4/24/2017

A lágrima, de Lord Byron

A lágrima
De: Lord Byron
Tradução: M. B. Fontenelle

O lacrimarum fons, tenero sacros
Ducentium ortus ex animo; quater
Felix! in imo qui scatentem
Pectore te, pia Nimpha, sensit. 
GRAY.

I
Se há em nós simpatia,
Que nos mova amizade
Ou amor, — soe dizê-lo um olhar;
Mas o olhar nos mentia!
Diz o riso a verdade?
Só uma lágrima a pode expressar.

II
Muitas vezes o riso
É do hipócrita um meio,
Com que o ódio mascara ou o temor;
Antes quero um conciso
Ai de trêmulo seio,
Que uma lágrima orvalha — qual flor.

III
Bom sinal é ter n'alma
Compaixão, caridade;
É o mais belo louvor dos mortais!
E alcançais essa palma,
Só á viuvez, à orfandade,
À desgraça uma lágrima dais.

IV
O que aos mares se afoita,
Se em montões vendo as vagas
Sob alguma receia ficar,
Ao tufão que o açoita
Depõe n'asa mil pragas,
Porém manda uma lágrima ao mar.

V
Corre ao campo o soldado,
Corre —  a glória por norte —
Sobre o imigo a colher um laurel;
Mas o imigo prostrado
Ei-lo abraça, — e da morte
Co'uma lágrima adoça-lhe o fel!

VI
E se a justa ufania
Para ao pé de sua amada
Tão romântico assim o conduz,
Então bem se extasia
De colher na rosada
Face a lágrima que alva aí reluz.

VII
Sítio em que eu vivi moço!
Da amizade e franqueza
Mansão doce, mansão d'áureo amor!
Sabes d'alma o alvoroço
Quando disse-te, presa
A uma lágrima, o adeus de sua dor?

VIII
Bem que agora um só voto
Não mais vá de meu peito
Ao daquela a quem já tanto amei,
Sempre lembro-me e noto
Que os que outrora lhe hei feito
Co'uma lágrima dela os c'roei.

IX
De outro embora, ditosa
Viva a ingrata Maria;
Sei-lhe ainda a lembrança adorar:
Bem que foi-me enganosa,
Sei chorá-la; e em vão ria,
Co’uma lágrima a sei perdoar.

X
Meus amigos queridos,
Dentre vós me apartando,
Uma esp’rança me anima, e me diz:
“Sereis inda reunidos!
Vosso adeus é chorando?
Dai a lágrima ao encontro feliz!”

XI
Quando houver meu esp’ríto
Voado às plagas da noite,
E o meu corpo na cova jazer,
Oh! ter-me-ei por bendito
Sê no pó, que o Euro açoite,
Quem derrame uma lágrima houver.

XII
Não me erijam moimento
Pela mão da vaidade!
Não carece o meu nome asas tais
Para ao teu firmamento
Voar, Celebridade!
Uma lágrima eleva-me assaz. 

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