu que era um fazendeiro riquíssimo, mas muito ignorante e tolo, fácil de ser enganado, bem como a esposa.

Pedro Malasarte vivia no campo, guardando porcos. Um dia apareceram-lhe tropeiros e perguntaram-lhe de quem era aquele gado, e se o queria vender, e o preço.

O moço disse que os porcos eram seus, e vendia-os, por três contos, porque já estavam gordos e crescidos, mas declarou que só os venderia sem rabo.

Os compradores sujeitaram-se à condição e levaram a porcada.

Então arrumou a trouxa, e voltou à ceva, e enterrou todos os rabinhos. Saiu dali correndo, e foi chamar o patrão, exclamando muito aflito que os porcos estavam se enterrando pela lama a dentro. O fazendeiro voou e ficou espantado vendo que era verdade o que o empregado lhe dissera. Como estavam um pouco distante da casa, mandou-o buscar dois alviões para desenterrar o gado.

Pedro dirigiu-se à fazendeira e disse-lhe que o patrão mandava buscar dois contos de réis. A mulher não acreditou, mas ele gritou:

— Ó patrão! Não foram dois que mandou buscar? — E fez sinal com os dedos.

— Foram, sim,— respondeu o fazendeiro. — Traze-os depressa.

A mulher, em vista daquilo entregou os dois contos de réis ao rapaz, que fugiu da fazenda. Levava consigo sete contos.

Com essa quantia Pedro Malasarte estabeleceu-se, e veio a ser negociante rico e considerado.

O fazendeiro vendo que o empregado não aparecia, puxou o primeiro rabo, que saiu sem dificuldade, do mesmo modo que os restantes. Viu-se roubado, mas nada pode fazer, porque Pedro havia desaparecido.

 

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Iba Mendes Editor Digital. São Paulo, 2025.

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