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12/13/2018

Os Bondes (Paródia ao poema “As Pombas”, de Raimundo Correia)


A PARÓDIA

Os Bondes
(Paródia ao poema “As Pombas”, de Raimundo Correia)

Vai-se o primeiro bonde em disparada...
Vai-se outro mais... mais outro... enfim dezenas
De bondes vão-se da estação, apenas
Raia, sanguínea fresca, a madrugada

Já tarde, quando a gente, fatigada,
Paira do sonho nas regiões serenas,
Eles, de um dia inteiro após as penas,
Regressam à cocheira sossegada.

Também dos nossos bolsos, onde soam,
Os níqueis, um por um, céleres voam,
Como voam os bondes da estação.

No correr da cobrança as asas soltam,
Porém, se ao seu abrigo os bondes voltam,
Ao bolso não nos volta um só tostão!

AUTOR ANÔNIMO
Revista “Careta”, 1943.



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O ORIGINAL


As Pombas

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

RAIMUNDO CORREIA

Aparências (Paródia ao poema “Mal Secreto”, de Raimundo Correia)


A PARÓDIA

Aparências
(Paródia ao poema “Mal Secreto”, de Raimundo Correia)

Se tudo que no estômago se abriga
E ele oculta com tanta discrição;
Se tudo que se bebe e se mastiga
Não ficasse em profunda escuridão;

Se aquilo com que a fome se mitiga
Sofresse à nossa vista a digestão,
Quanta ente que o rei traz na barriga
Correria da parca refeição!

Quanta gente que eruta coisas caras
O bucho pouco menos que vazio
Ocultar buscaria dos presentes!

Quanta gente, em camisa de onze varas,
Depois de magro almoço de assobio,
Vem para a rua palitando os dentes!

AUTOR ANÔNIMO
Revista “Careta”, 1943.


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O ORIGINAL


Mal Secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
RAIMUNDO CORREIA