5/25/2017

Anatole France por Maria Amália Vaz de Carvalho

Anatole France

Publicado originalmente em 1896, (In: "Pelo Mundo Fora"), pela escritora portuguesa Maria Amália Vaz de Carvalho.  Pesquisa, transcrição e atualização ortográfica  de Iba Mendes (2016) 
I
Conhece porventura o leitor este mestre do estilo, que é francês e moderno, e podia ser grego e antigo?...
Conhece este discípulo de Renan, discípulo que dispõe de mais liberdade moral e de mais fogo juvenil que o seu querido e respeitado mestre? 
Anatole France é, como Renan, um charmeur, mas é mais do que ele ― um voluptuoso.

A sua filosofia, mais Renanesca do que Hegeliana, move-se fantasiosamente em um universo de ilusões. 
E as fúlgidas imagens, sempre renovadas, da sua esplêndida imaginação, reveste-as uma melancolia deliciosa e mórbida, como se ele as evocasse com a consciência de que lhe mentiam, e as adorasse perdidamente, mesmo depois de as saber fugitivas, falsas, efêmeras... 
Um dos melhores livros que ele tem escrito, e cujas edições se multiplicam com espantosa rapidez ― apesar dele o ter no pensamento dedicado aos delicados, aos happy few de que fala desdenhosamente Stendhal ― chama-se Taïs
Taïs é uma lenda dourada dos primeiros séculos cristãos, que entre parêntesis estão sendo apetecível mina de estudos literários, de poesias, de erudição e de arte.

Tem o livro como personagens principais Pafnúcio, um anacoreta da Tebaida, de carne mortificada pelos longos jejuns, flagelada pelos duros cilícios, curtida pelos sóis causticantes do deserto, amachucada nas caminhadas extenuantes por sobre as penhas bravas e os quentes areais ― e Taïs, uma gloriosa e aplaudida atriz de Alexandria, bela como Vênus, e inteligente como Aspásia, e prodiga de afagos como as duas, em que esplendidamente se encarnara para enlouquecer e perder os homens. 
Pafnúcio construíra nas margens do verde Nilo uma pobre cabana feita de ramos de árvores e de lodo amassado. 
Vivia ali na penitência e na castidade; na contemplação e no ascetismo. Obedeciam-lhe e amavam-no as feras do deserto; legiões de anjos, belos como adolescentes gregos, visitavam-no de vez em quando na sua Tebaida escondida; os demônios, com figuras de animais imundos, vagavam uivando em torno dele e dos solitários que aqui e ali tinham escolhido para morada o deserto ― e tentavam em vão os santos ascetas. 
Quando eles iam de manhã encher as suas bilhas do barro ao poço que os dessedentava, viam as patas dos sátiros e dos faunos travessos impressas na movediça areia. 
Considerada sob o seu verdadeiro aspecto, a Tebaida era um campo de batalha, onde se travavam a toda a hora, e especialmente de noite, os maravilhosos combates do inferno e do céu. 
Mas tão profunda era a virtude desses santos cenobitas que submetia ao seu poder as próprias feras. 
Quando um solitário estava para morrer, vinha um leão abrir-lhe a cova com as garras. O santo homem, logo que conhecia por este sinal que Deus o chamava a si, ia beijar uma por uma as faces de todos os seus irmãos espirituais. 
Depois deitava-se sereno e calmo e adormecia no seio do Senhor. 
Esta descrição do Deserto e das suas maravilhas, do ascetismo e das suas visões, da Tebaida e dos alucinados combates que aí as paixões humanas travavam com a perfeição ideal, todo este simbolismo humano e compreensível está traçado com mão de mestre. 
Parece nos seus lineamentos visíveis a pintura de um primitivo, tanto é certo que só o extremo requinte na Arte sabe traduzir bem a inefável simplicidade. 
Pafnúcio nascera em Alexandria, de pais nobres, e fora por eles instruído na delícia das profanas letras. Era de muito longe que ele tivera de partir, para chegar à perfeição santíssima da sua vida de anacoreta cristão. 
Um dia, porém, lembrou-se por sua desgraça espiritual, ou por seu aperfeiçoamento superior, que tinha conhecido em Alexandria uma formosa atriz chamada Taïs. 
Tão bela como a mais bela das suas visões esplêndidas do Paraíso e condenada à eternidade das penas, à perdição infernal, à ignorância absoluta do bem!...

Conhecê-la, lembrar-se nitidamente dela e não a salvar, não tentar salvá-la ao menos!...

Pafnúcio não pôde submeter-se a esta dura lei. 
Deixa, pois, o deserto, procura a cidade faustosa e tentadora onde Taïs fazia as delícias e a admiração do povo, e vai arrancar ao inferno a sua presa deslumbrante.

É necessário fazer notar que ainda bem Pafnúcio não começara a premeditar esta santa empresa, já os demônios que em figuras de chacais costumavam uivar lamentosamente em torno de sua cabana, sem contudo lhe penetrarem pela porta sempre aberta, se permitiram entrar por ela dentro, deitando-se perto dele, familiarmente, como amigos velhos. Que encontrariam os demônios na alma do velho cenobita para assim procederem?... 
A graça irônica, a comoção subtil com que estes quadros são traçados, podem ser indicados pelo comentador, mas não podem ser fielmente traduzidos por ele.

Ao pé do altivo asceta, que julga ter dentro de si força que baste a dominar as inomináveis, as onipotentes paixões humanas, e se considera com direito de desafiar o Pecado e de o vencer, há uma encantadora figura de frade laborioso e simples, que nem chega a odiar o Mal, porque lhe ignora os requintes tentadores, e que cultiva no deserto um pequenino jardim e uma horta em miniatura, aceitando o amável convívio dos bichos e dos passarinhos, envolvendo no mesmo amor humilde e doce a vasta natureza cheia de graças e de assombros. 
As gazelas vêm apoiar a fina cabeça inquieta nos joelhos do santo: as figueiras que ele trata dão grandes figos cheios de néctar cuja contemplação é para ele um regalo inocente. 
Este bom homem dá de conselho ao orgulhoso apostolo que se deixe de tanto zelo, pois que, vista a impossibilidade em que a gente está de emendar o mundo, mais vale emendar-se a si próprio de todos os pecados até daquele que consiste em se julgar impecável. 
Mas Pafnúcio não o quer de forma alguma atender; isto, seja dito de passagem, com alegria dos chacais seus inimigos antigos e agora seus inoportunos familiares.

***

Põe-se, portanto, a caminho. Vestido tão somente de um longo cilício, ei-lo que se dirige para o Nilo ― no desígnio de seguir a pé a margem líbica até à cidade fundada por Alexandre. 
Que deliciosa a narração desta romaria, feita pela língua de ouro de Anatole France! Há frases que cantam no ouvido como uma flauta da Jônia!... Há imagens que se desdobram diante de nós como uma evocação de magia! 
Nem a tradução literal poderia fazer pressentir o encanto rítmico, embalador, quase mórbido, de requintado que é, deste estilo em que as palavras se harmonizam em um concerto ideal, para formarem a mais suave, e subtil, e sugestiva das músicas. 
E enquanto assim se encaminha para Alexandria, Pafnúcio foge das cidades e das aldeias; tem medo de encontrar crianças a brincar na soleira das portas, mulheres paradas à beira das cisternas, sorrindo cariciosamente ao peregrino que passava, como a Nosso Senhor a Samaritana já sorrira. 
Quando, ao entardecer, a aragem passava nos tamarindos em flor, o sombrio apostolo puxava para o rosto o seu capuz escuro, tal era o receio que sentia de enternecer-se diante da beleza inefável, do divino mistério das cousas... 
Viu uma enorme esfinge egípcia talhada no rochedo de granito e obrigou-a a confessar o Santo Nome de Jesus Cristo. Encontrou um eremita búdico, todo nu, de barba branca a flutuar-lhe em ondas no peito curtido ao sol, e, depois de lhe ouvir a confissão do seu niilismo absoluto, depois de lhe escutar as blasfêmias de um ceticismo sem fim, ainda tentou convertê-lo à fé profunda que lhe abrasava o coração. 
A paisagem luminosa e estranha desentranhava-se em maravilhas; o ibis misterioso e hierático retratava no líquido espelho do rio o seu longo pescoço cor de rosa pálido; os salgueiros agitavam a múrmura folhagem argêntea; as cegonhas voavam no céu claro; e nos canaviais da margem escutava-se o grito de outras aves aquáticas. 
O vale perdia-se ao longe em ondulações verdes; as águas palpitavam como um seio de virgem; a seiva, a vida, a fecundidade, o amor fremente e criador parecia pulular em tudo, em tudo... 
Pafnúcio, porém, só pensava na cortesã esbelta e branca, de braços cor de lírio e olhos cor de violeta, que em Alexandria representava as traições de Helena, os delírios de Fedra, o sacrifício da cândida Efigênia, ante uma turba delirante, que a sua beleza embriagava e perdia... 
II
A primeira vez que, em Alexandria, Pafnúcio avista Taïs é no teatro em que ela representava a imolação de Polixena.

Tal contra a linda moça Polixena
Consolação extrema da mãe velha
Porque a sombra de Aquiles a condena
Co'o ferro o duro Firro se aparelha...

Não se lembram do nosso Camões? Era justamente esse lance da epopeia homérica que Taïs traduzia pela mímica expressiva e perfeita, a qual, na decadência da Arte antiga, supria agora na cena, viúva dos seus grandes mestres de outrora, a alada, a divina poesia de Eurípedes e de Menandro. Taïs altiva e doce apareceu ao austero monge dando-lhe, como dava a todos que a contemplavam “o trágico estremecimento da sua fatal beleza.” 
Segue-se então a luta travada entre o asceta e todas as seduções pagãs que circundavam a cortesã esplêndida, para converter esta à religião dos pobres, dos miseráveis e dos simples. 
Taïs fora iniciada em pequenina por um escravo negro da Núbia, chamado Amés, nessa religião que reveste de tão voluptuosas delícias o sacrifício e a dor.

Tinha-a mesmo batizado, em uma época de perseguições e de angústias, o bispo proscrito de Cireno, que pela Igreja sofrera os mais horrendos martírios.

E toda a dulcíssima e piedosa lenda evangélica lhe fora contada baixinho, pela voz queixosa e cantante do mísero escravo negro, quando Taïs, maltratada pelos pais, sem teto carinhoso que lhe abrigasse o corpinho infantil, torturado de açoites, ia deitar-se à noite a um canto do estabulo, entre animais domésticos, com Amés perto dela ― sentado sobre os calcanhares, as pernas dobradas, o busto direito na altitude hereditária da sua raça, e o rosto negro banhado naquela divina luz de esperança e de misericórdia com que a estrela de Belém tem, durante dezenove séculos, inundado, casta e divina, os deserdados de todo o bem terrestre. 
Portanto, não a espantou em excesso a aparição do monge, depois de uma vida consagrada ao prazer, que lhe dera o tédio sem lhe dar a felicidade. 
Só um momento, durante esses vinte anos de embriaguez hiper-aguda, ela conhecera a efêmera felicidade de amar. As lágrimas que chorou tinham tido para a pobre um sabor acre e doce ao mesmo tempo. Nesse amor encontrara tudo ― até a perdida inocência e a divina puerilidade da sua fé. A bela cortesã de Alexandria realizara o delicioso pensamento do poeta, e também ela, como a Marion dos perdidos amores, podia repetir exultante:
Et l'amour m'a refait une virginité

Mas súbito esse homem, que de todos lhe parecera diverso, apareceu-lhe tal como os outros todos, e ela fugiu espavorida, para não ver mais a imagem da sua ilusão que se partira. 
Conheceu depois a glória, os aplausos, os entusiasmos, as adorações febris, que duravam uma hora e que se tinham julgado eternas. 
Por ela os filósofos se fizeram crianças crédulas; os voluptuosos tiveram a coragem do suicídio; deram-lhe tesouros os avarentos; lágrimas, os egoístas; os poetas chamaram-lhe a sua Musa; os políticos esqueceram, para se demorarem aos seus pés, o bem dos Estados e os requintes que há no prazer do mando. 
E Taïs, indiferente a todos e com todos brincando cruelmente, conservava no fundo da sua alma a recordação indistinta e vaga desse mundo misterioso de que lhe tinham revelado o encanto. 
Supersticiosa e cheia de ânsia indefinida, tinha a sede atormentadora do desconhecido, a que faz as santas, as arrependidas sublimes, e as loucas... 
Quando Pafnúcio lhe apareceu, cedeu quase que sem resistência à rude voz que a chamava para o áspero caminho dos penitentes. Para seguir o seu implacável mestre deixou os banquetes em que a aclamavam, sob os belos e poéticos nomes da poesia antiga, os homens mais opulentos e considerados da Alexandria, os poetas, os retóricos, os sacerdotes de Serapis, os dândis do tempo, preocupados como os de hoje, com a arte de amestrar belos cavalos e de enamorar belas mulheres. 
Para o seguir, deu ordem aos numerosos escravos que a serviam, que queimassem os seus tesouros de arte: os cofres de marfim, de ébano e cedro, que, entreabrindo-se, deixavam cair coroas, grinaldas, colares esplêndidos; e os seus ricos tapetes, os seus bordados de prata, as tapeçarias floridas, os leitos faustosos, os coxins macios: e as estátuas de ninfas que pareciam animadas como mortais: e o Eros ebúrneo a quem se atribuíam maravilhosas e não sabidas virtudes, e que valia o seu peso centuplicado em ouro. 
Para o seguir, desprezou os seus vestidos brilhantes; os mantos de púrpura; as sandálias de ouro; os pentes, os espelhos, as lâmpadas cinzeladas por industriosas mãos de escravos artistas; as teorbas, as liras: ― todos os instrumentos da sua sedução complicada e subtil, todas as belas cousas que representavam as recordações de uma vida de luxo, de opulência e de amor... Não a prendeu a glória de atriz estremecida; chamavam-lhe a clara estrela, a doce lua do céu alexandrino, e o rude solitário arrebatou-a falando-lhe em penitências duras e em flageladores cilícios, em lágrimas de vergonha e de amargura choradas ao pé da Cruz. 
― Mulher, dizia-lhe o monge com voz colérica, arrastando-a consigo ao longo da costa ― vê esse enorme mar azul. Nem toda a água que ele tem pode lavar as tuas manchas asquerosas! 
E enquanto ele a apostrofava com a eloquência do mais impetuoso e ardente horror, relembrando-lhe uma por uma, com minuciosidades de confessor, as ignomínias em que se perdera o seu corpo, que Deus fizera tão belo, Taïs seguia-o docilmente sob o sol abrasador, e por cima dos penhascosos caminhos, onde os seus pés nus, tão lindos, tantas vezes cobertos de beijos, se desfaziam em sangue. 
***
Todas estas páginas que contam o piedoso furor do apostolo, e a humildade inefável da pecadora arrependida, estão escritas com uma paixão acre e flamejante.

Vê-se bem que o inferno e todas as suas fúrias estão dentro desse orgulhoso coração de monge, que se julga acima do Pecado e que é vencido pela força irredutível de um Poder que ele negou. 
Taïs, não; essa arrependida e submissa é em Cristo que pensa e a sua alma anseia por desprender-se do impuro corpo, para subir, lavada em lágrimas, ao seio eternamente misericordioso do Homem Divino que perdoou à Madalena, e que não consentiu que fosse lapidada a mulher adúltera pelos que não tinham direito de a julgar. 
A última parte do livro está impregnada de uma ironia, delicada como tudo que sai da pena de Anatole France, mas destoante da opulência da cor e de estilo que inspiram as duas primeiras partes. 
Consiste toda ela na narração das penitências a que Pafnúcio se entrega logo que percebe nitidamente que o zelo que o levou a salvar Taïs conduzida por ele a um convento de mulheres ― não é tão puro nem tão desinteressado como na sua ilusão a respeito de si próprio ele supusera até ali. 
As penitências às vezes chegam a ser de um cômico voltaireano. Exemplo: a coluna no alto da qual, místico acrobata, ele se encarapitou um tão longo espaço de tempo, que em volta deste novo Simão o Stilita construiu-se uma grande cidade com todas as abominações mais ou menos legalizadas, que há sempre nos centros populosos. 
Pafnúcio dizia, porém, aos bispos e à brilhante clerezia, que atraídos pela fama da sua virtude rara, e dos milagres que ela operava sobre enfermos epilépticos, coxos, cegos, manetas etc., etc., vinham cumprimentá-lo e visitá-lo de muito longe:

 ― “Meus irmãos, a penitência que me imponho é nada em comparação das tentações que tenho, e cujo número e força me espantam. Um homem visto de fora é pequeno, e do alto da coluna a que Deus me elevou, vejo os seres humanos agitarem-se como formigas. Mas considerado interiormente, o homem é imenso; é grande como o mundo porque o contém em si... Tudo que se estende ante os meus olhos, esses mosteiros, essas casas, essas barcas sobre o rio, essas aldeias, e o que descubro ao longo de campos, de canais, de areias, de montanhas, tudo isso é nada ao pé do que eu tenho aqui dentro! Há no meu coração cidades inúmeras e desertos sem fim. E o mal, o mal e a morte estendidos por sobre essa imensidade, cobrem-na, como a noite cobre a terra. Eu sozinho contenho um Universo de pensamentos maus.” 
Falava assim, acrescenta Anatole France, porque o amor da mulher, como uma serpente, se lhe enroscara no seio. 
***

O final do livro, ou antes, a moral do livro é esta: Pressente-se a salvação da cortesã arrependida que trouxera sempre, dentro do seu corpo manchado, a saudade nostálgica do ignoto bem, a chaga aberta e sangrenta de uma aspiração insaciada ― e a perdição do apostolo orgulhoso, que dera ao seu desejo, à sua paixão terrena, a forma de um fanático proselitismo, e que tão rudemente falava às gentes do Pecado e da Virtude. 
Que quer Anatole France provar? pergunta a crítica conspícua, um pouco escandalizada desta orgia de estilo, de descrições, de paisagens, de diletantismo artístico.

Cá por mim imagino que ele não quis provar nada. 
Quis fazer divagar a sua imaginação de poeta pelos desertos onde os monges vivem penitentes e castos, e pelas cidades douradas e luxuosas onde as atrizes bebem em taças de cristal as pérolas diluídas de uma adoração voluptuosa. 
Quis levar-nos ao banquete do opulento pagador das esquadras de Alexandria, onde filósofos e poetas discreteiam com a elegância e o requinte da civilização de Bizâncio. Quis fazer-nos penetrar na alma de uma louca mulher daquele tempo, tão bela que, em ela entrando na sala do festim, coberta de flores naturais, parecia emprestar a estas a sua vida e receber delas o mimo, a frescura o encanto virginal. 
Quis ― é este o sentido profundo e filosófico do seu livro ― dizer-nos que às vezes os que apresentam mais austera virtude são os que trazem mais serpentes venenosas no coração farisaico, incapaz de indulgência e de perdão, e que o arrependimento, quando é sincero, humilde, e parte de uma alma sedenta do infinito e capaz de o conter em si, pode resgatar grandes erros e lavar na fonte cristalina das suas lágrimas, muita nodoa de que o mundo, o impecável mundo, costuma fugir enojado e austero... 

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