A sabedoria do Midrash
Para quem não
conhece, Midrash (plural midrashim) é um termo cuja origem vem de
uma raiz hebraica que significa: estudar,
examinar, explicar, elucidar.
Refere-se a um gênero de literatura rabínica que se desenvolveu a partir do
século V, perdurando até o fim do século XVI. Na prática trata-se de interpretações minuciosas
de passagens bíblicas, compiladas em antologias, junto com lendas e contos do
folclore judeu, porém, com a devida reverência ao texto original.
Como exemplo de
interpretação do Midrash, farei um
brevíssimo comentário de uma passagem bíblica em que Deus ordena a Abraão que
conduza seu filho Isaque a uma montanha onde deveria sacrificá-lo. Vejamos...
“E disse: Toma agora o teu filho, o teu único
filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em
holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi. / Ao terceiro dia levantou Abraão os seus
olhos, e viu o lugar de longe” (Gn. 22:2, 4).
Por qual razão Deus
indicou um local tão distante? Por que não uma montanha mais próxima, a qual pudesse
ser alcançada em um dia em vez de três, por exemplo? Não havia nas proximidades
da habitação de Abraão um local propício para um ato sacrifical?
É claro que sim.
Mas, então, por que a três dias de distância?
Pobre Abraão! Além
de conduzir o próprio filho ao cruel sacrifício, teria que suportar ainda tão prolongado
remorso! Por quê?
Bom. Segundo
interpretação do Midrash, Deus agiu
assim a fim de dar tempo suficiente para Abraão pensar. Ou seja: quanto maior fosse a distância
mais tempo ele teria para mudar de ideia e voltar atrás de seu propósito. Deus
não queria que ele agisse pelo impulso do momento, mas que meditasse mais longamente acerca do que lhe fora incumbido fazer.
Ademais, diz a Midrash, o fato de Abraão ter tido três
dias para desobedecer ao mandado de Deus, mostra o quanto Ele é justo. O
Criador, quando pede alguma coisa, sempre oferece a possibilidade do livre
arbítrio, isto é, do domínio absoluto das próprias ações.
É isso!
---
Por: Iba Mendes (2002)
Por: Iba Mendes (2002)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sugestão, críticas e outras coisas...