10/26/2017

Soneira brava (Conto), de Valdomiro Silveira


Soneira brava

Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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A Lidubina abriu um xale no ombro, pegou o chapéu de sol, um que é cor de rosa e tem rendas nas pontas, e saiu. Ventava por demais, porque vinha chegando mesmo o tempo dos frios. A Lidubina, toda receosa e vergonhosa, ora punha o chapéu de sol por diante, ora segurava co’as duas mãos os lados da saia: nesses momentos o xale dava de cair, e ela não sabia ao certo se havia de atender ao xale ou à saia.

Era hora de jantar de cedo. Adonde então se atirava tão linda criatura? Adonde! Pois adonde podia ser? Lá pros lados das pedras, por ter notícia que seu galheiro, o Nicolau das Brotas, andava fazendo pé de alferes a uma tal abobrinha, rapariga de compridas histórias que estava na ponta, por ser nova e conhecer feitiçarias, segundo metade do povo afiançava. A Lidubina era moça do Nicolau, toda a gente não desconhecia: como então o Nicolau tinha corage de fazer uma beleza assim de chá de canela?

Levava pressa, ia quase correndo. A umas par de mulheres que encontrava na rua e lhe davam adeus, só respondia à saudação e pedia pelo amor de Deus que não a estrovassem, que não a estrovassem. As mulheres ficavam c’a pedra no sapato, pois bicho pra ter curiosiadade como mulher até não há na terra –, e principiavam a reparar no rumo que a Lidubina tomava. E de pouco em pouco foi-se engrossando o terno das tais, até o ponto de serem umas quinze, que também ganhavam a direção das pedras.

A viage era curta, a Lidubina chegou logo. Fez chão na linha da mandingueira. A chamada Abobrinha morava no alto, na última casa, onde esteve, não faz muito tempo, a Cesara. Era dia de domingo, e o povo estava duro pelo caminho. A Lidubina não punha atenção no povo, nem olhava pra trás: ia só c’os olhos acesos naquela casa amaldiçoada. Foi chegar, meu dito, meu feito! – e ver já o Nicolau sentado num tamborete a par c’a tiriba, numa prosa cerrada.

A Lidubina apareceu à porta, salvou a todos, com toda a cortesia, porque ela é mesmo ûa morena de sola e vira pra essas coisas, e pediu um particular ao Nicolau. O Nicolau não tinha altura, de tão passado; não achou resposta pra dar à companheira: só sim saiu pra um lado, conversou lá suas conversas c’a Lidubina, e voltou pra campear o chapéu na varanda. Trouxe o chapéu, despidiu-se dos mais, e garrou estrada junto c’a Lidubina. A Abobrinha nem piou.

Quando chegaram ao rancho, a Lidubina falou estas poucas palavras ao Nicolau:

Nicolau, você teve muita moda pra me seduzir e me deixar neste estado; agora esquece de mim p’r amór de as outras... Apesar de tudo eu não me queixo: se eu tivesse cabeça, não tinha largado meus parentes por seu respeito. E agora, que vejo que você não soube reconhecer o que eu fiz, vou-me embora, mas porém não quero sair escondida e fugida como saí da casa da minha gente.

Como o xale se lhe via mesmo no ombro, afastou-se, depois de encostar à parede da frente o chapéu de sol, que era um presente do Nicolau. Afastou-se, afastou-se, desapareceu na volta da rua.

O Nicolau das brotas murchou de repente: ficou, mal comparando, que nem boi alongado no ermo, assim que o sol vai entrando.

É de rezão falarem que a gente só sabe o bem que possui, depois que o perde: o Nicolau não gostou nem um pouco daquele abandono. Espairecia a princípio, rindo e folgando co’a Abobrinha, que era uma formiga saracutinga, de tão alegre e buliçosa; divertia-se, aos domingos e dias santos, em ir a um pavoeiro na mata do Bernardino, escuitando a berraria dos pavões e espichando-lhes fumaça, a todo o risco; trabalhador como sempre foi, de dia andava esquecido no serviço de oficina de carpinteiro, e estava tudo direito: mas assim que a barra do dia começava a sumir no encontro do céu co’a cabeça dos espigões, o pobre vinha sentar-se à porta da casa, matutando nas suas tristuras, encarangado como se sofresse grande frio.

Já se ia arrependendo das asneiras que tinha feito p’r amór de a Abobrinha: um homem que tem sua companhia e sente sangue aqui, não se enleva sem mais aquela c’uma ventena do facho. Mas bem se diz que se eu soubesse sempre anda atrás: agora, que a Lidubina cansara de aturar semelhante traidoria e o deixara duma vez, pegou às voltas c’o remorso. Remorso fora do tempo, vindo tarde e a más horas, que só lhe servia pra aumentar mais a dor da separação.

Largou a abobrinha de cabo a rasto: arre! Que pra fazer figura triste não é que um filho de Deus vem ao mundo! Largou-a, fechou-se consigo mesmo, não campeou mais conversa nem treta com pessoa alguma, senão pra receber ou entregar qualquer serviço, agarrou-se c’o Jesus Menino e c’a Virge Maria, dos quais era muito devoto, rogando-lhes, de quanto jeito havia, fizessem que a Lidubina voltasse. Mal e mal, sempre escrevia coisinha: rabiscou umas orações esquisitas, que aprendera com seu Galdino, por esta maneira: − Senhor Jesus Menino, determinai que aquela ingrata volte pra minha companhia! Santa Virge Maria, intercedei junto de Deus por mim! – este peditório era feito três vezes em seguida, c’as mesmas palavras. Outro papel trazia a promessa de dar duas velas pro altar do Senhor Menino e uma reza da Virge, se lhe saísse o desejo realizado.

Transformou-se, o Nicolau das brotas: de muita graxa que tinha, ficou chupado das bochechas e do cangote, desmereceu dum modo que nem que tivesse estado doente. Chegou a ponto, uma vez, de passar certa mulher por perto dele e dizer: − seu Nicolau, não foi à toa que eu lhe falei que não mexesse tanto pra aquelas bibocas da Guamixama, que há lugares ali bem maleiteiros. O resultado mecê ‘tá vendo! – ele ameaçou um sorriso, como resposta, mas o sorriso saiu amarelo e desconsolado. E a tal dona deu de contar a quanta gente havia que, se o Nicolau não bebesse raiz de tomba ou de maricá e não comesse uns dois quilos de sulfato, rodava pela água abaixo.

O freguês principiou a rondar as vizinhanças da Lidubina, dia e noite: disfarçava como quem estivesse a procurar um morador da rua, um morador que sumira por tal forma que nunca mais podia ser encontrado. Ora, nesse pedaço de tempo o Zeca Lorindo, moço de peito e presença, enfeitiçou-se pela cabocla. O Zeca Lorindo é um sujeito que não tem medo de tomar um compromisso, por maior que seja, porque sabe que se desenleia com facilidade. Tirar a Lidubina era uma coisa, a bem dizer, impossível, porque ela não havia de querer outra vez cair no mesmo laço; atirou o anzol, mas a isca voltou sem nenhum belisco; botou contas à vida, remexeu na cabeça, pôs o dedo no queixo, um dia, pensou, pensou – e assentou de casar. Falassem, dissessem dele o diabo, nada lhe importariam as prosas do mundo, pois não vivia almoçando e jantando na mesa dos mais. Afinal... E aquilo ficou mesmo, lá na cachola do manata, firme que nem rocha de pedra.

Se bonito cuidou, mais bonito contou. A vila inteira foi logo senhora da notícia que Zeca Lorindo ia mandar seo promotor notar uma carta pedindo casamento pra Lidubina. Uns intentavam trelar co’a nova, cortar na casaca do outro murmurando: e na horinha barganhavam de tenção, só de se lembrarem que o tal, sabendo dos cortes, não cochilaria pra se desobrigar. Paga a pena ser moço de respeito assim! Até essas velhas gaiteiras, que só vivem de casa em casa bulindo c’os segredos alheios, não tinham ânimo de se ocuparem do nome dele!

Assim que chegou aos ouvidos dos pais da lidunbina aquele rumor, foi um festão pros pobres dos velhos: achavam que o Zeca Lorindo estava nas condições de fazer uma linda vida co’a rapariga, arranjaram seus planos, trataram de ajuntar umas economias pro divertimento, puseram-se em dia c’os serviços atrasados, a fim de os serviços renderem algum pouco, e esperaram a carta. A carta não tardou: receberam-na um dia de sábado, ali pela boca da noite, levada pelo pai do dito moço, escrita c’ûa mão de pena boa que dava gosto. Só a Lidubina mesmo era quem lia por cima, de todos da familiage: foi ela, pois, quem leu as letras. No fim os velhos falaram que ali a pessoa mais interessada acabara de ver o pedido; por isso que respondesse bocalmente. A Lidubina foi até a varanda, apegou-se um instante co’a Senhora Aparecida, e veio c’o sim na ponta dos beiços.

Houve um barulhão na vila. A mó’ que sempre que ûa moça vai casar todas as outras têm um defeito pra pôr na noiva: assim aconteceu, inda mais com quem! – c’uma coitada que tinha telhado de vidro! O guaiú foi bater nas orelhas do Nicolau das Brotas; não havia remédio como não batesse; ele ficou pras pontas dos dedos e, se se sentia amagoado, mais amagoado se sentiu daí por diante, quase sem juízo, a falar verdade. E uma vez se queixava de a antiga companheira o largar e se amarrar c’um estranho, houve um destrocido que se saiu com esta:

— O que, Nicolau? Você pensava antão que a Lidubina é brejo pra porco fuçar? 

Esteve em ares de enlouquecer, o Nicolau. Não enlouqueceu, de certo, porque um cristão meio avariado não tem realmente grandes esp’ritos pra perder c’os baques que a sorte lhe dá. Apenas, que depois do aludido casamento, garrou a viver uma vida diferente do resto dos homens: não queria mais saber de gente de saia, derretia-se meses e meses pelas matas e pelas furnas, rebuscando plantas e raízes de medicina − cipó-sumo, sussuauá, sessenta-feridas, cipó-caboclo, perogaia, japecangas – e virou um curador de primeira qualidade, os caçadores muitas vezes topavam na ribanceira do rio c’um vulto arcado pro chão, segurando uma faca e algum talo de erva ou algum ramo de trepadeira; aravam pra fazer que ele provasse o virado da pândega ou molhasse a garganta co’aquela aguinha que gato não bebe: tempo escusado, porque o Nicolau só se enchia de coqueiros e mel que ele mesmo derrubava ou furava, tudo mexido e comido no guatapé, e nada mais punha na boca.

Recomendava a banha da capivara pra curar essas roncuras de constipado meio estuporado; o óleo do cacho da anta pro reumatismo; a gordura do cuatí pra fazer crescer o cabelo e curar as mataduras dos animais; a enxúndia do jacu pra botar nos ouvidos, como remédio pra surdez; a carne do pica-pau chanchã pros mudos mamparem e recuperarem a voz ou aprenderem a falar; o moquém de bugio ou de mono, como fortalecente, por serem de muita sustância; os xarques da onça pintada ou saçuarana, pra esses caroços que dão no pescoço da gente, escrófulas: e um chuveiro de graxas e banhas e óleos e carnes do sertão pra diversos incômodos.

Ganhou fama. Vinha povo de longe, atraído pelo nome do Nicolau, buscar umas garrafadas que ele aprontava e eram danadas pras boubas; um vinho macota de bom pra desinchar as pernas de quem andava com hidropisia; um xarope que era um porrete pra acabar co’a catarreira dessa doença que tem aparecido, a influência: e, fosse porque mais vale a fé que o pau da barca ou porque as drogas fossem virtuosas, todos se diziam sastifeitos co’elas. Despois, o Nicolau não especulava co’as curas e c’os remédios: isso inda mais servia pra aumentar o merecimento do curador.

Um dia de sábado, remexendo o Nicolau uma capoeirinha rala que tem ali perto da Maria Alves, em procura de uma tal planta chamada traquá, que dizem ser truco-fecha pros hernes, ouviu gritarem-lhe o nome umas par de vezes, com teima e com ânsia.

 Virou-se no rumo do chamado, abaixou-se um pouco rente c’o chão, pras folhas das arvinhas não lhe estrovarem os ouvidos, e percebeu que a voz rompia da estrada-mestra da fazenda, mais ou menos por ali assim pelo café novo do Batista Severo. Saiu da capoeira, c’um dilúvio de ramos debaixo do braço direito e a faca na mão esquerda, apareceu na estrada. Nem bem botou a cara no limpo, já um cavaleiro correu de longe os garfos nas paletas da mula saina, em que estava montado, e aproximou-se à toda.

— Seu Nicolau, foi logo falando o supradito cavaleiro: venha ra vila acudir ûa mulher que ‘tá pra uma dependura, se Deus abaixo de Deus vancê não lhe der alguma volta!

— Mas quem é? − perguntou o Nicolau.

— Home, eu não sei: venho de favor, não indaguei de nada.

— Mas adonde mora a doente?

— Ela assiste ali na virada da Vila Velha pra Vila Nova.

O Nicolau matutou um instante. Não se recordava de ninguém nas condições de se ver doente morre-não-morre, pra aqueles lados, duma hora pra outra. E o recadeiro foi-lhe pedindo, já no sufragante, lhe montasse à garupa da mula, que era um raio, e daí a coisinha estariam chegando.

O curandeiro fez um maço da ramalhada, que entafulhou num saco de picuá: amarraram-no ao rabicho da mula, o curandeiro largou um pulo, sentou na garupa, e a saina descanhotou-se numa retirada de mil demônios, ligeira que nem tinha altura. 

Daquele lugar até a vila tinha quindau, não há dúvida, mas a pressa encurtou a distância: não gastaram mais que uma hora pequena pra chegar. Logo na porta da casa o Nicolau teve um estremeção, porque encontrou um homem que lhe era muito conhecido, mas muito mesmo: o Zeca Lorindo, sem mais um ponto, sem mais uma linha. E pegou a pensar e a estudar lá consigo:

— Ora quer ver que a Lidubina é que ‘tá nas últimas, ora quer ver?

Aquela ideia fazia-lhe uma dor endemoninhada: a cabo de tantos dias, de tantos meses, de tantos anos, vir topar c’a dona do seu coração no fundo duma cama, vai-não-vai! Isso era um desespero! Mas no mesmo momento dava de cuidar outras coisas: qual! Havia de ser alguma conhecida, alguma parenta do Zeca Lorindo. A Lidubina, essa inda há pouco tempo ele tinha sabido que estava residindo pros lados do Piraju, onde o Zeca abrira um cultivado, na fazenda do Douradão.

Também, graças a Deus, ninguém o conheceu na casa. Foi entrando, a pedido do próprio Zeca Lorindo, pela morada a dentro, até o quarto onde se achava a doente, quase já com pérca de fala, segundo logo lhe contaram. O quarto era pequetito, mal apenas tinha cabimento pra um catre novo, onde a Lidubina (era ela, era a Lidubina!) padecia em demasiado há quase um mês. Ele vizinhou c’o dito catre, olhou pra moça, que a mó’ que estava meia fraca do juízo, de tamanho febrão que andava tendo, e ficou distraído uma temporada, c’os olhos pregados naquele sembrante, sumido e cheio de tristeza.

Tristeza, então, foi a do Nicolau das Brotas nessa horinha! Mas não disse coisa alguma: segurou a mão da outra, estendeu-a numa das suas, pra ver o sangue que a moça inda tinha no corpo, como despois explicou, apalpou-lhe o pulso, que estava longe como aquela serra da fartura, foi o que despois disse: e abriu-lhe a boca devagarzinho, pra ver a língua, que estava seca e branca que nem o pedregulho do palmital, contou também despois.

E falou bem compassado, pra ninguém não perceber o sofrimento que ele sofria:

— Acho que esta dona ‘tá c’uma febre das fortes e c’um pleuriz daqueles mais apertados. O que é que ela tem bebido?

A dona tinha bebido muita coisa: um pozinho claro que seu Maneco Alvim perparou, pra misturar no café; um remédio de vidro que seu capitão Baltazar tinha mandado; umas pílulas que seu capitão Negrão aprontara: e, por derradeiro, quando entrou em ficar cada vez mais ruim, um vinho muito escuro e muito amargo que seu doutor Chiquinho receitou na véspera. E ficou sempre daquele jeito!

A tarde vinha caindo, serena e quieta, ver o sono duma criancinha de berço. O Nicolau encostou-se à janela do quarto, que fazia esguelha pra mata do Pio, nas terras de São Domingos, e pôs-se a olhar um montão de nuvens cor de ouro vivo que foi formando castelo em riba das árvores. Largava de olhar pra aquelas nuvens doiradas, olhava pro sol vermelho que ia afundando na lonjura dos morros: e de repente viu que lhe aparecia (não foi nada mais que uma visão) a Lidubina entre as nuvens e o sol no espaço livre, linda como os amores, vestida de branco, de chinelinhas cor de rosa, c’uma flor avermelhada no cabelo e os olhos mostrando amor.

Se ela estivesse morrendo? Aproximou-se do catre: a suspiração chegava de longe em longe, o sembrante parecia sumir cada vez mais, o nariz ficava cada vez mais fino e os olhos cada vez mais amagoados. Foi aí que ele mandou buscar o picuá, pediu que todos se retirassem, porque ninguém não podia ver o remédio que a moça tinha de beber, ele mesmo juntou uma folharada, botou numa chocolateira aquela folharada toda, e fez um chá que foi dando pra doente, de instantinho a instantinho.

Por volta das oito da noite a Lidubina puxou uma suspiração bem do fundo do peito, com todo o sossego, pendeu a cabeça pra um travesseiro menor e mais baixo, e principiou a dormir descansada que nem uma pomba rola. O Zeca Lorindo, de tresnoitado que andava, e de alegre que se viu, logo teve jeito de conciliar o sono perdido: e o Nicolau ficou fazendo quarto pra Lidubina, sozinho de tudo, lembrando coisas de rir e coisas de chorar, na viração do passado...

A primeira notícia que o Zeca Lorindo teve, na meia sombra do sono ainda ao romper da manhã, foi o próprio chamador do Nicolau das Brotas quem lhe deu:

— A sua dona sarou duma vez, patrão.

Ele não teve mão em si, correu como um louco pro quarto:

— Morreu?

— Não, seu Zeca, foi roubada.

— Como é que foi roubada, seu maldiçoado do inferno?

— Foi bem: aquele Nicolau já me contaram que é o Nicolau das Brotas: vancê não pôs reparo no home? Foi a soneira braba que voltou, despois de tanto tempo: na certeza inté levou nhá Lidubina carregada.

Um itapicuru passou por cima da casa, fazendo um barulhão desapoderado. O Zeca Lorindo trouxe pra porta do quintal a espingarda troxada alcançadeira, e disse ûa ameaça:

— Canta, filho do diabo! Canta, que eu te mato e mato por igual aquele desordeiro!

Mas o Nicolau das Brotas aprendeu, na sua vida de monge, o que faz viver e o que faz morrer, decorou rezas tiranas, tivera caborge e corage: nunca mais o Zeca Lorindo lhe pôs a vista em riba, porque ele foi pro Guaíra, mais a Lidubina, e só Deus sabe onde é que eles fizeram a arranchação perigosa, na terra da bugraria. Agora, quando se fala naqueles dois sertanistas e se toca no nome do Zeca Lorindo, não falta quem não diga:

— Quem planta na capoeira é como quem lambe osso. Capoeira é sempre capoeira, não paga o trabalho que dá...

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