6/25/2013

Os "fast-food" da fé

Os "fast-food" da fé


Alguns, entre os quais o João Pintor, justificam freqüentar os ‘bíblias’, porque estes – dizia ele – não era como os padres, que para tudo, querem dinheiro” - Lima Barreto, em “Clara dos Anjos”.

Quando o nosso grande escritor Lima Barreto compôs sua obra “Clara dos Anjos”, em 1922, os protestantes eram chamados pejorativamente de os “bíblias”. Embora o catolicismo não fosse mais religião oficial do Brasil (os republicanos deram um basta na oficialidade desse privilégio religioso), os “bíblias” ainda eram uma minoria irrisória naquele momento. A Igreja Católica exercia forte pressão contra as demais religiões, principalmente cont
ra esses tais “bíblias”, os quais freqüentemente eram coagidos a abandonar sua fé, ao mesmo tempo em que eram acusados de práticas heréticas. Ser um “bíblia” era opor-se ao pensamento religioso dominante. Significava, portanto, estar à margem da verdadeira fé cristã, obviamente a católica apostólica romana.

O fim da hegemonia católica significou a abertura para novas formas de manifestações religiosas. Em 1910, por exemplo, Gunnar Vingren e Daniel Berg, dois missionários suecos, fundaram a Igreja Assembléia de Deus, dando início ao movimento Pentecostal no Brasil. A partir daí os protestantes começaram a ramificar-se em distintas denominações, que arrastaram para si uma boa parcela dos adeptos do catolicismo. Já na década de 70 apareceu por aqui o neopentecostalismo, oriundo, principalmente, das tradicionais igrejas evangélicas. Esse movimento destacou-se pela ênfase dada aos benefícios materiais que poderiam advir da fé, daí ser conhecido também como “movimento da fé”. Seus principais expoentes no Brasil são: Edir Macedo, R. R. Soares, Jorge Tadeu, Valnice Milhomes, Estevam Hernandes, Silas Malafaia, entre outros, a maioria dos quais “inspirados” em líderes religiosos americanos como Benny Hinn, Kenneth Hagin, T. L. Osborn, Fred Price, Hobart Freeman, Charles Capps, Jerry Savelle, John Osteen, Lester Sumrall etc. Em seu livro “Super Crentes”, o teólogo Paulo Romeiro, sintetiza a ideologia desses pregadores da seguinte forma: “Seus líderes apregoam que os humanos possuem a natureza divina, que consultar médicos ou tomar remédios é pouco recomendável para o cristão, que Jesus foi milionário e que a soberania de Deus é limitada pela vontade humana”.


Outra característica, e essa seja talvez a mais realçada entre todas, diz respeito à questão financeira, ao "vil metal". A famigerada Teologia da Prosperidade, que rege o movimento, tornou-se numa eficientíssima ferramenta de enriquecimento por intermédio da exploração da fé alheia. Muitos desses líderes construíram verdadeiros impérios financeiros, como o famoso caso do proprietário da Rede Record de televisão, que já abriu “franquias” de suas “fábricas da fé” por diversas partes do mundo, inclusive na Europa. A chantagem emocional nos cultos, com a qual se oferece o “melhor dos mundos” (bom emprego, saúde, carro do ano, mulheres e maridos fiéis e dedicados etc.) aos que se “comprometem com Deus”, cada vez mais requinta-se, transformando-se numa poderosa arma publicitária para fazer lotar ainda mais os seus templos. A mais recente moda, agora, chama-se “trízimo”: 10% para o pai, 10% para o filho e 10% para o espírito santo. Quanto mais no “fundo do poço” encontra-se uma pessoa, mais suscetível ela se torna aos clamorosos apelos desses gananciosos pregadores. Em seus cultos poucas passagens bíblicas são tão repetidas quanto o “trazei o dízimo”, que aparece no Antigo Testamento da Bíblia. O motivo parece óbvio, afinal, é com os dízimos suados dos “irmãos” que eles ostentam seus luxos e mantêm suas boas vidas. “Mas não obrigamos ninguém a dar o dízimo”, dizem eles em seus melhores papéis de autores. Todavia, se para ter meus problemas financeiros resolvidos ou se para ter a cura para minha enfermidade, eu preciso oferecer o “meu melhor” para Deus, neste caso, a “obrigatoriedade” explicita-se sob a forma de extorsão espiritual”. Ninguém que, frequentando habitualmente uma dessas igrejas, e que, ouvindo assiduamente acerca dos “maravilhosos benefícios” advindos do ato de dar, há de permanecer inerte a tão exaltados apelos. A consciência fragilizada dessa pessoa fatalmente será adestrada sob fervorosos gritos de glória a Deus e aleluias.

Enquanto isso, o “ungido de Deus” viaja confortavelmente em seu jatinho particular e manda seus abençoados filhos para estudar na terra do Tio Sam, de onde retornarão doutores e, quiçá, prontos para seguir os mesmos e prósperos passos do pai.

É isso!


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Por: Iba Mendes (julho, 2010)

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