Alguns comentários sobre o clássico
“Frankenstein ou o Moderno Prometeu, de Mary Shelley
Lendo recentemente o famoso
livro de Mary Shelley, “Frankenstein ou o Moderno Prometeu”, dei por conta do
nome do dr. Erasmus Darwin (avô do conhecido naturalista inglês Charles
Darwin), o qual juntamente com outros cientistas da época serviu como fonte de
inspiração à escritora inglesa no processo de criação deste clássico da
literatura universal, considerado o maior romance de terror de todos os tempos.
Para quem não sabe, Erasmus
Darwin foi um dos muitos intelectuais europeus que aderiram à crença no
Galvanismo, uma teoria fundada no final do século XVIII por Luigi Galvani,
médico italiano e professor de Anatomia da Universidade de Bolonha. Os adeptos
desta bizarra teoria (na época considerada científica) realizavam experimentos
com estímulos elétricos em animais e cadáveres com o intuito de curar
enfermidades e, segundo diziam, até
animar defuntos.
O nome do avô de Charles
Darwin aparece já no início do livro, quando a autora passa a explicar a origem
da narrativa e os motivos que lhes incitaram na elaboração da obra:
“Muitas e longas eram as conversas entre Lord Byron e Shelley às quais
eu assistia como ouvinte devota, mas silenciosa. Durante uma delas, discutiu-se
sobre várias doutrinas filosóficas e, entre outras, sobre a natureza do
princípio da vida, e se havia possibilidade de ele ser descoberto e comunicado
a algo. Eles falavam das experiências do Dr. Darwin (não me refiro ao que o
doutor realmente fez ou disse que fez, mas no meu próprio interesse, no que se
falava que ele teria feito), que havia guardado um pedacinho de vidro até que,
por algum meio extraordinário, ele começou a se mover voluntariamente. Afinal
de contas, não era assim que a vida devia ser criada. Talvez se pudesse
reanimar um cadáver; as correntes galvânicas tinham dado sinal disso; talvez se
pudesse fabricar as partes componentes de uma criatura, juntá-las e animá-las
com o calor da vida”.
Mais adiante, ainda no
Prefácio do livro, Shelley faz menção do nome do dr. Erasmus Darwin e de fisiologistas
alemães, afirmando que as ideias deles davam a entender que o fato sobre o qual se fundamentava sua ficção não seria algo
impossível de acontecer:
“O doutor Darwin e alguns fisiologistas alemães têm dado a entender que
o fato sobre o qual se fundamenta esta ficção não é impossível de acontecer.
Não se deve pensar que eu alimente a menor crença em tal imaginação; no
entanto, admitindo-a como a base de obra de fantasia, eu não me considerei como
apenas tecendo uma série de terrores sobrenaturais. O fato do qual depende o
interesse da história está isento das desvantagens de um simples conto de
espectros ou encantamento. Foi sugerido pela originalidade das situações que
ele desenvolve e, conquanto impossível como um fato físico, proporciona um
ponto de vista à imaginação, para o delineamento das paixões humanas mais
compreensivo e imperioso do que podem oferecer quaisquer umas das relações
comuns dos acontecimentos reais.”
Já no enredo da história, o
Dr. Victor Frankenstein, o cientista que arquitetou e consumou a criação do
terrível monstro, quando na tentativa de criar a versão feminina da criatura, menciona
umas tais descobertas realizadas por
cientistas da Inglaterra, país onde nasceu e viveu o dr. Darwin, e para onde
ele planejava viajar na busca de novos conhecimentos para seu novo
empreendimento científico:
“A criação de uma fêmea significava a volta ao meu trabalho nefando de
outrora, meses e meses de estudos e pesquisas laboriosas. Ouvira falar de umas
descobertas que tinham sido feitas por um cientista inglês, cujo conhecimento
era importante para o meu êxito, e por várias vezes cogitei de acertar com meu
pai minha viagem à Inglaterra, sem, naturalmente, dar-lhe a conhecer o meu real
objetivo.” / “Lembrei-me também da necessidade de viajar à Inglaterra ou manter
uma correspondência, certamente longa, com os cientistas daquele país, cujas
recentes descobertas eu considerava de utilidade indispensável ao
empreendimento que tinha de realizar. Esse, porém, seria um meio por demais
demorado e insatisfatório de obter as informações que desejava.”
O avô de Charles Darwin, que
era membro de uma tal Sociedade Lunar (“Lunar Society of Birmingham”), é também
considerado um dos fundadores do evolucionismo, ao lado de Spencer e outros
nomes. Esta sociedade tinha por finalidade buscar novos conhecimentos que
combatessem o “obscurantismo religioso”. Paradoxalmente, porém, o dr. Darwin
fez do seu naturalismo extremado sua própria religião, chegando mesmo a afirmar
que as plantas tinham alma e por isso eram capazes de expressar emoções como os
humanos. Talvez isso explique em partes porque seu famoso neto, Charles Darwin,
o ignorou quase que completamente em suas obras, muito embora, em alguns
aspectos, serviu-se dele para
fundamentar algumas de suas ideias sobre evolução.
É isso!
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Por: Iba Mendes (2009)
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Por: Iba Mendes (2009)
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