Luiz Felipe Pondé, grosso modo...
Dentre os muitos "formadores
de opinião" que ganharam destaque com o advento da Internet, especialmente
das chamadas "redes sociais", Luiz Felipe Pondé parece desvirtuar-se daquele
tipo caricato, tipicamente de Esquerda e que se reproduz em série nas grandes
universidades.
No que se diz respeito aos grandes temas que norteiam a
sociedade brasileira, tem demonstrado em seus escritos e em suas entrevistas
uma certa independência que lhe tem rendido o rótulo de "filósofo da
Direita", notadamente por suas posições, digamos, "mais conservadoras".
Conforme ele mesmo escreveu em "Contra um Mundo Melhor": "Em matéria de sentido, prefiro os
antigos: Deus, a fidelidade, a castidade, a culpa, a disciplina, a família, o
medo, Shakespeare, a Bíblia, a Ilíada. Rejeito todos os novos sentidos: a democracia
como religião moderna, a revolução sexual, que não passa de puro marketing de
comportamento (continuamos a mentir sobre o sexo e a ser infelizes), a
sustentabilidade (nova grife para o ambientalismo), a cidadania, a igualdade
entre os homens, uma alimentação balanceada, o fascismo dos direitos humanos, enfim,
tudo o que os idiotas contemporâneos cultuam em seu grande cotidiano".
Outro aspecto que se pode realçar
em Pondé refere-se a sua postura "politicamente incorreta", com a
qual aborda temas polêmicos sem se preocupar em afrontar os dogmas acadêmicos
dominantes, por exemplo, quando trata de religião, política, família, mulher,
sexo etc. Sobre este último assunto, travou polêmica ao afirmar numa entrevista
que o "Viagra fez mais pelos humanos que o marxismo"...
Grosso modo, fazendo uso de um
jargão comum do próprio filósofo, se tivesse de defini-lo numa expressão, o
denominaria de "realista utópico". Se por um lado ele escancara as
relações humanas na sua essência "desumana", isto é, sem a máscara dos
ideais historicamente construídos, por outro exagera na formulação de conceitos
sobre comportamentos sociais, acoplando-os, em alguns casos, em pressupostos darwinistas, os quais embora tenham lá uma estética
de certo modo até admirável, não podem ser postos à prova num tubo de ensaio. Em "Filosofia para corajosos",
afirmou: "Aprecio muito o darwinismo, entre outras razões,
porque considero o Alto Paleolítico (cerca de 30 mil anos atrás) o período
áureo da humanidade. Éramos poucos, com uma logística leve, sem luxos e
organizações políticas complexas, conhecíamos muito mais nossas necessidades, e
éramos muito mais ágeis do que esses macacos que babam em cima das tecnologias
da informação. E nossas crianças eram muito mais inteligentes. E nossas mulheres
menos histéricas. E os homens menos mesquinhos." Se já é complicado tentar reconstruir acontecimentos
históricos mais recentes, o que se dirá de eventos que supostamente teriam
ocorridos há milhões de anos e para os quais apenas temos resquícios
arqueológicos e muita imaginação!...
Porém entre virtudes e vícios,
Pondé tem a rara característica de não pensar o que todos pensam, em ponderar com
certa coragem sobre temas intocáveis das relações humanas, em não incorporar aos
seus conceitos as fórmulas prontas do pensamento filosófico dominante da elite
intelectual brasileira; enfim, pode-se até discutir a profundidade de suas
ideias, pode-se também questionar o caráter mercadológico delas, mas isso em si não diminui sua importância num
cenário filosófico dominado pelo monótono, pelo unilateral e pelo politicamente
correto.
É isso!
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Por: Iba Mendes (São Paulo, fevereiro de 2017)
Por: Iba Mendes (São Paulo, fevereiro de 2017)
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