José Américo de Almeida: como me tornei escritor brasileiro
Texto escrito por José Américo de Almeida e publicado em 1928. Pesquisa, transcrição e atualização ortográfica de Iba Mendes (2017)
Lendo os escritores estrangeiros (E note-se que detesto o paradoxo, a ironia e
todas as deformações de sentido). Lendo e pensando no Brasil. Lendo e
comparando. Era ver a descrição de uma paisagem exótica, vinham-me à ideia as
nossas paisagens. Achava logo a diferença. Para fixar traços diferenciais não
há como pôr uma coisa defronte da outra.
E assim os
costumes, as paixões, etc.
Quis adotar
o mesmo método no cinema, mas o cinema tem pouca variedade. E a arte dos
diretores. Só os quadros noturnos servem de pontos de diferenciação.
É um
processo pouco original porque muita gente já tem dito que só faz por conhecer
países estrangeiros para ficar amando cada vez mais o seu país. Mas dá certo, a
menos que o sujeito não tenha senso objetivo nenhum nem discernimento. Ou seja
daqueles que, cuidando estarem pensando no Brasil, estão pensando é na Grécia
antiga ou no mundo da lua.
O método é,
porém, de aplicação dificílima. Quem se acha embebido em obra-prima da estranja
não tem nenhuma vontade de alternar a atenção, desse modo, porque perde o fio
da leitura, perde o tempo e perde ainda mais se, por isso, se tornar
nacionalista...
E para ser
escritor brasileiro ainda me faltava escrever em brasileiro.
Ora, eu
nasci num tempo em que ainda se falava português no Brasil.
Inventei,
assim, outro sistema: ler os clássicos (porque não posso deixar de ler
Bernardes, frei Luís de Sousa etc.) por cima, como quem está traduzindo,
fazendo de conta que é castelhano, procurando apenas o sentido.
(Língua pega
como visgo). Não sei se dará resultado. Mas o diabo é que, além das palavras,
não acho nada nos clássicos...
Paraíba do Norte, 1928.
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