O pecado é tão efêmero quanto a
paixão dos namorados. Enquanto num belo dia de primavera acordam entre beijos e
juras de amor eterno, numa noite fria de inverno despedem-se entre insultos e maldições.
O que ontem foi consequência da astuta ação do diabo, hoje é o simples e
virtuoso resultado do progresso.
Conta-se que, quando o
guarda-chuva fora introduzido nos hábitos dos ingleses, a igreja manifestou
ferozmente sua repulsa ao indigno objeto, justificando que seu uso era uma afronta
aos santos desígnios de Deus, pois impedia que a chuva, benção divina, caísse naturalmente
dos céus sobre as suas criaturas. Aqui no Brasil, durante o período da chamada “época
de ouro do rádio”, a conhecida Igreja Evangélica Assembleia de Deus proibia terminantemente
seus membros de ouvir o “mundano aparelho”, alegando tratar-se um veículo maligno
que fazia despertar nas pessoas o desejo pelo pecado. Hoje, não apenas a rádio
como também a televisão tornaram, para a referida denominação, numa poderosa e abençoada ferramenta para promoção do Reino de Deus na terra.
Tempos atrás dediquei-me a uma
interessante tarefa de pesquisar os estatutos doutrinários de algumas
denominações evangélicas. No que concerne especificamente ao modo como o homem
deveria manter sua aparência física, o resultado mostrou-se ridiculamente interessante.
Na primeira delas, dizia-se que era expressamente proibido ao membro raspar a
barba e fazer o bigode; na segunda, proibia-o de realizar ambas as coisas; na
terceira, permitia-se, no máximo, apenas deixar crescer o bigode; e, por último,
a mais liberal delas, deixava tal prática viril ao critério pessoal do membro. Por
trás de tais proibições impõe-se o estigma do pecado, cuja marca no homem é o
sentimento torturante de culpa ou delito.
O termo pecado, do grego hamartios
(hebraico hattah; latim peccatum) significa, ao pé da letra, “errar
o alvo”. Teologicamente é explicado como uma transgressão deliberada e
consciente às leis de Deus. Até aqui a
questão é sumária e de fácil compreensão. A grande questão, porém, reside na multiplicidade
de conceitos que essas denominações constroem em torno do que é pecado.
Dependendo da personalidade e da vivência social pregressa do seu fundador, o pecado pode adquirir as mais bizarras tonalidades. Se tal indivíduo nasceu numa família com características conservadoras e machistas, a doutrina de sua igreja fatalmente culminará em regras mais austeras para as mulheres, as quais serão proibidas de usar calça, bijuterias, cosméticos e outros utensílios considerados por ele como malignos ou mundanos. O perfil psicológico deste líder exercerá assim uma enorme influência no viver cotidiano de seus membros, os quais, por medo de pecar, serão submetidos a grandes sacrifícios.
Dependendo da personalidade e da vivência social pregressa do seu fundador, o pecado pode adquirir as mais bizarras tonalidades. Se tal indivíduo nasceu numa família com características conservadoras e machistas, a doutrina de sua igreja fatalmente culminará em regras mais austeras para as mulheres, as quais serão proibidas de usar calça, bijuterias, cosméticos e outros utensílios considerados por ele como malignos ou mundanos. O perfil psicológico deste líder exercerá assim uma enorme influência no viver cotidiano de seus membros, os quais, por medo de pecar, serão submetidos a grandes sacrifícios.
Antes de se converterem, muitos
destes líderes-fundadores viveram em grande devassidão, praticando os mais pornográficos
pecados. Ao impor um padrão doutrinário mais rígido para as mulheres, com a
proibição de determinados tipos de roupas e outros objetos típicos da vaidade
feminina, eles na verdade estão preocupados em evitar o pecado de si próprios e
não com as santas “virtudes” delas. Explico: por se sentirem fortemente inclinados
aos desejos libidinosos da carne, torna-se mais fácil estabelecer um padrão de
vestes à mulher do que controlar seus desejos latentes. Creem que, quanto menos
sobressair a beleza feminina (sua natural sensualidade) menos custoso será
dominar seus apetites devassos. O pecado não está, portanto, na conduta
supostamente pecaminosa da mulher, mas no excesso de testosterona deles. O conceito de “pecado” revela-se assim num
instrumento de dominação, de castração, de opressão...
Daqui a cem anos os pecados serão outros... se ainda houver pecados!
Daqui a cem anos os pecados serão outros... se ainda houver pecados!
É isso!
---
Por: Iba Mendes (Agosto, 2016)
Notei algo sobre esses estatutos doutrinários dos evangélicos com o passar do tempo, eles não precisam fazer sentido para existirem, estes não vêm da Bíblia, mas do projeto de ter uma marca pra sua Igreja, logo após escolherem as sua "marcas" eles procuram uma desculpa qualquer na Bília.
ResponderExcluirNão costumo comentar muito nesse blog- em blog nenhum pra ser honesto-, e nesse post gostaria de agradecer por o manter de pé sempre. Com o passar dos anos fui conhecendo muitos blogs de excelente qualidade, e com pouca visibilidade (por motivos óbvios, e o seu é um desses.
"É isto!"