4/20/2017

Como dorme?!..., de Lord Byron

Como dorme?!...
De: Lord Byron
Tradução: J. de Aboim

Como dorme?! Que desejo!...
Dou-lhe um beijo?
É loucura não... não dou.
Como dorme sossegada
Isolada!
Acordá-las?... Não, não vou.

Secas folhas tem por leito,
Arfa o peito
De a ver tão bela... ali!
Em seus lábios num sorriso
Indeciso
Um Éden d’amor já vi!...

Ela dome!... Vem a aragem
Da folhagem
Suas faces refrescar;
Ela dorme... Vem as aves
Mais suaves
Seu dormir acalentar!...

Ela dorme... Vem um rio
Num desvio
Junto dela refluir:
Ela dorme sossegada!
Inspirada!
Tem paz no seu dormir!...

Como dorme?!... Como é belo
E singelo
O aéreo traje seu!
Todo de linho nevado -
Desatado
Ondulante como um véu!

Linda mão tem sobre o peito
O seu leito
Range com seu respirar...
A outra... vai indolente
Tristemente
Sobre as folhas repousar.

Secas folhas se despegam
E sossegam
Sobre o seu corpo gentil:
Os olhos têm-nos fechados
E cortados
Por veias de puro anil.

O cabelo é todo louro
Como o ouro
Derretido no crisol;
Ela dorme... O arvoredo
O segredo
Deste sono oculta ao sol...

Ela dorme... sossegado,
Compassado
Lhe é do peito o doce arfar.
Por seu braço, pura neve,
Desce leve
Véu azul a ondular!...

Como dorme?!... Que desejo...
Dou-lhe um beijo?...
É loucura, não... não dou.
Como dorme sossegada!
Isolada!
Acordá-la? Não... não vou.

Dentre os lábios, num sorriso
Lhe diviso
Alvos dentes a fulgir!...
Uma voz entrecortada
E pausada
De seus lábios quis ouvir...

Oh, foi sonho! Esse belo
Meu anelo
Só cumpre em meu sonhar!...
E, demais, os meus amores
Nem às flores
flores, ousei contar!...

Ilusão... que?! um suspiro?!...
Eu deliro?...
D’alma não é: não ouvi...
E se é d'alma, longe Voa
Vai à-toa
De certo não é para mi’!...

Inda o sonho!... Meus ouvidos
Iludidos...
É verdade?... Não será.
O meu nome em lábios dela
Deus!... é ela!...
Que um novo mundo me dá.

Enlouqueço... Que harmonia,
Que poesia!
Batia-lhe o coração
E na voz dizia “amores
São as flores
Que tem pouca duração!”

Com seu braço torneado
Descansado
Leve o véu quis afastar;
E no seio pura neve
Pousa leve
Folha seca balouçar!...

O seu traje voluptuoso
Preguiçoso
Afastou seu lindo pé.
Que beleza peregrina!
Que divina
Oh! que mulher que ela é!...

Duvidosa cor da aurora
Que descora
Em longes de carmesim!...
Assim a meia de seda
Sobre treda
Da botinha de Cetim!

De joelhos te agradeço!
Não esqueço
O teu sonho, eu bem ouvi...
Estou louco, sim, quisera
“Se eu pudera
Ocultá-lo mesmo a ti!...

Abriu os olhos... pausadas,
Sossegadas,
Vi-lhe as pálpebras subir;
E depois eu vi dormentes,
Indolentes,
Duas pestanas cair!

Dorme ainda!... Que desejo...
Dou-lhe um beijo?...
Sou amado... Não... não dou
Dorme, dorme sossegada;
Minha amada
Acordar-te... Não... não vou!

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